Dois bons motivos para tirar aquele livro do escritor Lima Barreto da estante ?? física ou virtual: no dia 1 de novembro, ele completa 100 anos de morte, após uma vida tão produtiva quanto tumultuada; e neste sábado (29) se comemora o Dia Nacional do Livro, uma referência à fundação da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro oitocentista em que o escritor nasceu e produziu obras primas como os romances Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909) e Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911), além de contos como Nova Califórnia e O Homem que Sabia Javanês.
O escritor, que nasceu em 1888 e morreu aos 44 anos, não esteve na tão celebrada Semana de Arte Moderna de 22 ?? que este ano também comemora centenário ?? mas é uma voz tão importante quanto a de seus integrantes, tanto por inovações estéticas quanto por narrar o lado B daquele Brasil. Com língua afiada e olhar atento, discutiu questões centrais que envolviam a população suburbana e preta, recém-saída da escravidão e da qual fazia parte.
??Lima morreu há cem anos, lutando contra o racismo, o preconceito e a invisibilidade?, afirma o escritor Henrique Marques Samyn, professor do Instituto de Letras da UFRJ, que está lançando o romance Uma Temporada no Inferno (Malê| R$ 44), cujo personagem se interna para reescrever a história no hospício onde Lima Barreto esteve em dois períodos. Foi na segunda internação, entre o Natal de 1919 e fevereiro de 1920, que ele fez as anotações do Diário do Hospício, que serviram de base para o livro inacabado O Cemitério dos Vivos.
??A narrativa compila os fragmentos deixados pelo enigmático personagem, dialogando com os escritos de Lima e incorporando ampla documentação histórica, extraída de relatórios, textos científicos e periódicos da época?, destaca Samyn. O desejo de se tornar ??alguém? une seu personagem à história do próprio Lima Barreto e de suas criações, como o sonhador Major Quaresma.
O período vivido pelo autor no manicômio é também a inspiração do filme Lima Barreto, ao Terceiro Dia ?? adaptação da peça homônima de Luís Alberto de Abreu. Protagonizado pelos atores Luiz Miranda e Sidney Santiago Kuanza, o longa dirigido por Luiz Antonio Pilar tem recebido elogios por cruzar momentos distintos da vida do autor: o presente no hospício, o passado, quando escrevia Triste Fim de Policarpo Quaresma e um momento de ??ficção?, quando os personagens do livro ganham vida. O filme passou rapidamente pelo cinema aqui em Salvador, no mês passado, mas em breve, segundo Luiz Miranda, deve ir para o streaming do Canal Brasil e Globoplay.
??O Lima Barreto nos convoca a pensar como cidadãos e brasileiros responsáveis pela cidadania. Ele tinha ideias muito avançadas, é realmente um brasileiro notável?, diz Luiz, que interpreta o escritor em sua fase mais complexa, ??desestabilizado emocionalmente? e taxado de louco. Para se preparar, ele leu crônicas e romances e a biografia Lima Barreto, Triste Visionário (2017), de Lilia Schwarcz. ??Eu amo o Policarpo Quaresma, é grande fábula sobre o Brasil?, resume o ator, que deixa como dica para os iniciantes o livro Toda Crônica (Agir), organizado por Beatriz Rezende e Raquel Valência. ??Tem uma frase maravilhosa do meu personagem no filme: ??se for possível sonhem por mim, pois nesses tempos nos quais vivi não me foi permitido sonhar???.
Romance intertextual
Uma Temporada no Inferno – Romance de Henrique Marques Samyn revisita as memórias de Lima Barreto durante sua passagem por sanatório.
Lançamento da Editora Malê (120 págs| R$ 44).
Foto: Darian Dornellas/divulgação |
Russo Passapusso canta Moa do Katendê
Streaming O segundo single do álbum Moa Vive será lançado neste sábado, data em que o Mestre Moa do Katendê completaria 68 anos. Uma escolha simbólica e afetiva para celebrar a memória do artista, assassinado há quatro anos – no dia das eleições presidenciais. A canção é a inédita Nação Africana, de Moa e Waldomiro, interpretada por Russo Passapusso. Contemplado pelo Rumos Itaú Cultural, o álbum reúne nove composições inéditas de Moa, produzidas no estúdio do amigo Átila Santana, que assume a coordenação e produção musical do projeto.
De volta aos tempos do vinil
Caetano e Gil Ainda no ritmo das comemorações para Caetano Veloso e Gilberto Gil – que fizeram 80 anos este ano, a gravadora Universal disponibiliza na plataforma UMusic Store os álbuns e Expresso 2222 em vinil verde e Transa em vinil translúcido branco. Lançados em 1972, os álbuns estão completando cinco décadas como dois dos mais importantes da MPB. Expresso 2222 marca o retorno de Gil ao Brasil após um exílio de três anos em Londres. O nome do álbum foi escolhido em homenagem a um trem que o cantor pegava para sair da cidade onde morava em direção a Salvador. Gravado em 1971, em Londres, também durante o exílio de Caetano, Transa traz sete faixas e foi produzido pelo britânico Ralph Mace, com a direção musical de Jards Macalé.
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