ICMS: Bahia pode deixar de arrecadar R$ 2,5 bi em um ano, estima Sefaz

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R$ 2,5 bilhões: esse pode ser o prejuízo, em um ano, para a Bahia por causa das leis complementares 192/22 e 194/22, que limitam a 17% ou 18% a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em combustíveis, energia elétrica, transportes e telecomunicações. O cálculo foi feito pela Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz-BA), que indicou, ainda, uma perda de R$ 140 milhões apenas em julho. Aqui, por exemplo, se cobrava 28% sobre a gasolina. 

Principal fonte de arrecadação de recursos pelos estados brasileiros — cerca de 90% de sua receita própria —, o ICMS é revertido, sobretudo, em políticas públicas voltadas à educação, à saúde e à segurança. O assunto está entre as discussões promovidas por fiscais estaduais de todo o país durante a 19ª edição do Congresso Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Conafisco), iniciada no domingo (6). 

Em âmbito nacional, somadas as quantias que se deixam de embolsar, chega-se a um total de R$ 129 bilhões em um ano — R$ 32 bilhões apenas para a educação —, segundo o presidente do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda (Comsefaz), Décio Padilha, que é também secretário em Pernambuco. “O ICMS, 25%, no mínimo, vai para a educação, e 12%, no mínimo, vai para a saúde. Estamos tirando, com essa legislação, mais de R$ 40 bilhões por ano da saúde e da educação”, afirma Padilha. 

Na visão do presidente do Comsefaz, o desequilíbrio federativo tem solução, que seria a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual. “Parte desse IVA é do estado e município, e a outra parte é do governo federal”, explica Padilha. “Dessa forma, a gente consegue acabar com a centralização tributária, que está na mão da União: mais de 68% está com ela, e as obrigações constitucionais de saúde, educação e segurança estão com estados e municípios”, acrescenta. 

A proposta do IVA dual, de acordo com Décio Padilha, tem o apoio dos 27 governadores, o que a torna ‘histórica’, além de ‘moderna’. “A gente vai extinguir os tributos sobre consumo, o ICMS, PIS, Cofins, ISS. Cria-se um único tributo, que é o IVA”, detalha. 

Com as mudanças na aplicação do ICMS, ficou estabelecido que os estados receberiam compensações pela perda financeira em decorrência da menor arrecadação. Assim, os entes federativos teriam direito a descontos em parcelas de dívidas refinanciadas pela União e à apropriação da parcela da União relativa à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). 

No entanto, até agora, isso não aconteceu, e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) estendeu, até 2 de dezembro, os trabalhos da comissão que busca a conciliação. Desde agosto, representantes dos estados e do governo federal se reúnem a fim de chegar a um consenso sobre a questão.

“Eles [os estados] estão brigando no Supremo, para, pelo menos, a gente ter a possibilidade de uma transição, porque o impacto foi muito grande e rápido. De repente, os estados se viram frustrados”, revela o presidente da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), Charles Fernandes.

Ainda não se sabe se, no ano que vem, as alterações na lei serão mantidas ou se será restaurada a incidência do ICMS sobre os bens e serviços considerados essenciais e indispensáveis. “De fato, o interesse não é do governador ou da governadora; é da sociedade, que vai reclamar e vai sentir os impactos da redução dos serviços públicos”, diz Fernandes. 

Reforma tributária 

A 19ª edição do Conafisco tem como tema ‘Tributação, Justiça Social e Inovação — Por um país menos desigual’. No entanto, segundo o presidente do Fenafisco, não há uma receita pronta para isso. “O que a gente tem são experiências internacionais, um pouco de conhecimento da história”, esclarece Fernandes. 

A efeito de ilustração, Charles Fernandes menciona o cenário da fome no país, que hoje é uma realidade para mais de 30 milhões de pessoas. “O Brasil não é um país desenvolvido ou subdesenvolvido. O Brasil é um país profundamente desigual, com uma concentração de renda brutal no topo”, explica. 

Para Fernandes, o problema passa também pelo atual sistema tributário brasileiro, embora apenas sua reforma não seja suficiente para reduzir a desigualdade existente. “Ele [o sistema tributário] tem o condão de criar mecanismos que possibilitem que, a partir de determinado ponto de rendimento, o Estado tem que pegar um pedaço disso, para trazer para os cofres públicos”, indica ele como caminho para a implantação de políticas públicas. 

Com o lançamento, em 2018, do estudo Reforma Tributária Solidária, o Brasil se inseriu bo debate sobre o tema. De acordo com o líder do Fenafisco, até então, o país se limitava a discutir a simplificação do sistema. E, apesar de considerá-la necessária, Fernandes acredita que a regressividade seja o principal problema. “Ele [o sistema] onera muito mais o consumo, portanto, onera muito mais as classes que vivem no trabalho, e é muito generoso com as altas rendas”, avalia. 

Considerando que o Imposto sobre Grande Fortunas tem potencial de arrecadação de R$ 40 bilhões ao ano, a Fenafisco apresentou, entre suas propostas, alíquota de 0,5% sobre as fortunas acima de R$ 10 milhões até R$ 40 milhões; alíquota de 1% sobre as fortunas acima de R$ 40 milhões até R$ 80 milhões; e alíquota de 1,5% sobre as fortunas superiores a R$ 80 milhões. 

Somado a isso, conforme proposto pela federação, aumentar as alíquotas de Imposto de Renda para salários acima de R$ 60 mil poderia arrecadar R$ 158 bilhões — enquanto, na Dinamarca, a alíquota chega a 50%, no Brasil, chega a, no máximo, 27,5% e atinge igualmente quem ganha R$ 6 mil e quem ganha R$ 50 mil. Outra solução apresentada foi taxar o lucro e o dividendo, o que não acontece atualmente apenas no Brasil, na Letônia e na Estônia. 

Programação 

Mais do que reunir cerca de mil fiscais de todo o Brasil, o Conafisco engloba o 8º Encontro Nacional de Aposentandos, Aposentados e Pensionistas do Fisco Estadual e Distrital (Enape). O evento é fruto de uma parceria com o Sindicato dos Servidores da Fazenda do Estado (Sindsefaz) e realizado no complexo hoteleiro de Costa do Sauípe, no município de Mata de São João, região metropolitana de Salvador. As inscrições já estão encerradas.

Nessa segunda-feira (7), à tarde, por exemplo, aconteceram duas palestras voltadas ao Enape: uma sobre qualidade de vida e outra sexualidade na melhor idade. À noite, de volta ao congresso, foi aberto um espaço para a divulgação de filiados ao Fenafisco. Além disso, houve eleições para a Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal da entidade, que terá como presidente pelos próximos três anos o auditor fiscal Francelino Valença. Valença vai suceder o paraense Charles Alcantara e também presidir o Sindifisco-PE. 

Ao longo dos cinco dias de encontro, os trabalhadores do fisco debatem temas como a possibilidade de reforma do sistema tributário e os desafios da fiscalização, sonegação fiscal, a defesa da administração tributária e da justiça social e do país. Também são discutidas e deliberadas as diretrizes para o plano de ação política da entidade. O congresso conta com a presença de importantes autoridades da área tributária e econômica, e segue até esta quinta-feira (10):

8 de novembro (terça)

9h às 10h45 | Palestra: “A INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE” 

Palestrante: Wagner Greehalgh – Graduado em comunicação Social e Marketing e MBA Executivo em Logística e Distribuição 

11h às 12h45 | Palestra: “A mágica da vida –  SEM VERGONHA DE SER FELIZ” 

Palestrante: Jardel Beck – Bacharel em Administração (UFSC) e autor do livro “Relacionamento com Futuro” 

15h às 17h | Palestra temática: 

“Pós eleição: BRASIL ATUAL E FUTURO (TRIBUTAÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL E INOVAÇÃO)” 

Palestrante: Luiz Nassif – Jornalista e ganhador do prêmio Esso de Jornalismo 1987. 

17h às 18h30 | CD Ordinário  

8h às 16h | 9º Torneio Desportivo – Atividades do Dia: 

8h30 | Vôlei de Areia 

8h30 | Tênis de quadra 

9h | Truco 

9h | Sinuca 

20h às 23h | 9ª Noite de Talentos e Premiação Geral dos Sindicatos no Torneio Desportivo. 

9 de novembro (quarta)

10h15 às 12h | Lançamento do Atlas da Dívida Ativa. 

Coordenador: dirigente Fenafisco 

Palestra: “RENÚNCIAS E DÍVIDAS ATIVA ESTADUAL” 

Palestrantes: Juliano Goularti – Doutor em Economia pela Unicamp e 

Talita Alves de Messias – Doutora em História pela UNISINOS e Mestre em Economia Política pela UFRJ 

14h às 16h | Plenária Final do 19º CONAFISCO 

20h às 20h45 | Posse da Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal da Fenafisco – Triênio 2023/2025 

20h45 às 21h | Homenagens. 

21h às 24h | Festa de Encerramento com banda/baile. 

10 de novembro (quinta)

7h30 às 09h | Despedida no café da manhã 

9h às 10h | Sessão de fotos dos grupos 

10h às 12h | Checkout e retorno. 

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