Soberana, a França dominou a maioria dos adversários, empilhou gols e contou com astros em grande fase para chegar à final. Com a Argentina, foi um pouco diferente. O tropeço contra a Arábia Saudita transformou as partidas seguintes em finais, que tiveram alto grau de tensão e atuações decisivas de Messi. De lado a lado, os treinadores Didier Deschamps e Lionel Scaloni lidaram com os contextos apresentados de formas opostas. Neste domingo (18), a partir das 12h (de Brasília), encontram-se no Estádio Icônico de Lusail para definir qual estratégia merece mais o título da Copa do Mundo do Catar: a constância ou a imprevisibilidade.
Os franceses chegaram ao Oriente Médio baqueados por uma série de problemas médicos com jogadores fundamentais, como o volante Kanté, o meia Pogba e o centroavante Benzema.
Deschamps não demorou muito até encontrar a formação ideal. Já no segundo jogo, achou o time-base – com três alterações em relação ao que estreou – e passou a repeti-lo sempre que possível.
O observador mais atento saberá que a escalação provável para buscar o bicampeonato seguido tem Lloris; Koundé, Varane, Upamecano e Theo Hernández; Tchouaméni, Rabiot e Griezmann; Dembélé, Mbappé e Giroud.
A constância francesa contrasta com uma Argentina que, feito camaleão, adapta-se a cada adversário e corrige as fraquezas que a fizeram refém na derrota da estreia contra a Arábia Saudita.
Ponto de preocupação antes do Mundial, a variabilidade tática e estratégica se tornou ponto forte da Alviceleste no Catar. Scaloni não temeu as mudanças. Pelo contrário, modificou a formação do time nas seis partidas da Copa até aqui. Tentar prever a escalação para a final deste domingo é das tarefa mais árduas até para quem acompanha diariamente a seleção.
Constância da França
Logo de cara, Deschamps escolheu Tchouaméni, Rabiot e Giroud para as vagas de Kanté, Pogba e Benzema. As opções se mostraram acertadas. O trio tem se destacado no Catar e jogou sempre que esteve disponível.
A trajetória francesa, porém, teve mudanças. Apesar da goleada por 4 a 1 na estreia, a partida contra a Austrália deixou lições para a comissão técnica, que resolveu buscar soluções para um sistema defensivo que tinha sofrido mais do que deveria pelo lado direito.
“Temos coisas para melhorar. Depois, para mudar. Deixo a iniciativa do debate com vocês. Houve situações que temos que lidar melhor. Não é nada enorme, mas requer ajustes”, admitiu o técnico, na ocasião.
Deschamps então resolveu colocar Koundé e Varane nos lugares de Pavard e Konaté para o segundo jogo; Theo Hernández substituiu o irmão Lucas, cortado por lesão. E aí o time engrenou.
O triunfo por 2 a 1 sobre a Dinamarca classificou antecipadamente a França às oitavas de final e passou mais confiança ao treinador sobre a escolha dos 11 iniciais. Daí em diante, a comissão técnica só mudou a formação quando escalou reservas (na derrota por 1 a 0 para a Tunísia, que pouco valia) ou foi obrigada por questões médicas.
No total, seis jogadores iniciaram todas as partidas em que a França jogou com titulares: Tchouaméni, Mbappé, Griezmann, Lloris, Dembélé e Giroud. O número subiria para oito não fosse a virose que acometeu Rabiot e Upamecano antes da semifinal.
A escalação do jogo diante dos dinamarqueses foi utilizada nas classificações sobre Polônia, nas oitavas de final, e Inglaterra, nas quartas. Na semi diante de Marrocos, houve duas mudanças forçadas: contaminados por uma virose, Upamecano e Rabiot foram substituídos por Konaté e Fofana.
Para a grande decisão, espera-se que Deschamps mantenha a base que vem utilizando durante este mês de competição. Porém, há um fator que pode fazê-lo repensar a estratégia: Lionel Messi.
“Nosso plano anti-Messi consiste em limitar sua influência em campo a favor da Argentina. Messi tem sido incrível desde o começo da Copa do Mundo. Quatro anos atrás, ele atuou como um centroavante contra nós. Agora, ele está dividindo o ataque com um homem de referência, tendo mais liberdade para receber a bola e fazer as jogadas que sabe fazer”, analisou Deschamps, sem dar muitos detalhes do plano, obviamente.
Questões de ordem médica podem atrapalhar a estratégia do técnico atual campeão do mundo. Nesta sexta-feira (16), cinco jogadores não foram a campo no treinamento francês.
Varane, Konaté e Coman apresentaram sintomas gripais e foram preservados. As condições de Tchouaméni, com problema no quadril, e Theo Hernández, que se queixou de dores no joelho, preocupam mais. A definição sobre quem joga fica para domingo.
Imprevisibilidade da Argentina
Do outro lado da decisão, a palavra de ordem é imprevisibilidade. Antes do Mundial, eram poucas as críticas sobre a Scaloneta. A maior delas talvez fosse a falta de variações para o time que chegou ao Catar com a impressionante série de 36 partidas sem perder.
Já na estreia, a derrota por 2 a 1 diante da Arábia Saudita quebrou a sequência e fez a comissão técnica perceber a necessidade de modificar o time enquanto ainda havia tempo.
Scaloni decidiu mudar cinco peças na linha de defesa e no meio-campo – a troca no ataque, uma das mais importantes desta Copa do Mundo, ficaria para depois. A vitória sobre o México deu sobrevida ao sonho do tricampeonato, mas não satisfez o treinador. Ainda havia necessidade de mudanças.
Foram mais quatro para o último compromisso pela fase de grupos, diante da Polônia. O triunfo e a apresentação imponente contra um adversário que não conseguiu reagir serviram para os argentinos encontrarem uma base para o mata-mata.
Além disso, o jogo foi o primeiro de Enzo Fernández e Julián Álvarez como titulares. O volante virou peça fundamental do meio-campo, enquanto o centroavante chega à decisão como vice-artilheiro da competição, com quatro gols – dois deles na semifinal diante da Croácia.
Contra a Austrália, nas oitavas, Scaloni colocou Papu Gómez na vaga do lesionado Di María. Mas foi no segundo tempo a principal mudança, quando o treinador testou uma formação com três zagueiros – o terceiro desenho tático do time na competição (antes já tinha utilizado o 4-4-2 e o 4-3-3).
Deu tão certo que o formato foi mantido nas quartas contra a Holanda. Houve, porém, troca de peças. A Argentina, aliás, não repetiu a escalação em nenhum dos seis jogos da Copa. Só quatro atletas – Dibu Martínez, Otamendi, Rodrigo De Paul e Messi – foram titulares em todos.
“Quanto às mudanças, avaliamos alternativas a nosso jogo, mas não a nossa maneira de jogar”, chegou a dizer Scaloni. A declaração, na verdade, não passou de um despiste. O grande momento estrategista do comandante nesta Copa foi na semifinal contra os croatas, quando modificou profundamente a forma de o time jogar.
Desfalcada por lesões e suspensões, a Argentina retomou o sistema com quatro defensores e, ao contrário das outras partidas, viu o adversário ter a bola. Mas foi tudo calculado.
“Nós nos preparamos muito bem, porque sabíamos que eles teriam muito a bola. Sabíamos que teríamos que correr, mas que também teríamos nossas chances, porque eles se desorganizam rapidamente. Temos uma comissão técnica muito boa”, exaltou Messi, que neste domingo divide com Mbappé a capacidade de desequilibrar o duelo entre consistência e imprevisibilidade na grande decisão.
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