Reaproveitamento de resíduos deve gerar uma nova cadeia produtiva

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Agricultura, construção civil e indústria química podem se beneficiar dos resíduos da mineração

Reduzir a dependência da importação dos fertilizantes, promover a economia circular de novas matérias-primas e contribuir para a preservação do meio ambiente são alguns dos principais benefícios do reaproveitamento de resíduos da mineração, uma prática sustentável que ainda é capaz de gerar novos negócios, empregos e renda para o estado.

Nos últimos anos, a CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) tem sido a principal indutora dos debates acerca deste tema, ao promover fóruns com a presença de especialistas, empresários e poder público. O mais recente deles foi realizado em 30 de março, na sede da entidade, durante o CBPM Convida.

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O presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm, destacou a importância de se reaproveitar os resíduos da mineração (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

Na ocasião, foram apresentadas três iniciativas que demonstraram que buscar alternativas econômicas para todo o material retirado do subsolo, e não apenas o minério principal da lavra, é algo positivo economicamente.

 “Aproveitar os resíduos é fundamental para a sustentabilidade da mineração. Eu diria até que é uma obrigação de empresas e do governo se empenharem porque isso vai permitir que nossa atividade gere bem mais empregos e renda”, defendeu o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm. 

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Paulo Misk: recuperação do titânio aumentou o faturamento oriundo do vanádio (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

O engenheiro de minas e vice-presidente da FIEB (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Paulo Misk, compartilhou exemplos de sua experiência profissional no reaproveitamento de resíduos. No caso mais recente, ele contou como ajudou a mineradora Largo, que opera uma mina em Maracás, no aproveitamento dos resíduos gerados pela produção do vanádio.

Benefícios econômicos

Segundo o executivo, com investimentos para a recuperação do titânio que é retirado da terra juntamente com o carro-chefe da empresa, a Largo pode obter um faturamento 2,5 vezes maior que aquele oriundo do vanádio.

“Resíduo não pode ser associado a coisa ruim, sem qualidade. É preciso começar a pensar nele como algo que pode trazer benefícios econômicos”, ressaltou Misk.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Angelo Almeida, uma das ações prioritárias da SDE é pesquisar os usos dos resíduos da mineração, bem como apontar uma destinação econômica para os produtos advindos do seu aproveitamento.

“A Bahia licitará, ainda no primeiro semestre deste ano, a contratação de consultoria para a elaboração do Plano Estadual de Mineração 2050, no qual os resíduos e logística do estado serão dois temas a serem tratados de forma muito especial”, garantiu.

Possíveis aplicações

Entre as cinco utilizações possíveis para o material de rejeito na produção do mármore bege bahia, a doutora em Gestão e Tecnologia Industrial pelo Centro Universitário SENAI CIMATEC, Luara Vieira, destacou a transformação em matéria-prima para cimento ou argamassa, a fabricação de artefatos diversos e até mesmo a neutralização do PH (potencial hidrogeniônico) de determinados solos.

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A pesquisadora Luara Vieira apresentou as possibilidades de utilização dos resíduos da mineração (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

“Nossas pesquisas mostraram que o bege bahia tem um potencial até maior do que os produtos que se utilizam atualmente para o enriquecimento dos solos”, destacou a especialista.

Se a iniciativa entrar em operação comercial, além de reduzir a quantidade de material amontoado como rejeito, ainda poderá se constituir numa fonte de renda adicional para as empresas.

Importância da remineralização

Quando se fala no reaproveitamento de resíduos da mineração, a remineralização desponta como um dos cenários mais promissores. O processo consiste na utilização de pó de rocha na agricultura (fertilizante de liberação lenta) por meio da adição de macronutrientes como potássio, magnésio, cálcio, fósforo e enxofre, elementos fundamentais para o desenvolvimento das plantas.

Diretora-técnica da empresa Georaiz, a geóloga Viviane Oliveira pontua que cerca de 35% da superfície do território baiano têm potencial para produzir remineralizadores de solo.

“É uma excelente alternativa para o rejuvenescimento de nossos solos altamente intemperizados e, consequentemente, empobrecidos do ponto de vista mineralógico.”

Sequestro de carbono

O insumo proveniente das rochas tem trazido resultados importantes em culturas como a da cana-de-açúcar, mas também tem um papel relevante no sequestro de carbono do solo, o que contribui para a redução das emissões de gases do efeito estufa.

“Já tem vários estudos e publicações científicas sobre como podemos sequestrar carbono através do uso de rochas silicáticas, com isso entendemos que são várias as possibilidades de uso”, projeta Vitor Almeida, um dos fundadores da Associação Brasileira dos Produtores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais (Abrafen).

Insumo eficaz e estratégico

A Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia (Seplan) investirá em um estudo, em parceria com a CBPM, sobre o aproveitamento dos resíduos da mineração. A medida representa um avanço para o setor e uma oportunidade de ampliação da competitividade do estado em mercados distintos.

“O resíduo da mineração tem um valor econômico e se você despreza, descarta esse resíduo, está perdendo valor”, observa o coordenador executivo de projetos especiais da pasta, Antônio Alberto Valença.

“Ainda podemos considerar a importância da agricultura para a Bahia, tanto o agronegócio como a agricultura familiar, ou seja, você tem um setor agrícola muito importante para o estado e mais uma razão para não abrir mão de um insumo eficaz e tão estratégico. Depois, você tem outro uso que é muito importante para a área de construção civil, para produção de materiais agregados”, acrescenta Valença.

Usos possíveis dos resíduos da mineração:

  • Remineralização do solo para a agricultura;
  • Transformação em matéria-prima para cimento ou argamassa;
  • Fabricação de artefatos diversos;
  • Neutralização do PH de determinados solos;
  • Sequestro de carbono.

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