Após ter sido divulgada a informação de que faltam provas à defesa dos jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Oliveira — dois dos três indiciados por suposta participação no esquema conhecido como ‘Golpe do Pix da Record’ —, o advogado Marcus Rodrigues, responsável por defender ambos, criticou a forma como o inquérito policial está sendo conduzido. Segundo Rodrigues, o inquérito está sendo “substanciado, única e exclusivamente, com provas testemunhais”. “Não é à toa que esse inquérito sobrevive há mais de três meses e com a ouvida de 61 pessoas. É algo que é totalmente desarrazoado”, avaliou o advogado em entrevista ao CORREIO. Em coletiva na sede da Polícia Civil durante a terça-feira (20), o responsável pelo caso, o titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), Charles Leão, deu detalhes da investigação, sem, no entanto, ter divulgado oficialmente os nomes dos suspeitos. “Até o presente momento, todas as alegações trazidas pelos investigados não foram alicerçadas por qualquer documento. Isso me dá uma convicção para acreditar nas vítimas, que são pais, mães e pessoas com doenças”, revelou Leão. A declaração do delegado foi rebatida pela defesa. “Causa-me estranheza ouvir a autoridade policial responsável dizer que a defesa não acostou aos autos qualquer prova documental, uma vez que o ônus da prova é da acusação, apesar de termos atuado de forma defensiva já no inquérito”, afirmou Rodrigues. Terceiro indiciado Além disso, Marcus Rodrigues disse que a terceira pessoa indiciada pela suposta participação no esquema não teve o nome divulgado por motivos sabidos pelo advogado, mas que ele “não pode externar agora, pois isso vai para a questão processual”. “Essa pessoa, no seu interrogatório, informou que Jamerson e Marcelo Castro não tinham ciência do [esquema criminoso] que estava acontecendo. Ela conhecia Marcelo Castro apenas ‘de nome'”, concluiu Rodrigues. As prisões dos indiciados não foram solicitadas por enquanto, visto que o inquérito ainda não está concluído. Os investigadores estão apurando a participação das pessoas que cederam as contas usadas no golpe. Há 14 suspeitos, e o conteúdo da investigação deve ser encaminhado ao Ministério Público (MP) em breve. Até o momento, 61 pessoas foram ouvidas pela polícia. Ao menos, 14 pessoas foram vítimas do esquema, que começou em novembro do ano passado. Relembre o caso O caso veio à tona após a equipe do jogador de futebol baiano Anderson Talisca, atualmente no Al-Nassr, da Arábia Saudita, ter cobrado informações sobre uma doação feita por ele. Sensibilizado com a história de uma criança exibida no programa ‘Balanço Geral’, da RecordTV Itapoan, o atleta teria doado cerca de R$ 70 mil. Em nota enviada ao CORREIO no dia 11 de março, o então diretor de jornalismo da TV Itapoan, Gustavo Orlandi, confirmou que a empresa investigava a denúncia de que funcionários da organização teriam desviado dinheiro de doações feitas por telespectadores por meio do Pix. “A RecordTV Itapoan, assim que recebeu as denúncias, apura os fatos e tomará todas as medidas legais cabíveis para o caso”, disse por e-mail. O esquema funcionava através do ‘Balanço Geral’: pessoas em dificuldade relatavam seus casos durante o programa televisivo, e o público, comovido, fazia as doações via Pix. Depois da descoberta, o caso, então, passou a ser investigado pela DreofCiber, que também está analisando depoimentos, matérias jornalísticas, vídeos e prints de redes sociais. Cronologia dos fatos 11 de março: o esquema é descoberto depois que o ex-jogador do Bahia, Anderson Talisca, procurou a família de uma garotinha para quem tinha doado, via Pix fornecido pela TV, R$ 70 mil para um tratamento de câncer. Os pais da menina disseram ao jogador que não recebeu nenhum recurso, e que a filha havia morrido. Nota: nesse mesmo dia, o diretor de jornalismo da RecordTV Itapoan, Gustavo Orlandi, enviou uma nota ao CORREIO, confirmando que a empresa estava apurando as suspeitas de desvio de dinheiro doado por meio do Pix. 13 de março: o CORREIO tem acesso ao áudio de um funcionário da emissora, que preferiu não se identificar. Ele confirmou a situação, apontou que o desvio do PIX das doações não era algo novo e que os valores do golpe poderiam ser ainda maiores. Nesse mesmo dia, a Polícia informou que abriu uma investigação sobre o caso. 14 de março: pessoas que tiveram a situação exposta na TV e não receberam ajuda apelam para que seja feita justiça. O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) se pronuncia e pede rigor nas investigações. 17 de março: o apresentador José Eduardo (Bocão) conta, num podcast, que ficou sabendo do golpe quando foi procurado pelo empresário do jogador; que pensou: “Não é possível; não são essas pessoas”; mas que levou a denúncia até a direção da RecordTV Itapoan, que abriu uma investigação interna para apurar o caso. 31 de março: a emissora demite, por justa causa, o apresentador e repórter Marcelo Castro e o editor-chefe do Balanço Geral, Jamerson Oliveira. A Defesa dos jornalistas classificou a medida como desproporcional, e diz que as demissões foram precipitadas, sem a devida apuração e sem ouvi-los. Zé Eduardo liga o nome dos dois ao caso pela primeira vez e afirma que eles estão sendo investigados pela Polícia Civil. 12 de abril: a polícia reúne a imprensa para informar que 15 pessoas estão sendo investigadas, incluindo dois rifeiros. O delegado explicou que os envolvidos são dois jornalistas e pessoas que orbitam ao redor deles, cedendo o Pix que era colocado em tela no lugar dos dados das vítimas. Os nomes não foram divulgados. 18 de maio: os jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Oliveira são ouvidos na Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico, na Mouraria. 19 de maio: a polícia divulga o conteúdo dos depoimentos dos jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Oliveira. Ambos informam que houve movimentação financeira entre eles em razão de um empréstimo em dinheiro vivo de dezenas de milhares de reais a um amigo de infância. O amigo é um dos titulares de chaves Pix usadas na fraude.
Defesa de Marcelo Castro critica condução do caso: ‘Desarrazoada’
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