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Ministério da Justiça, enfim, completo no Terreiro Aganju

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Pela primeira vez em 51 anos de existência, o terreiro Ilê Axé Opô Aganju, um dos mais importantes da Bahia, localizado em Lauro de Freitas, terá seu quadro de mobás completo. No axé, eles são os ministros de Xangô, com a função de ajudar o babalorixá – líder – do terreiro em suas obrigações e decisões. Ao todo, devem ser 12, número que só foi alcançado agora. Famosos como Pierre Verger e Jorge Amado já ocuparam o cargo. Os dois novos mobás do Aganju serão confirmados nesta sexta-feira (14), em uma cerimônia de apresentação na sede do terreiro, às 19h. Eles são os baianos Waldemiro Cerqueira, administrador de 51 anos, e o historiador Felipe Valente, de 35. Waldemiro é casado, com a escritora e ilustradora, Carolina Cunha, de 49 anos, e tem dois filhos. Ele mora em São Paulo há alguns anose está atendendo ao segundo chamado do orixá para ocupar o cargo. Segundo a esposa dele, o primeiro chamado foi em São Paulo, há 22 anos, mas ele não assumiu. O último chamado, foi quando ele aceitou o cargo, aconteceu há um ano, em uma das visitas do casal a Salvador para rever a família de Waldemiro e os membros do terreiro. “Waldemiro foi suspenso pela Oxum de uma filha de santo dele. Ela veio a falecer depois. Viemos para Salvador após a pandemia e, no meio de uma obrigação, saiu que ele deveria cumprir o posto dessa falecida mãe de Oxum. Ele demorou para entender que era um escolhido, mas quando aconteceu, tudo mudou. Ele está muito feliz”, contou Carolina. Já Felipe recebeu a honra de fechar o quadro dos ministros de Xangô do Aganju, ocupando a 12ª posição na hierarquia de mobás. Até o momento de serem apresentados à comunidade, numa cerimônia realizada hoje à noite, os dois permanecerão recolhidos, se preparando espiritualmente para começar a cumprir as novas obrigações. Chamado O babalorixá e fundador do Aganju, Pai Obaràyí Balbino conta que a escolha dos mobás é um chamado do orixá da justiça, como Xangô é conhecido, e não do povo de axé. Por isso, não há um tempo determinado para que a escolha aconteça e alguns mobás morreram ou deixaram o cargo antes do quadro ficar completo. Isso faz com que a novidade seja ainda mais celebrada pelos integrantes do terreiro, que já se preparam para acolher os novos membros há alguns dias. Entre os preparativos está a fogueira de Xangô – um dos símbolos do orixá – que deve permanecer acesa por 12 dias. O fogo simboliza a vida e o equilíbrio. “É muita honra. Eu nunca fui orgulhoso, mas estou orgulhoso de ver completar, aqui no axé, os 12 ministros de Xangô, os 12 mobás”, celebra Pai Obaràyí Balbino. Graças ao ineditismo, membros do Aganju, vindos de vários estados do país, estão em Lauro de Freitas para acompanhar a confirmação, como é chamado o momento em que eles assumem a função de mobás. Xangô é o orixá da justiça, da continuidade histórica e representa a força da vida e a luta pelo poder. Todos os mantenedores dele, de alguma maneira, sustentam também essa energia. Segundo o mobá mais antigo do terreiro Aganju, Onan Mobá Valdir, de 71 anos, do mesmo modo, cabe aos ministros de Xangô fazerem justiça no Axé. “Administrar com o nosso babalorixá é assumir funções e determinações deixadas por ele, para que as coisas aconteçam como devem, da melhor maneira possível. A fogueira, que preparamos para transmitir a energia do fogo de Xangô na festa, vai queimar por 12 dias. Já vi chover forte e a fogueira não apagar. Sem uma preparação com todo o nosso axé, isso não aconteceria”, disse o Onan Mobá. Para o segundo mais antigo, o Otum Mobá Dadá, os mobás também devem zelar por tudo que é de Xangô, de seus filhos a sua casa. “Esse é um cargo de quem está com os olhos abertos para ajudar aqueles que estão com os olhos fechados. Se diz que os mobás são os olhos, ouvidos e, às vezes, até a voz de Xangô”, contou. Ainda segundo ele, há uma razão para que os ministros sejam 12. Na numerologia, o número corresponde a Xangô, são 12 os caminhos do orixá e ele possui 12 qualidades. Entre os móbas mais famosos do terreiro Aganju, esteve o fotógrafo, etnólogo e antropólogo Pierre Verger. Criado em 1972, o terreiro foi tombado como patrimônio do estado pelo Instituto Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), em 2005, devido a sua importância nessas áreas. Além do templo religioso, o espaço conta conta com a Creche Vovó Ana e desenvolveu o Encontro das Folhas – Projeto Peregum, no lançamento do livro Ewe, de Verger. 1° – Onan Mobá Valdir 2° – Otun Mobá Dadá Jaques 3° – Ossi Mobá Renivaldo 4° – Ekérin Mobá Bira 5° – Karun Mobá Fernando 6° – Ekéfé Mobá Messias 7° – Ekeje Mobá Alisson 8° – Ekéjó Mobá Wanderson 9° – Késsan Mobá Geraldo 10° – Ideméwa Mobá Thales 11° – Kókanla Mobá Waldemiro 12° – Ekéjila Mobá Felipe *Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo
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