Cid vai fardado a CPI, fala em atuação militar com Bolsonaro e silencia em perguntas

Publicado em

spot_img
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O tenente-coronel Mauro Cid decidiu nesta quinta-feira (24) se manter em silêncio durante o depoimento na CPI sobre os ataques do 8 de janeiro na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Fardado diante dos parlamentares, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) fez uma breve apresentação antes de anunciar sua decisão de não responder às perguntas.

“Sem qualquer intenção de desrespeitar vossas excelências e os trabalhos conduzidos por essa CPI, considerando a minha inequívoca condição de investigado e por orientação da minha defesa técnica, farei uso durante toda essa sessão do meu direito constitucional ao silêncio”, afirmou o militar.
Cid também fez um histórico de sua trajetória no Exército e, de forma genérica, disse quais eram suas funções como ajudante de ordens do presidente.

“Neste ponto, é importante destacar que essa função é de natureza militar, conforme regulamentação (…) A ajudância de ordens é a única assessoria que não é escolhida pelo presidente, mas de responsabilidade das Forças Armadas designar os militares que a integrarão”, completou.

A defesa de Cid chegou a pedir o adiamento do depoimento do tenente-coronel à CPI . Ela argumentou que os defensores “apenas assumiram sua defesa na última semana”, sem “tempo hábil para plena ciência e conhecimento dos fatos atinentes aos autos”.

O presidente da comissão, deputado distrital Chico Vigilante (PT), negou a solicitação. “É a grande oportunidade que ele tem de falar, então espero que ele fale. Vamos fazer todas as perguntas e espero que ele responda”, disse.

No depoimento, Vigilante disse ao advogado que Cid havia sido convocado para prestar esclarecimentos como testemunha. “Eu só esclareci para o senhor que ele está aqui, por decisão do Supremo, como testemunha. Não é uma invenção nossa”, disse.

“Ele vai continuar do mesmo jeito. Depois eu me acerto com o Supremo”, respondeu o defensor de Cid.

“Lá no Maranhão a gente tem o ditado que formiga sabe a folha que corta”, alertou Vigilante.

Mauro Cid está preso há mais de três meses no batalhão da Polícia do Exército, em Brasília. A cela possui 20 metros quadrados, e o militar costuma sair do local duas horas por dia, para período de banho de sol em grande pátio disponível para realizar corridas e musculação.

Cezar Bitencourt, defensor de Cid, se encontrará com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), nesta quinta. O objetivo é solicitar acesso aos autos dos processos contra o tenente-coronel e conversar sobre a prisão dele, considerada como desnecessária pelo advogado.

No início da prisão, o Exército adotou protocolo menos rígido e permitiu que o tenente-coronel recebesse uma série de visitas de militares, amigos e familiares.

As regras passaram a ser mais duras após Moraes determinar que as visitas, exceto de familiares e advogados, deveriam ser autorizadas por ele. A razão seria o número “elevadíssimo” de visitas recebidas, segundo o ministro: 73 pessoas em 19 dias de prisão.

Desde que assumiu a defesa, Cezar Bitencourt deu declarações confusas e divergentes sobre a suposta decisão do militar de confessar sua atuação e a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na venda de joias.

As versões sobre o caso se alteraram na última semana. O vaivém atenua e agrava a situação de Bolsonaro, a depender do tom de Bitencourt.

O principal ponto de divergência está ligado à possível confissão de Cid. O advogado disse que o militar deve esclarecer aos investigadores como foi feita a venda e recompra de um relógio Rolex recebido por Bolsonaro como presente de Estado.

Depois, disse que não se trataria de uma “confissão”, mas “esclarecimentos” a serem feitos aos investigadores.

Bitencourt afirmou ainda que Cid diria à Polícia Federal que teria realizado a venda do Rolex a mando de Bolsonaro. Em novo recuo, ele afirmou na sexta que não é possível culpar o ex-presidente.

“Tem muitas coisas que não tem nada a ver. Na realidade houve um equívoco, houve má-fé. Em primeiro lugar [é um equívoco] que o Cid vai dedurar o Bolsonaro”, afirmou.

Cezar Roberto Bitencourt é o terceiro advogado de Mauro Cid desde que o militar foi preso, em 3 de maio. O primeiro, Rodrigo Roca, deixou a defesa sete dias após a prisão.

O segundo defensor de Cid foi o advogado Bernardo Fenelon, que saiu do caso na última semana alegando “questões íntimas”.

Que você achou desse assunto?

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

- Publicidade -

ASSUNTOS RELACIONADOS

Tarcísio une Bolsonaro e Kassab para eleger aliado em Guarulhos e emplacar policial na Alesp

CAROLINA LINHARESSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quer eleger seu líder de governo na Assembleia Legislativa, Jorge Wilson (Republicanos), conhecido como "Xerife do Consumidor", para a Prefeitura de Guarulhos (SP), o que levaria seu aliado Danilo Campetti (Republicanos), o policial federal que foi seu segurança e assessor, a ocupar uma

Investigação sobre tentativa de golpe está ’em via de conclusão’, diz PGR

A investigação sobre a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um plano de golpe de Estado para se manter no poder, mesmo após a derrota nas eleições, está chegando ao fim. A informação é da Procuradoria-Geral da República (PGR), que, em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que o inquérito "encontra-se em

STF forma maioria para negar habeas corpus a Bolsonaro

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para negar um habeas corpus que pede o trancamento de investigação sobre o ex-presidente da República Jair Bolsonaro por suposta tentativa de golpe de Estado. O relator, Kássio Nunes Marques, foi seguido até o momento pelos ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Edson Fachin e André Mendonça.