Um dos principais pensadores das instituições brasileiras que emergiram da proclamação da República, em 1889, Ruy Barbosa é o tema de um documentário que será pré-lançado no Cine Glauber Rocha, em Salvador, na segunda-feira (4/3), em sessão para convidados.
“A voz de Ruy” vai expor algumas das facetas do intelectual, político, advogado, jurista, jornalista, diplomata e escritor, entre outras.
Em 90 minutos, o filme vai mostrar como Ruy Barbosa, morto há 100 anos, segue uma figura atualíssima enquanto defensor da democracia, sobretudo após os atos golpistas de 8 de Janeiro — quando o busto em sua homenagem foi vandalizado por bolsonaristas na sede do Supremo Tribunal Federal.
Artífice da Constituição republicana de 1891, que criou o STF, Barbosa foi protagonista de tensões entre Judiciário e Forças Armadas e defensor da ideia de que o Supremo é o guardião da Constituição, ante os que viam o militarismo como “poder moderador” — um quadro incrivelmente familiar à atualidade.
“É inevitável a relação com o 8 de Janeiro. O filme toca nesse ponto, do ataque ao busto de Ruy Barbosa, jogado no chão. O STF optou por não restaurar completamente e manter a cicatriz na testa, simbólica. Usamos o simbolismo no filme, falando da importância dele como a figura que pensou as instituições”, disse Pedro Sprejer, um dos diretores do filme.
O documentário reúne arquivos digitalizados da Casa de Rui Barbosa, além de acervos de Cinemateca, MIS, Instituto Moreira Salles e do documentarista Isaac Rozemberg, fotos e documentos da Biblioteca Nacional e do Arquivo Nacional.
Foram entrevistados para o filme ex-ministro do STF Ayres Britto, o embaixador e cientista político Carlos Henrique Cardim, o atual presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Alexandre Santini, e o cientista político Christian Lynch. O ator Ricardo Bittencourt dramatiza discursos de Barbosa na produção.
A ideia inicial do documentário foi do jornalista, escritor e pesquisador baiano Nelson Cadena. A sugestão dele levou a um convite da Associação Baiana de Imprensa a diretores e produtores do filme. O projeto começou a ser tocado em março de 2023, no centenário da morte de Ruy Barbosa.
Os diretores do documentário dizem que ele se propõe a preencher lacunas de conhecimento sobre o legado de Ruy Barbosa — “uma figura conhecida e desconhecida ao mesmo tempo, que falava difícil”, como classificou Sprejer.
“Fizemos o possível para apresentar todas as facetas dele, ressaltando a atualidade das ideias: a defesa da República, do federalismo, da igualdade entre os gêneros, reforma da educação, pautas que ele abordava e são muito atuais”, explicou Fernanda Miranda, também diretora do documentário.
Além da atuação política de Ruy Barbosa e suas relações com a elite política brasileira entre o fim do século XIX e o começo do século XX, o filme vai mostrar a influência dele na diplomacia do país e, ainda, um lado pessoal, sobretudo a vida com a mulher, Maria Augusta, filha de uma tradicional família baiana.
Depois da estreia no Cine Glauber Rocha, às 19h da próxima segunda, em Salvador, os produtores do documentário têm planos para levá-lo a salas de cinema e ao streaming, além de museus. A TVE, canal público da Bahia, vai exibir o documentário.
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