São Paulo — Assassinado com tiros de fuzil na porta de casa, em Atibaia, interior paulista, na última terça-feira (12/3), Luiz dos Santos Rocha, o “Luiz Conta Dinheiro“, era apontado pela polícia como tesoureiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e admitiu, quando foi preso há cinco anos, que havia comprado armas de forma ilegal para se proteger porque era acusado de desviar R$ 5 milhões da facção.
O desvio teria ocorrido na empresa de transporte coletivo Imperial, que opera linhas de ônibus na zona leste da capital paulista e é suspeita de lavar dinheiro do tráfico de drogas comandado pelo PCC. Luiz dizia ganhar R$ 1.600 como funcionário da empresa, mas havia investido mais de R$ 40 mil na compra de um fuzil, uma pistola 9 milímetros e um revólver, segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Venda de “biqueira” e fuga da cadeia: quem é tesoureiro morto pelo PCC
No dia em que ele foi preso com armas e drogas dentro de casa, junto com a esposa, Paloma Herica Alves de Oliveira Rocha, a polícia também encontrou no imóvel dez celulares e uma série de anotações relacionadas às finanças do PCC. No material apreendido, os investigadores identificaram a negociação de uma “biqueira” — ponto de venda de drogas — em São Bernardo do Campo, no ABC, por R$ 400 mil.
“Jurado de morte” No período em que esteve encarcerado, o tesoureiro do PCC conseguiu a progressão para o regime semiaberto e o direito ao benefício da saída temporária, a chamada saidinha, quando o detento deixa a prisão por um período determinado com a obrigação de voltar. Em junho de 2023, em uma dessas saidinhas, Luiz atrasou seu retorno ao Centro de Detenção Provisória (CDP) Belém I, na capital, alegando ter sido vítima de tentativa de homicídio.
Na ocasião, Luiz disse ter sido atingido de raspão nas costas por um tiro, enquanto saía da garagem com seu carro para retornar à penitenciária. Nesta semana, contudo, no primeiro dia de uma nova saidinha temporária, o ataque contra ele foi fatal. O tesoureiro do PCC foi fuzilado no fim da tarde, quando chegava de carro em casa, em Atibaia (assista abaixo).
A execução do tesoureiro do PCC entrou na conta do racha histórico na cúpula da facção que tem deixado um rastro de sangue em cidades paulistas. Ao menos outros dois membros foram assassinados na guerra interna que opõe o líder máximo da organização, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, a outros três líderes: Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho. Todos estão presos na Penitenciária Federal de Brasília.
No mesmo dia em que “Luiz Conta Dinheiro” foi fuzilado em Atibaia, horas mais tarde, Cristiano Lopes da Costa, o Meia Folha (foto abaixo), foi morto a tiros em uma lanchonete no bairro Vicente de Carvalho, no Guarujá, litoral paulista.
Meia Folha era considerado um dos líderes do PCC na região e, segundo testemunhas, foi baleado por um pistoleiro que passou de moto pelo local atirando. Segundo moradores, um “toque de recolher” foi imposto na região após a morte dele.
Cristiano Lopes Costa, de 41 anos, integrante do PCC conhecido como “Meia Folha”, foi morto no Guarujá Amigo de Marcola A primeira morte ocorrida após o racha na cúpula do PCC a se tornar pública foi a do traficante Donizete Apolinário da Silva, de 55 anos, aliado de Marcola. Ele foi morto a tiros quando caminhava com a esposa, de 29, e com a enteada, de 10, em Mauá, na Grande São Paulo.
Donizete era integrante da chamada “Sintonia Final” – setor correspondente à cúpula da facção criminosa composta por sentenciados considerados fundadores da organização – e mantinha estrita lealdade ao chefão do PCC. Ele já havia sido denunciado pelo MPSP, em 2013, junto com Marcola e outros 174 integrantes da facção.
O que motivou racha O principal motivo do racha histórico na cúpula do PCC seria um diálogo gravado entre Marcola e policiais penais federais, na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o líder máximo da facção chegou a afirmar que Roberto Soriano, o Tiriça, número dois na hierarquia do grupo, era um “psicopata”.
A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo. A fala de Marcola teria sido interpretada por Tiriça como uma espécie de delação.
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