Da Paulista à Sabesp: como a direita está atropelando a esquerda em SP

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São Paulo — Em 2022, a cidade de São Paulo deu mais votos à dupla petista Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad do que aos respectivos rivais Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas eleições para presidente e governador.

Agora, menos de dois anos depois, e a cinco meses das eleições municipais, a direita parece ter virado o jogo na capital paulista, demonstrando força tanto nas manifestações de rua, como nas votações de projetos nas casas legislativas e nas pesquisas de intenção de voto.

A agrura da esquerda em São Paulo ficou ainda mais evidente na última quarta-feira (1º/5), com o fiasco de público no evento convocado pelas centrais sindicais para celebrar o Dia do Trabalhador, em frente ao estádio do Corinthians, em Itaquera, zona leste paulistana, e que tinha a presença de Lula como grande chamariz.

Diante de uma plateia inferior a 2 mil pessoas, Lula não disfarçou o incômodo e disse que o ato tinha sido “mal convocado”, assim que subiu ao palco. “Nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar”, disse o presidente.

O resultado levou aliados do líder petista a admitirem a necessidade de “mudanças” na articulação política do governo e provocou comparações inevitáveis com o ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro em fevereiro, que levou mais de meio milhão de pessoas à Avenida Paulista.

Atropelo no Legislativo A enorme diferença entre adesões aos atos de Lula e Bolsonaro foi capitalizada por aliados do ex-presidente na Câmara Municipal da capital na última quinta-feira (2/5), antes de mais uma vitória da direita sobre a esquerda na cidade de São Paulo.

Naquela noite, quase 70% dos vereadores paulistanos votaram a favor do projeto de lei que garante o contrato da Prefeitura com a Sabesp em caso de privatização, que é de suma importância para o governo Tarcísio de Freitas consolidar o leilão de ações da companhia estadual de saneamento, previsto para este ano.

Menos de meia hora após a aprovação do projeto, o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), que é aliado de Tarcísio e conseguiu o apoio de Bolsonaro à sua campanha pela reeleição neste ano, sancionou a lei da Sabesp, apesar da contestação judicial feita pela esquerda — na sexta-feira (3/5), a votação foi anulada pela Justiça.

Chamou a atenção o grande número de pessoas a favor da privatização da Sabesp na audiência pública que antecedeu a votação do projeto, normalmente dominado pelos partidos de oposição. “Não lotou a audiência igual ao Lula ontem”, ironizou o vereador Rubinho Nunes (União), aliado de Bolsonaro.

No ato do 1º de Maio, Lula pediu voto ao deputado federal Guilherme Boulos (PSol), pré-candidato de esquerda à Prefeitura da capital, em aliança com o PT. O parlamentares já disse que, caso seja eleito, vai barrar o contrato do município com a Sabesp privatizada.

Em dezembro, PT e PSol já haviam sofrido uma fragorosa derrota na Assembleia Legislativa (Alesp), quando Tarcísio conseguiu aprovar o projeto de privatização da Sabesp com 62 votos a favor, muito mais do que os 48 necessários. A votação foi marcada por pancadaria e bombas de gás no plenário. Os deputados de oposição abandonaram a sessão.

Pesquisas eleitorais Além da dificuldade de mobilização nas ruas e das derrotas no Legislativo, a esquerda paulistana tem sofrido com o desempenho de seu candidato nas pesquisas de intenção de voto. Até o fim de 2023, Boulos vinha liderando os levantamentos feitos pelos institutos, mas o cenário foi mudando ao longo deste ano.

Várias pesquisas já apontaram empate técnico entre o deputado do PSol e o prefeito Ricardo Nunes e, na última semana, o instituto Paraná Pesquisas trouxe o emedebista com uma vantagem mais ampla à frente — 35,2% para Nunes e 29,8% para Boulos.

O deputado do PSol também é que o que tem o maior índice de rejeição entre os pré-candidatos à Prefeitura da capital. Seus aliados dizem que o cenário ainda é favorável ao psolista e atribuem o crescimento de Nunes ao fato de o prefeito estar “usando a máquina” municipal para tentar se reeleger – a capital tem orçamento de R$ 110 bilhões.

Erros da esquerda Para o cientista político José Álvaro Moisés, que é professor da Universidade de São Paulo (USP), “a esquerda esquerda está cometendo uma série de erros”, e não apenas na capital paulista.

“O mais grave é não explicar para a população as escolhas que está fazendo, algumas delas equivocadas. Há uma crise da esquerda, que já vem de algum tempo, no sentido de que ela vem perdendo os paradigmas mais importantes para se organizar”, afirma Moisés, ao Metrópoles.

O professor lembra que a direita havia ficado “em silêncio” e “envergonhada” no Brasil a partir da redemocratização, nos anos 1980, em detrimento da disputa PT e PSDB, mas que está, há alguns anos, em um processo de ascensão.

“Na medida em que houve as denúncias de envolvimento de corrução de vários partidos, inclusive dos partidos que estiveram no governo, principalmente PT, PSDB e MDB, criou-se um espaço de indignação e indiferença por parte da população e a extrema direita ocupou esse espaço, com a vantagem que ela tem pautas conservadoras que vão ao encontro de posições da população”, explica Moisés.

Dentro dessas pautas conservadoras, há a defesa de ações mais violentas da polícia como estratégia de Segurança Pública, como o governo Tarcísio vem promovendo desde o ano passado, diante da crescente sensação de insegurança na cidade. Já a esquerda tem tido dificuldade de apresentar um projeto consistente nesta área, segundo o professor.

“Um dos fatores que tem peso grande nessa configuração é o papel de seguimentos religiosos. O Brasil passa por um retrocesso no que diz respeito a relações de fé, religião, e o papel do Estado”, acrescenta o professor. Para ele, isso traz outro ingrediente para o fortalecimento da direta ante a esquerda no cenário eleitoral.

“Na manifestação bolsonarista [na Avenida Paulista, em fevereiro], a mulher do ex-presidente [Michelle Bolsonaro] declarou que não deveria haver separação entre religião e Estado. É um retrocesso de uma concepção universal. Mas a resposta de uma declaração como essa foi zero. Não teve liderança política suficiente para rebater uma declaração como esta. É este o clima de mobilização”, conclui.

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