Servidoras denunciam diretor do Cade por assédio moral

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O diretor de Administração e Planejamento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Ricardo Lovatto Blattes, é alvo de denúncias de servidoras por assédio moral.

 

Blattes é acusado por servidoras do Cade de fazer constantes ameaças de demissão, de insinuar, sem provas, que terceirizados são corruptos, de tratar mulheres com desrespeito e de fazer comentários machistas na presença das subordinadas. Ao menos nove profissionais fizeram relatos de situações que configurariam, em tese, assédio moral e discriminação de gênero por parte do diretor.

Blattes é vereador de Santa Maria (RS) pelo PT, mas se licenciou para ocupar funções em Brasília. Em abril de 2024, renunciou ao cargo. O político foi nomeado para o Cade em outubro de 2023, em ato assinado pela Casa Civil. Antes, Blattes ocupava a função de diretor do Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor, no Ministério da Justiça e Segurança Pública, desde fevereiro de 2023.

Cabe à Diretoria de Administração e Planejamento (DAP) a gestão de pessoas, as ações de tecnologia, a tomada de contas, entre outras atribuições. As denúncias contra Blattes relatam que o homem à frente dessa estrutura cria um clima de “insegurança” e “pânico” nos servidores da autarquia.

Entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, funcionárias do Cade – entre concursadas, sem vínculo e terceirizadas – formalizaram ao menos cinco queixas internas contra Blattes. Os processos são sigilosos, mas a coluna apurou que em três casos já foi concluída a investigação preliminar.

A partir da oitiva de 10 testemunhas que confirmaram “fortes indícios de assédio moral na conduta do investigado”, a recomendação da área técnica foi no sentido de instaurar processo administrativo disciplinar.

Em uma das situações descritas pelas servidoras, Blattes teria cancelado reuniões seguidas em razão de férias do único coordenador-geral homem da equipe e justificado que só retomaria os encontros após o retorno do gestor. Na ocasião, teria dito, segundo os relatos, que o Cade “possui muitas chefias femininas”, não gostaria “de estar reunido apenas com mulheres” e não “queria ser o único homem” presente.

Segundo uma servidora, o diretor de Administração e Planejamento teria ignorado a presença das mulheres em uma reunião de chefia e “direcionava a fala prioritariamente para o único homem da mesa”. “Nesse momento, e em outras reuniões, percebi um incômodo dele com mulheres na posição de liderança, realidade que é muito comum no Cade, pois 50% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres”, afirmou a testemunha.

Uma servidora contou que Blattes chegou a perguntar o que ela “estaria disposta a fazer” para continuar no cargo, e que a permanência na função “dependia da relação” que teria com ele.

Outro episódio que consta nas denúncias teria ocorrido na festa de confraternização de fim de ano, em 2023, quando Blattes teria falado que os terceirizados tinham grande chance de vazar informações confidenciais pelo fato de não serem servidores, o que caracterizaria corrupção. O comentário gerou “pânico” e “insegurança” no trabalho. Posteriormente, o gestor pediu a lista com o nome dos empregados e os respectivos salários.

Desprezo com a instituição
Segundo as servidoras, o diretor do Cade também faz comentários de desprezo em relação à própria autarquia, como: “O Cade é uma piada” e “Como vocês conseguem se motivar em um local desse?”

Uma das denúncias cita que Blattes faz ameaças em voz alta ao insinuar que fará demissões nos próximos dias. “Quem será que estará no diário na segunda-feira?” e “Quem será exonerado primeiro?” seriam algumas das falas do chefe da DAP.

Blattes também é acusado de perseguir uma das subordinadas e pressioná-la a pedir demissão. Após as denúncias, a mulher, de fato, pediu exoneração do cargo, em abril de 2024.

A partir da conclusão da investigação preliminar, caberá à Presidência do Cade decidir se abrirá processo administrativo disciplinar (PAD), se vai arquivar o caso ou se oferecerá um Termo de Ajustamento de Conduta. No caso de um PAD, as sanções previstas em caso de confirmação são advertência, suspensão, demissão ou destituição do cargo em comissão.

Antes do Cade
A coluna de Paulo Cappelli, do Metrópoles, mostrou, em outubro de 2023, que a ida de Ricardo Blattes para o Cade ocorreu após reclamações de servidoras da Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), onde era diretor do Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor.

Ao menos duas servidoras do órgão disseram sofrer “abordagens inadequadas” por parte de Blattes e reclamaram da postura dele. A situação ficou insustentável no órgão.

O que dizem
A coluna entrou em contato com Ricardo Blattes, que negou as denúncias. “Eu desconheço qualquer denúncia dessa natureza e não tenho informação sobre nenhum fato”.

Em nota, o Cade disse que “as denúncias recebidas possuem tratamento sigiloso em razão da natureza das informações, de modo que não cabe ao Cade tecer manifestações sobre elas no momento”.

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