Com 80% das urnas apuradas e uma participação eleitoral de 59%, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que Nicolás Maduro venceu as eleições presidenciais da Venezuela. O presidente do CNE, Elvis Amoroso, revelou em uma coletiva de imprensa que Maduro conquistou mais de 5 milhões de votos, o equivalente a cerca de 51% dos votos, assegurando sua reeleição. Seu opositor, Edmundo González Urrutia, que representava a popular líder opositora María Corina Machado, impedida de concorrer devido a uma inabilitação política, obteve aproximadamente 4 milhões de votos, cerca de 49% do total. A votação encerrou às 18h00 (19h00 em Brasília) e a apuração teve início por volta das 20h.
Nicolás Maduro, de 61 anos, está no cargo desde 2013, sucedendo o líder socialista Hugo Chávez pouco antes de sua morte. Com esta reeleição, Maduro se projeta para permanecer por 18 anos no poder, até 2031, um período apenas superado pelo ditador Juan Vicente Gómez, que governou por 27 anos (1908-1935).
Dentro do palácio presidencial de Miraflores, Maduro foi recebido por grupos musicais entoando canções em sua homenagem, diante de centenas de militantes. Num cenário em que todos vestiam jaquetas esportivas com a inscrição “Ganhou meu galo pinto”, em referência a um apelido adotado pelo mandatário nos últimos meses, ressaltando sua imagem de força em contraste com González, a quem retratava como fraco. Os apoiadores gritavam “Vamos Nico, vamos Nico!” em apoio a Maduro.
O rival González, de 74 anos, era o representante de María Corina Machado, popular líder opositora impedida de se candidatar devido a uma inabilitação política. O resultado das eleições foi divulgado seis horas após o fechamento das urnas, em meio a denúncias de irregularidades por parte da oposição durante a apuração.
A oposição destacou que seus observadores foram impedidos de acessar os centros de votação para testemunhar o processo e não conseguiram obter cópias das atas emitidas pela máquina de votação, sistema automatizado ao qual, por lei, os partidos têm direito e que servem para confrontar o resultado oficial. Além disso, a oposição denunciou a prisão de cerca de 150 pessoas ligadas à campanha, sendo 37 delas nos últimos dois dias.
A maioria das pesquisas favorecia a oposição, após anos de uma crise que levou a uma contração de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) e resultou no êxodo de mais de sete milhões de pessoas, segundo dados da ONU. A coalizão Plataforma Unitária Democrática (PUD), que se uniu contra Maduro após se abster das eleições de 2018 por considerá-las fraudulentas, ainda não se manifestou sobre o resultado.
Na Venezuela, das 30 milhões de pessoas que compõem a população, cerca de 21 milhões estão aptas a votar, de acordo com especialistas. Estima-se que aproximadamente 17 milhões destes cidadãos que ainda permanecem no país, sem terem migrado, teriam o direito de participar nas eleições. É importante ressaltar que o voto não é obrigatório nesse contexto eleitoral.
A participação eleitoral foi de 59%, conforme mencionado por Amoroso. Maduro colocou este pleito como uma decisão entre “paz ou guerra”, alertando que uma vitória da oposição poderia resultar em um cenário de “derramamento de sangue”, o que gerou críticas dos presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e chileno, Gabriel Boric, entre outros líderes.
Gabriel Boric destacou a importância de que os resultados sejam anunciados de maneira “transparente e oportuna, refletindo integralmente a vontade popular manifestada nas urnas”. Os Estados Unidos, que apoiaram e incentivaram o processo eleitoral ao aliviar as sanções impostas em 2019, após não reconhecerem a reeleição de Maduro no ano anterior, também solicitaram que o governo venezuelano garantisse a transparência do processo eleitoral.
Na ocasião das eleições, houve presença de uma pequena delegação do Centro Carter, que declarou não ter capacidade de conduzir uma “avaliação completa do processo de votação, contagem e apuração”, como era previsto pela União Europeia, que foi excluída como observadora no final de maio. Além disso, um painel composto por quatro especialistas da ONU está acompanhando o processo eleitoral, e seu relatório será confidencial, compartilhado apenas com o secretário-geral António Guterres.
O assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, que atuou como observador nas eleições na Venezuela, destacou a importância de estar diretamente envolvido no processo eleitoral. Ele ressaltou a participação significativa do eleitorado venezuelano, defendendo que o resultado das eleições seja respeitado por “todos os candidatos”. Amorim também mencionou que Lula estava sendo mantido informado ao longo do dia.
Os Estados Unidos, que desempenharam um papel fundamental no processo eleitoral ao aliviar as sanções impostas em 2019 após não reconhecerem a reeleição de Maduro, fizeram um apelo à observância do “processo democrático”. A vice-presidente americana, Kamala Harris, expressou apoio ao povo venezuelano que exerceu seu direito nas históricas eleições presidenciais. Harris enfatizou a necessidade de respeitar a vontade do povo da Venezuela e reiterou o compromisso em trabalhar por um futuro mais democrático, próspero e seguro para a população venezuelana.
Atualização: Carolina Ferreira – Com informações da AFP

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