Ricardo Nunes foi mencionado em um vídeo por uma investigada pela Polícia Federal, no caso conhecido como máfia das creches, como receptor de verbas desviadas de creches municipais em São Paulo. As declarações foram registradas em um vídeo obtido pela Folha de S.Paulo, gravado por Rosângela Crepaldi, durante uma operação que investiga possíveis ligações entre um escritório de contabilidade e empresas envolvidas nos desvios.
A assessoria do pré-candidato à reeleição nega qualquer irregularidade em relação aos repasses, enfatizando que nunca foi alvo de acusações no inquérito no qual Rosângela estava envolvida. O pré-candidato também expressa surpresa com a divulgação do vídeo a dois meses das eleições, destacando que as afirmações serão analisadas por sua defesa para que a responsável responda por denunciação caluniosa.
A defesa de Rosângela, por sua vez, explica que o vídeo foi produzido por questões de segurança e não tinha a intenção de se tornar público. Segundo as investigações, ONGs que gerenciavam creches municipais estariam recebendo parte do dinheiro destinado a despesas com materiais, retornando esses valores por meio de cheques, depósitos e boletos, beneficiando pessoas ligadas à administração dessas entidades.
Documentos revelados em 2021 pela Folha de S.Paulo indicam que Ricardo Nunes e uma empresa de sua família receberam valores de uma empresa suspeita de ser utilizada nos desvios. Cheques no valor de R$5.795,08 foram enviados a Nunes em 2018, conforme quebra de sigilo bancário. Além disso, a empresa enviou R$20 mil para a empresa de controle de pragas da esposa e enteada dele.
O prefeito sempre justificou que os repasses eram referentes a prestação de serviços. No entanto, Rosângela afirma no vídeo que atuou na devolução desses valores a pessoas ligadas às ONGs, excluindo a prestação de serviços por parte de Nunes. Ela declara: “Foi repasse. [Nunes] nunca prestou nenhum serviço.”
A Associação Amiga da Criança e do Adolescente (Acria), entidade que administra creches conveniadas da prefeitura na zona sul de São Paulo, é alvo de investigações sobre repasses milionários, mantendo proximidade com Nunes. Rosângela aborda esse tema nos vídeos, mencionando a administração do trâmite da Acria por pessoas ligadas a Nunes.
Rosângela aponta a atuação de Valderci Malagosini Machado, ex-subprefeito indicado pelo político, e de uma antiga funcionária de Nunes que dirigiu a Acria, Elaine Targino. Ela relata que a entidade contratou a contabilidade Fênix, que, conforme investigações, estava envolvida no esquema de desvios.Rosângela, nora de Paula Raquel, afirmou que todos os repasses eram devidamente registrados, com o dinheiro sendo direcionado para os fornecedores, que por sua vez, repassavam os valores excedentes à empresa ou entidades. Ela ressaltou que não há um percentual médio, já que a Acria realizava muitas compras, resultando em retornos significativos, como uma compra de R$ 500 mil que retornava R$ 200 mil.
A princípio, os repasses para a Acria eram feitos por meio de cheques, os quais eram entregues a indivíduos ligados à entidade. Rosângela também mencionou ter quitado supostos boletos de uma empresa vinculada a Valderci. Segundo investigações da Polícia Federal, a empresa Francisca Jacqueline Oliveira Braz recebeu R$ 2,5 milhões da Acria, devolvendo R$ 1,3 milhão à empresa.
Um vídeo obtido pela reportagem não faz parte do inquérito da Polícia Federal sobre o caso, e nos autos, Rosângela optou por ficar em silêncio. O advogado de Rosângela afirmou que o vídeo foi feito por motivos de segurança, sem a intenção de ser divulgado publicamente, sendo entregue apenas a pessoas de confiança, mas acabou nas mãos de jornalistas.
Em relação à apuração da Polícia Federal, constatou-se um desmembramento do caso em relação a Nunes. Documentos de 2022 citam a suposta participação de Ricardo Luis Reis Nunes, prefeito em exercício de São Paulo, e de sua empresa em um esquema de desvio de verbas públicas. Valores teriam sido transferidos da empresa ‘noteira’ Francisca Jacqueline para Nunes e a Nikkey, com a associação Acria realizando transações financeiras com as empresas.
A assessoria de Nunes esclareceu que a investigação mencionada por Rosângela possui milhares de páginas, mas não contém acusações contra o prefeito e sua empresa, destacando que o suposto repasse de R$ 31 mil se refere a serviços prestados pela Nikkey, uma empresa com reputação consolidada no mercado.
A assessoria manifestou perplexidade com a divulgação do vídeo de Rosângela com acusações consideradas infundadas, salientando que ela foi indiciada no inquérito, enquanto Nunes não possui acusações. As declarações de Rosângela serão analisadas pela defesa do prefeito para a possível responsabilização por denunciação caluniosa.
Elaine Targino negou envolvimento nos crimes sob investigação e reforçou o compromisso da Acria em cuidar de pessoas com responsabilidade. Já Valderci Malagosini afirmou que não participou de desvios, destacando sua atuação como empresário e engenheiro civil baseada em ética e trabalho dedicado para ajudar entidades assistenciais.

Facebook Comments