“Racha de Milhões” é palco de bandeirada e contagem regressiva, conforme mostram os vídeos registrados. A DF-001, próxima ao complexo penitenciário da Papuda, é o cenário escolhido pelos “racheiros”, apesar de ser escura e sem sinalização. Em um dos vídeos divulgados, é possível ver a corrida entre dois carros turbinados, com a participação de um indivíduo encarregado de dar a partida simbólica e anunciar o início da corrida ilegal. Após várias reportagens da coluna Na Mira exporem essa prática ilegal, que resultou em um corredor sendo atropelado por um médico envolvido nas corridas, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) abriu uma investigação para esclarecer todos os detalhes do acidente.
Durante a operação conduzida pela 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião) na última segunda-feira (26/8), a BMW M6 Gran Coupé, utilizada no racha que resultou no atropelamento, e conduzida pelo ortopedista Humberto de Carvalho Barbosa, da rede pública de saúde do Distrito Federal, foi apreendida. Além do superesportivo de 560 cavalos, outros veículos também são vistos acelerando nesse trecho. Novas filmagens obtidas pela coluna mostram disputas no mesmo local do acidente, ocorrido na última quinta-feira (22/8).
Vídeos compartilhados em redes sociais e grupos de WhatsApp pelos motoristas revelam a imprudência causada por manobras perigosas em alta velocidade entre outros veículos. As imagens mostram um homem posicionado no meio da pista entre os carros corredores. Após sinalizar o início da corrida com os braços, os veículos aceleram lado a lado. Em outros momentos, um homem no banco do passageiro filma a corrida enquanto os dois carros disputam.
Veja imagens da “bandeirada” antes da largada:
Os vídeos gravados pelos “racheiros” também mostram as corridas que ocorrem na principal rodovia do Lago Sul. É possível observar vários carros seguindo em direção a um posto de gasolina no Setor de Mansões Dom Bosco (SMDB), na subida da QI 23. O estacionamento em frente às lanchonetes fica repleto de carros caros e velozes. Diversos modelos das montadoras alemãs BMW, Audi e Porsche desfilam por lá, juntamente com veículos da sueca Volvo e da britânica Mini (que pertence à BMW), participando do encontro que antecede as corridas “puxadas”, como os corredores as chamam.
Quanto mais caro, veloz e preparado o carro, mais atenção ele attract.Jovens participam de rachas com carros superesportivos de alto valor. Vestidos de forma casual, com moletons, chinelos e bermudas, os integrantes do grupo aparentam ter entre 19 e 23 anos. Utilizando máquinas poderosas que ultrapassam a marca dos R$ 600 mil, como duas BMW M2, os jovens passam parte da noite discutindo sobre as modificações mecânicas e aerodinâmicas de seus veículos. Algumas das modificações realizadas nos carros incluem alterações nos escapamentos, filtros, suspensão, rodas e pistões.
A expressão quase juvenil dos participantes denuncia que os temas das conversas envolvem as transgressões de trânsito e o valor das multas acumuladas. Em meio às brincadeiras, um dos garotos comentou: “Se minha mãe descobrir, ela me mata!”, enquanto posicionava sua BMW para as corridas ilegais. Com os capôs abertos e portas escancaradas, alguns veículos são testados mesmo com o motor ligado, em aceleradas longas e barulhentas para “sentir a potência” dos motores preparados.
### A investigação
Segundo apurações, inicialmente, a noite se assemelhava a um encontro comum de entusiastas acostumados a participar dessas corridas clandestinas. O grupo de jovens se entusiasmava com as acelerações proporcionadas pelos carros de luxo em ruas mal iluminadas. Mesmo após um acidente chocante, envolvendo a BMW M6 de Barbosa, o qual atingiu uma vítima, os racheiros não interromperam suas atividades.
Diante do forte impacto e com o veículo danificado, o médico responsável parou alguns metros após o acidente. Ao constatar que o jovem atingido estava ferido e incapaz de se levantar, ele assumiu a culpa pelo ocorrido e pediu que as testemunhas não chamassem socorro, nem a polícia. Em seguida, colocou a vítima em seu próprio carro e a conduziu ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). Todo o trajeto foi acompanhado pela equipe da coluna Na Mira, do Metrópoles.
A reportagem não teve sucesso em localizar o prontuário ou registro de entrada da vítima do acidente no hospital. No entanto, de acordo com as informações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o homem foi inicialmente levado ao Hospital de Base e, posteriormente, transferido para outra unidade hospitalar.
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