A C2 Gestão de Patrimônio, oficialmente indicada como a doadora do centro de treinamento (CT) de artes marciais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil paulista, é representada por um homem vinculado a diversas empresas de fachada. Ele é suspeito de ter recebido “dezenas de milhões” de uma fintech suspeita de lavagem de dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC), a Yespay.
Com um patrimônio declarado de mais de R$ 1,6 milhões, que inclui carros de luxo e um jet ski, a C2 é registrada em nome de Felipe Francelino da Silva Alves. Ele, no entanto, vive em uma ocupação irregular de apenas 19 m² em Ubatuba e enfrenta uma ordem de despejo. No processo, declarou que não tinha condições de arcar com custos judiciais.
Tentativas de contato com Felipe não foram bem-sucedidas, mas sua esposa, Bruna Aquino, informou que o contador Fernando Macedo Frota Rondino fala em nome da empresa. Rondino está sob investigação por lavagem de dinheiro e criação de empresas em nome de terceiros sem autorização.
A doação para a construção do CT foi publicada no Diário Oficial em 26 de setembro, alguns dias após a revelação de que Gabriel Cepeda, ligado ao PCC, havia sido apontado como doador oculto da academia. O total das doações foi de R$ 36,7 mil, divididos entre equipamentos e adequação do espaço.
Tratativas
Ronaldo Sayeg, diretor do Deic, relatou que o contato com a C2 foi intermediado por um amigo. Ele mencionou que se comunicou tanto com Felipe quanto com um homem chamado Fernando durante as discussões sobre a doação.
“Isso é pessoal. Eu não queria expor a empresa. Mas, como há uma parte pública, revelamos o CNPJ,” disse Sayeg.
“Alaranjamento”
De acordo com a 1ª Delegacia Seccional da Capital, há pelo menos 12 empresas em nome de Fernando Rondino que indicam “sinais de alaranjamento”. Uma delas, a lanchonete Roma Lagrotti, teria recebido dezenas de milhões da Yespay entre 2019 e 2021. A Yespay foi alvo da Operação Dalila em 2022 e é associada a atividades de lavagem de dinheiro pelo líder do PCC, João Aparecido Ferraz Netto, conhecido como “Cabeludo”. Entre 2019 e 2020, essa empresa movimentou milhões em transações suspeitas.
Suspeita de tráfico
Uma das empresas criadas por Rondino, a VBS Comercial, foi investigada por tráfico de drogas. Em 2020, a sede foi alvo de um mandado de busca que resultou na apreensão de substâncias para produção de cocaína e uma fábrica de anabolizantes falsificados, supostamente ligada a Nathanael Wagner Ribeiro Rodrigues, associado ao PCC.
Fernando Rondino admitiu ter usado documentos falsos para criar contas bancárias e empresas para facilitar a lavagem de dinheiro proveniente da venda ilegal de substâncias. Ele declarou estar arrependido e decidiu colaborar com as investigações.
“Amigo Cepeda”
A participação de Gabriel Cepeda na doação do CT foi anunciada nas redes sociais pelo influenciador Matheus Serafim, um amigo do empresário. Após a Operação Carbono Oculto, que investigou Cepeda, Serafim publicou uma mensagem agradecendo pelo apoio à construção da academia. Porém, posteriormente, ele negou que Cepeda tenha realmente feito a doação, afirmando que a postagem foi uma tentativa de “dar uma moral” ao amigo.
A família Cepeda, proprietária da rede Boxter de postos de combustíveis, está sob investigação desde 2020 por suspeita de lavagem de dinheiro para o PCC. Natalício e Renan Cepeda, parentes de Gabriel, foram presos na Operação Rei do Crime.
O que diz a SSP
Ao ser questionada sobre Fernando Rondino, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) destacou que a C2 Gestão Patrimonial procurou o Deic em março deste ano para realizar a doação do CT. Depois de analisar a documentação, não foram encontradas irregularidades. A Corregedoria da Polícia Civil está investigando as denúncias e adotará medidas legais cabíveis caso algo irregular seja identificado.
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