Salve atribuído ao PCC proíbe roubo de celular em favelas de São Paulo

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Um salvo atribuído ao Primeiro Comando da Capital (PCC) proíbe roubos de celulares e de itens de moradores nas favelas e quebras da cidade de São Paulo. A mensagem, obtida com exclusividade pelo Metrópoles, passou a circular recentemente.

“Deixamos todos cientes que já se esgotou a paciência do Primeiro Comando da Capital com a relação a roubos nas que­bradas e desrespeito com os moradores desses bairros periféricos. Moradores esses que fazem parte das mesmas mazelas que nós”, começa o comunicado.

“Pessoas simples, trabalhadoras, que enfrentam diariamente dificuldades e ainda assim mantêm dignidade e esforço para sustentar suas famílias. Pessoas que trabalham apenas para ter o que comer, sem direito a nada, como se não bastasse esse sistema governamental opressor”, continua a mensagem.

No salvo, a facção proíbe roubo de itens como “celulares, joias, eletrodomésticos, bicicleta, motos, carros, etc.” Ouça: A reportagem apurou que o salvo está repercutindo na zona sul de São Paulo, especialmente em Paraisópolis, onde moradores comemoraram o comunicado da facção.

A reportagem confirmou junto à Polícia Civil a veracidade do comunicado, que seria destinado a todas as periferias da capital paulista. Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não retornou até a publicação.

PCC atribui roubos a “novas gerações de criminosos”

Ainda segundo o salvo, a facção atribui roubos contra moradores da periferia a “novatos no crime”. “Novas gerações de criminosos vêm fazendo coisas inadmissíveis até mesmo para nós, criminosos, e isso é inaceitável”, diz a mensagem.

“Já fizemos nossa parte por anos, instruindo essas novas gerações, que roubar nas quebradas é mancada, passível de cobrança à altura. Há décadas, o próprio crime já punia esses que vivem oprimindo essas pessoas simples e humildes”, afirma a mensagem do PCC.

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PCC no controle de territórios

Para a doutora em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC), Camila Nunes Dias, o Estado acabou “terceirizando” o controle de áreas para o PCC.

Entre as regras impostas pelo PCC, estão a proibição de venda de maconha sintética, conhecida como spice, na Cracolândia, no centro da capital paulista, o veto a empinar moto nas regiões periféricas e até uma suposta ordem para acabar com as brigas entre as torcidas organizadas dos clubes de futebol.

“É como se o Estado terceirizasse para o PCC a regulação e o controle social em algumas áreas. Isso é muito claro nas prisões. Mas na grande parte das periferias da capital paulista também acontece. Já vi casos, por exemplo, de o PCC interferir em companheiro que agride a mulher e os filhos. Muitas vezes esse controle se espraia para questões que envolvem as relações na região”, afirma a coautora do livro A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil.

No salvo que circula nesta terça-feira, a facção demonstra a proximidade dos alvos desses roubos. “Esses moradores são nossos pais, avós, irmãos, filhos, parentes e amigos. Somos todos parte da mesma realidade e da mesma luta por um ambiente mais justo e tranquilo que foi esquecido pelo próprio Estado”, diz a mensagem.

Mais uma vez, com a proximidade do fim do ano, o PCC reforça a proibição de “comportamentos que possam colocar em risco a segurança de todos”. Eles citam, por exemplo, “barulho de cortes de giros, manobras perigosas com motos ou carros e demais atitudes que possam causar acidentes ou perturbação”.

Punição com a própria vida

Quem descumprir a medida deve ser punido à altura, garantiu a facção. “Será punido e ficará a critério da disciplina a cobrança juntamente com os donos das próprias quebras. Esperamos ter ficado bem claros”, afirma outro trecho do salvo.

A medida recai também para faccionados que estimulam ou fazem vista grossa para esses roubos, como donos de biqueiras que aceitam itens roubados em troca de drogas.

“O convite para colar em ideias do crime organizado é para malandros e não para mancos. Sendo assim, se chegar o salvo para esses que se encaixam em critérios de estar na mancada, tem que encostar e ponto”, finaliza o salve.

E você, qual é a sua leitura sobre esse movimento que envolve um grupo criminoso em regras de convivência nas regiões periféricas? Deixe sua opinião nos comentários e compartilhe como isso impacta a vida das pessoas que você conhece nas ruas da cidade.

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