O futebol brasileiro está passando por um período de transformação significativa. O novo calendário para 2026 traz mudanças como a limitação dos campeonatos estaduais a 11 datas e a extensão do Brasileirão de janeiro a dezembro, uma reivindicação antiga de clubes e torcedores. Além disso, as Séries C e D foram ampliadas, permitindo que mais 40 equipes tenham acesso a um calendário regular, fortalecendo a base do esporte.
Essas reformas incluem também o Fair Play Financeiro, que visa controlar dívidas dos clubes e garantir que honrem seus compromissos. O futebol feminino também se beneficia com mais jogos e aumento nas cotas, promovendo um calendário mais robusto e viável economicamente.
A criação do Grupo de Trabalho da Arbitragem busca aumentar a transparência, com a intenção de implementar tecnologias de ponta. O conjunto dessas melhorias está tornando o futebol brasileiro mais organizado e estruturado, atendendo a antigas demandas.
No entanto, a discussão sobre a criação de uma liga de clubes ganhou novo impulso após uma recente decisão do CADE, que investigou ações nos bastidores do futebol e alertou sobre a possibilidade de práticas anticompetitivas. Essa intervenção foi motivada por indícios de gun jumping, que é a antecipação de atos econômicos antes da aprovação de autoridades competentes.
A análise da proposta “Condomínio Forte União – LFU” traz à tona questões jurídicas e financeiras importantes. O jurista Wladimyr Camargos aponta riscos como a incompatibilidade do modelo proposto com a Lei Geral do Esporte.
Camargos destaca que a cessão de direitos de transmissão a um ente que não faz parte do sistema esportivo pode resultar em nulidade, o que compromete a autonomia do futebol brasileiro e coloca em risco a integridade das competições.
Além disso, a situação dos fundos de investimento são questões presentes em ligas de outros países. Na Alemanha, um projeto de parceria com um fundo foi suspenso após protestos massivos. Na Espanha, um acordo semelhante gerou uma divisão significativa entre os clubes, com gigantes como Real Madrid se opondo à ideia de “hipotecar o futuro”.
No Brasil, o modelo do “Condomínio Forte União” não apenas envolve a venda de uma parte das receitas, mas transfere, na prática, o controle do Campeonato Brasileiro a um investidor financeiro. Isso pode significar uma perda de autonomia dos clubes sobre seu principal ativo.
O contrato, com duração de 50 anos, limita as decisões futuras dos clubes, afetando a estrutura das competições. Quaisquer mudanças precisam ser alinhadas com os interesses do investidor, o que pode entrar em conflito com a lógica esportiva.
Entender as implicações desse modelo é fundamental. Camargos ressalta que a entrega do controle comercial a um investidor descompassa as ligações entre poder econômico e esportivo, comprometendo a autonomia das futuras gerações de dirigentes.
As lições do passado europeu não são menos relevantes. A ausência de controles claros no Brasil pode levar a um uso inadequado dos recursos, fazendo com que receitas sejam consumidas em despesas operacionais imediatas, sem investimentos estruturantes.
Esse cenário sugere um ciclo perene de vendas de direitos, reduzindo a autonomia dos clubes e limitando suas possibilidades de investimento no longo prazo.
A pergunta que fica é até que ponto é aceitável que uma geração comprometa o futuro de outras através de contratos de longo prazo. Para o futebol brasileiro, patrimônio cultural e social, é essencial que o sistema permaneça adaptável e que as negociações sejam pautadas pela legalidade e pelas normas esportivas.
Vale ressaltar que a intenção não é se opor à criação de uma liga ou à participação de investidores, mas sim garantir que sejam respeitados os princípios de legalidade e autonomia do esporte. Um modelo de liga bem estruturado pode ser benéfico, mas os contratos devem estar em conformidade com a legislação e os direitos dos torcedores.
O futebol brasileiro é um bem mais complexo do que um ativo financeiro; é uma parte da cultura nacional que merece organização e respeito. É possível desenvolver uma liga forte e profissional sem sacrificar a autonomia e o futuro do esporte.
Essa reflexão é importante para todos que amam o futebol. O que você pensa sobre a direção atual do nosso esporte?

Facebook Comments