Futuro reitor da USP, Aluísio Segurado assume a gestão com propostas para modernizar a universidade e aproximá-la da sociedade. Entre as ideias está a revisão do primeiro ano da graduação: uma formação geral básica para carreiras correlatas, com a decisão pela carreira específica ocorrendo apenas no segundo ano, visando reduzir a evasão e manter o foco nas áreas centrais da ciência.
O que pode mudar?
- Uma das ideias é criar, no primeiro ano, uma formação geral básica para cursos de uma mesma área, com as disciplinas comuns a essas carreiras.
- A mudança teria impacto direto no vestibular, com o aluno optando por uma área mais geral de formação no processo seletivo.
- Só depois, já no segundo ano de faculdade, o estudante escolheria um curso específico.
- A meta é evitar que estudantes abandonem seus cursos de forma precoce.
- Dedicar o primeiro ano à formação geral básica e adiar a escolha do curso específico é uma estratégia já adotada em outras universidades, como a Universidade Federal do ABC (UFABC), na região metropolitana de São Paulo.
- Aluísio afirma, no entanto, que, diferente do que acontece na UFABC, a ideia na USP seria a de aplicar o método apenas em carreiras muito próximas, como nos cursos de geofísica, meteorologia e astronomia, por exemplo.
“Será que o jovem sabe a diferença entre geofísica, meteorologia e astronomia como carreira profissional? Ele gosta das ciências da terra. Ele não poderia entrar em uma carreira que tivesse algum tempo básico de disciplinas comuns, de formação, e depois identificar esses diferentes percursos e definir sua opção de carreira posterior?”, exemplifica o professor.



Flexibilidade para trocar cursos
O futuro reitor também defende facilitar o processo de troca de cursos na universidade. Hoje, alunos que desejam mudar de carreira precisam realizar transferência com vagas limitadas ou prestar vestibular novamente.
“De algum modo, o modelo atual penaliza o estudante que ainda está encontrando o seu caminho dentro da universidade”, afirma o professor.
“A gente teve um exemplo de uma aluna muito boa do curso de engenharia química. Um professor a conheceu no primeiro ano e, no segundo, ela não estava mais na turma, decidiu ser pesquisadora de química. Nessa situação não havia alternativa a não ser desistir e prestar outro vestibular. Se houvesse um mecanismo mais flexível, ela poderia ter saído da vaga da Poli e ido para o Instituto de Química.”
Ainda, as propostas de transformar o primeiro ano e de flexibilizar mudanças de cursos dependem de aprovação interna nas diversas instâncias da universidade.
Quem é Aluísio Segurado?
- Com 68 anos, Aluísio Segurado é graduado em Medicina pela USP, onde também obteve os títulos de mestre, doutor e livre-docente em Doenças Infecciosas e Parasitárias.
- É professor titular da Faculdade de Medicina da USP desde 2012, com atuação em pesquisas sobre doenças infecciosas e determinantes sociais da saúde.
- É o atual pró-reitor de Graduação. No passado, foi diretor do Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) durante a pandemia de covid-19.
- Aluísio e a professora Liedi Légi Bariani Bernucci venceram as eleições para a reitoria com a chapa USP pelas Pessoas, recebendo 1.270 votos.
Cotas em pauta
A posse do futuro reitor está marcada para 25 de janeiro. Entre os desafios, há debates sobre políticas afirmativas para pessoas trans e PCDs.
O tema das cotas para pessoas trans ganhou força neste ano, com protestos do movimento estudantil. Segurado ressalta o princípio de detectar a sub-representatividade para embasar políticas de ingresso.
Quanto às cotas para PCDs, a USP precisará se adequar à lei n.º 18.167, de 2025, que tornou obrigatória a reserva de vagas para pessoas com deficiência em universidades estaduais paulistas.
“Como será feita essa reserva? Precisaremos dialogar com outras instituições de ensino que já implementaram políticas afirmativas para pessoas com deficiência no sistema federal”, afirma ele.
Financiamento
O maior desafio para Segurado nos próximos quatro anos não está apenas nas pautas de ação afirmativa, mas no financiamento da universidade. Com a reforma tributária sancionada, a principal fonte de renda das universidades estaduais paulistas deixará de existir: o ICMS.
Assim, USP, Unesp e Unicamp precisarão discutir com o governo estadual uma nova base de financiamento que mantenha os valores atuais para não comprometer o avanço.
O governador Tarcísio de Freitas já assegurou aos reitores que não haverá retrocesso financeiro, mas é necessário estabelecer a base legal para isso. O debate envolve Executivo e Legislativo, especialmente em um momento de ataques de grupos de extrema-direita contra as instituições.
Segurado entende que os ataques não atingem apenas a USP, mas a ciência como um todo, em um fenômeno global de hiperpolarização política. Ele enfatiza a necessidade de demonstrar o trabalho das universidades para a sociedade, citando, entre exemplos, a atuação da USP durante a pandemia e as pesquisas desenvolvidas.
“Precisamos buscar o diálogo e compreender que aqui é um espaço da diversidade de opiniões, mas com respeito, democracia e repulsa a qualquer forma de violência e discriminação.”
Compartilhar esse debate com a sociedade é parte do desafio de Segurado para aproximar a universidade das pessoas, inclusive daquelas que chegam com resistências à USP.
E você, o que pensa sobre revisitar o primeiro ano, flexibilizar a troca de cursos e as políticas de inclusão na USP? Deixe seu comentário e participe da conversa.

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