A jornada na reprodução assistida continua imprevisível: a resposta hormonal varia entre mulheres e a qualidade dos óvulos nem sempre é previsível. Nesse cenário, a inteligência artificial surge como aliada para padronizar avaliações, identificar padrões que vão além da visão humana e reduzir a variabilidade entre profissionais.
No Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida, realizado em outubro em São Paulo, especialistas ressaltaram que a IA não substitui os processos padrão-ouro, mas ganha espaço para apoiar triagem de casais para ovodoação, análise de gametas, seleção embrionária e prognósticos clínicos. Essas ferramentas ajudam a reduzir divergências, mantendo a supervisão médica essencial.
Existem softwares comerciais que avaliam óvulos, calculam probabilidades de sucesso e sugerem quais devem ser priorizados. Ainda assim, a validação de impacto real nas taxas de nascidos vivos é necessária, conforme os especialistas, que destacam a importância de evidências robustas antes da adoção generalizada.
Para embriões, a tecnologia avança com incubadoras time-lapse que geram modelos preditivos sem necessidade de abrir o equipamento. Hoje, a eficácia dessas abordagens fica entre 60% e 70%, considerada promissora, mas ainda sem comprovação definitiva de melhoria clínica para substituir procedimentos tradicionais.
A IA também atua no planejamento do estímulo ovariano, analisando uma série de características e sugerindo doses de medicação. Segundo José Pedro Parise Filho, o uso é como apoio à decisão clínica, não como substituto, dada a necessidade de validação e o risco de erros em casos específicos.
“É um cálculo baseado na comparação de dados e imagens com bancos que reúnem milhares de casos. Do ponto de vista clínico, esse cálculo pode auxiliar na decisão de como planejar e conduzir o tratamento. Mas ainda precisamos de maior validação científica que confirme esse benefício e justifique o custo”, frisa o médico do Einstein.
Além disso, a análise de embriões ganhou importância com a vigilância de lâmpadas de incubação e registros contínuos de imagens, ajudando a reduzir erros e padronizar etapas. No entanto, a tecnologia continua como uma ferramenta complementar, sem substituir a experiência e o cuidado humano no consultório.
Quanto aos custos, o valor de um ciclo de reprodução assistida varia entre R$ 15 mil e R$ 45 mil, dependendo do local, da medicação e do profissional. As ferramentas de IA costumam custar entre R$ 1 mil e R$ 3 mil, e há consenso de que soluções nacionais são importantes para tornar o uso mais acessível, com estudos de custo-efetividade que demonstrem ganho real em economia de recursos.
No Brasil, o peso financeiro recai, em muitos casos, sobre o paciente, já que nem todos os centros oferecem tratamento integral sem custo. Por isso, os especialistas defendem que cada tecnologia de IA comprove benefício real antes de ser incorporada à prática clínica, garantindo transparência e supervisão humana contínua, conforme a ética da área.
Para os próximos anos, a integração de dados clínicos, genéticos, hormonais e de imagem tende a transformar o modelo atual em medicina de precisão. A ideia é personalizar dose hormonal, estimar o número de óvulos necessários, avaliar riscos e direcionar exames ou intervenções específicas aos pacientes que mais podem se beneficiar.
Diante do avanço tecnológico, cresce também a preocupação ética. A SBRA reforça que o uso de IA deve seguir a Lei Geral de Proteção de Dados, manter supervisão humana obrigatória e ter total transparência com o paciente, assegurando que o cuidado continue centrado no bem-estar da pessoa e na relação médico-paciente.
Fonte: Agência Einstein
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