Livro mostra como a indústria cultural contribui com o racismo

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A história de vida de Renato da Silveira é repleta de experiências diversificadas. De artista visual de uma corrente extremamente política e contestadora a militante político clandestino nos tempos da ditadura, para depois, como exilado, tornar-se mestre e doutor, muitas experiências foram sendo vividas e acumuladas. E a tudo se somou os seus estudos de manifestações afrobaianas na França e sua condição de professor em importantes escolas da Universidade Federal da Bahia.

?? esse o homem que lança nesta quarta-feira (14), no Foyer do Teatro Castro Alves, às 19h, o livro ‘A Mitologia Maldita’, que questiona e mostra o papel da indústria cultural na construção do racismo e da intolerância. Uma obra fruto de 30 anos de pesquisa que veio acompanhada de descobertas sobre o mundo e sobre si próprio.

???O ineditismo desse livro é mostrar como o período de constituição da cultura industrial de massa, nos seus diversos ângulos, contribuiu para a sedimentação da intolerância política e racial???, diz Renato.

No trabalho, Renato da Silveira mostra como o Ocidente utilizou de imagens, textos, obras de arte, publicidade, religião, cinema e até mesmo da religião para construir uma imagem de periculosidade e inferioridade das pessoas negras. E, segundo o autor, fez isso utilizando de todos esses discursos para relegar países e populações à marginalidade e ao papel de subjugados. 

“Há uns 50 anos, surgiram os primeiros aparelhos de videocassete e revi os filmes que gostava na adolescência. Tarzan, pirata, terror… e me dei conta de como minha cabeça foi moldada para o racismo. Todos os bandidos eram negros, índios ou orientais. O ???outro??? era sempre o bandido, malvado, o que ia destruir a civilização, a humanidade”, recorda Renato, que diz que essa experiência lhe tocou muito. “Eu me dei conta de que a minha cabeça foi feita [para o racismo] e comecei a fichar esses filmes num caderno. Hoje, tenho 41 cadernos de fichas. Ali comecei minha pesquisa, de forma casual”.

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Renato da Silveira foi professor na Facom e Ihac-UFBA (Foto: Divulgação)

Ali começou a curiosidade do pesquisador, recém-libertado após quase uma década preso entre o Quartel do Barbalho e a Penitenciária Lemos de Britto – para onde sua esposa levava fascículos da Série Mitologias, publicados pela Editora Abril. 

“Ali, os presos já recebiam visitas e minha esposa, Margarita, levava fascículos do Mitologias e comecei a me dar conta da importância desse tema para a história da arte. A mitologia tratava de todos os temas importantes da vida humana. Tudo quanto é coisa fundamental da nossa vida, a mitologia tratava através dos tempos. Na minha crise, encontrei um tema fantástico para renovar meu trabalho e a mitologia mais próxima aqui na Bahia era a afrobrasileira”, conta.

Renato da Silveira tem divulgado, nas redes sociais, algumas imagens utilizadas no livro. Elas trazem conteúdos chocantes, com estereótipos racistas contra negros e indígenas.

???Na publicidade, a pele negra serviu para mostrar o poder embranquecedor de certos sabonetes, enquanto a predisposição para o prazer, considerada essencialmente negra, serviu para estimular o consumo de álcool e tabaco???, comenta o autor.

Editado pela Edufba, o livro de 436 páginas tem uma linguagem coloquial e exigiu disciplina e dedicação do autor, que contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) para a realização da pesquisa. 

O livro é o terceiro do pesquisador de 78 anos, que também escreveu O Candomblé da Barroquinha: Processo de Constituição do Primeiro Terreiro Baiano de Ketu (2006) e Ficção (Pseudo) Científica e Outras Lorotas (2020), esse lançado com o pseudônimo de Renê Giroflá Giroflê.

Ficha
A Mitologia Maldita: esterótipos políticos e raciais na gênese da indústria cultural
Editora: Edufba
Páginas: 436
Preço: R$ 90

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