Pela memória dos povos tradicionais

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Confluência de saberes que surge do encontro de vários povos, como os pataxós, pataxós hã-hã-hãe, maxacalis, xacriabás e dez terreiros da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a cerimônia da Pisada de Caboclo foi realizada ontem no Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, na Região da Pampulha.
 
Esta é uma promoção do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB), em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. “A Pisada de Caboclo é o encontro dos povos de terreiros de matriz afro-brasileira e indígenas, promovendo uma confraternização de celebração da vida, da ancestralidade e da resistência”, afirma Bárbara Bof, diretora de Promoção dos Direitos Culturais da Fundação Municipal de Cultura.
 
O evento visa cultuar, celebrar, preservar, reconhecer e valorizar a ancestralidade desses povos. Na capital, acontece desde 2017, sempre em novembro, e em 2022 é retomado após dois anos suspenso, devido à pandemia. A Pisada de Caboclo integra a programação especial da PBH “Novembro Preto: BH sem Racismo”.
 
Como reforçam os organizadores, o diálogo entre os povos indígenas com os povos de terreiros e de tradição afro-brasileira remonta e revigora o potente encontro acontecido no início da escravidão no Brasil. Tal confluência agora é uma forma de diminuir as distâncias geográficas de povos ligados intimamente e constantemente pela subjetividade de sua fé e a presença marcante dos encantados, guias e orixás.
 
Durante o festejo, povos indígenas e povos de terreiros cantam e dançam juntos, em círculos, descalços, com os pés na terra. Seus cantos clamam e agradecem aos encantados e aos caboclos, que logo se fazem presentes tomando os corpos dos médiuns, manifestando em formas de fenômenos na natureza, como chuva, sol, vento, pássaros, tudo em harmonia em um só tempo. E, então, a farta mesa de alimentos e bebidas típicas dessas culturas são partilhadas por todos os presentes, enquanto é realizada a parte religiosa do encontro.
 
Mãe Adriana tem atuação de mais de 50 anos entre comunidades, zelando por terreiros, herança recebida da mãe. Atualmente é zeladora do Centro Espírita Pai Guiné de Aruanda, terreiro de umbanda que funciona há mais de 20 anos no Bairro Goiânia, Região Nordeste da capital. Ela comparece à Pisada de Caboclo há cinco anos, e diz que ter um evento como esse é gratificante. “Principalmente pelo momento que estamos passando. É uma maneira de acolher nosso povo de axé. Antes, muitos não podiam sair de seus espaços pela intolerância, e agora estamos todos juntos, reunidos, mostrando quem somos, porque somos e onde estamos”, comemora.
 
A Casa de Mãe Maria Conga é um terreiro de umbanda que existe há 40 anos no Bairro 1º de Maio, na Região Norte da capital. O porteiro Carlos Renato Gomes, de 32, faz parte do grupo desde os 10 anos. Hoje, é um ogan, como se chama a função de ser os olhos e braços da casa, responsável por trazer as entidades para a terra e mandá-las depois embora. “É um evento muito bacana. Traz a ligação direta com os caboclos, representados pelos índios. Todas as casas participam, doando seu corpo mediúnico para homenagear os índios. É uma energia muito boa, uma celebração da ancestralidade”, diz.

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