Ativistas que atuam no campo do HIV pedem contratação de infectologistas em unidades de Salvador

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Um grupo formado por pessoas vivendo com HIV/AIDS e HTLV, representantes de instituições que atuam no campo, além de familiares de pacientes, irá realizar uma manifestação em frente à Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Salvador, nesta quinta-feira (1º), no bairro do Comércio. 

 

Intitulado como “Ato pela vida”, o protesto será realizado na mesma data em que é celebrada o Dia Internacional de Luta Contra a AIDS e tem como pauta principal a contratação de médicos infectologistas e clínicos pela gestão municipal, além da oferta desses profissionais nos Serviços de Atendimento Especializado (SAEs) da capital baiana.

 

Segundo Ton Shübber, membro do Grupo de Pares do SAE Marymar Novaes e voluntário do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids da Bahia (GAPA Bahia), duas das três unidades municipais destinadas ao tratamento de pessoas com HIV/AIDS e HTLV estão sem tais profissionais de maneira adequada há pelo menos dois anos.

 

“A gente tem uma rede de cobertura federal, estadual e municipal. Assim a gente tem uma parcela de pacientes que acessam a rede municipal através do serviço de atenção especializada, que são os SAEs. Em Salvador são três, o Magmar Novaes (no Dendezeiros), o São Francisco (em Nazaré) e o SEMAE (Servico Municipal de Assistência Especializada) Liberdade”, explicou o ativista.

 

Administrado através de uma gestão terceirizada, apenas o equipamento localizado na Liberdade não está na lista de espaços que sofrem com a ausência de médicos.

 

A problemática, cita Shübber, teve início com a pandemia da Covid-19, quando houve um aumento da demanda e os profissionais da área migraram da rede pública para a iniciativa privada, onde estão os maiores salários. “[Lá] os vencimentos chegam a ser três vezes maiores que o valor ofertado no edital da prefeitura”, comentou.

 

O ato desta quinta é o segundo a ser realizado. O primeiro aconteceu no ano passado, quando os pacientes ainda contavam com o acompanhamento de infectologistas, essenciais para a completude do tratamento multidisciplinar de indivíduos HIV positivos. Naquela época, no entanto, a distribuição era inadequada.

 

“Tinha médico na unidade? Até tinha. Mas um médico na unidade para três mil pacientes não é médico. Não tem como você oferecer um serviço multidisciplinar desta maneira. Não é só pegar medicação, a guia do exame ou saber a carga viral. Você tem outro acompanhamento, com nutricionista, farmacêutico e assistente social. A gente tem ali no SAE um amparo”, completou Ton.

 

Atualmente, contudo, a quantidade de profissionais dedicados à especialidade médica em questão é nula. Tentativas de contratação até chegaram a ser executadas pela prefeitura municipal de Salvador, mas nenhuma delas resultou na chegada de novos servidores no quadro de funcionários da rede.

 

“Então, o que eles fazem? Estão tentando se organizar para conter essa sangria. O médico que receita a PrEP [Profilaxia Pré-Exposição] acaba ajudando, assinando o relatório dos pacientes que precisam de receita médica. Só que hoje eles deciditam em reunião que não vão mais fazer isso, porque de alguma forma estão colaborando – e dando um jeito – para a gestão”, revelou Shübber, apontando uma falta de urgência do órgão de saúde do município para a resolução da questão.

 

A situação é ainda mais grave com as pessoas que vivem com o vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV), agente infeccioso da mesma família do HIV que ataca células importantes para a defesa do organismo. Sem tratamento e com problemas na espinha, dificuldades de mobilidade, complicações na bexiga e incontinência urinária, estes indivíduos têm uma piora na qualidade de vida devido à falta de médicos que pudessem reduzir os efeitos da doença.

 

“Foi aberto o Multicentro para eles, mas se você tem um paciente ali na Cidade Baixa o deslocamento às vezes é difícil”, refletiu o entrevistado.

 

Questionada sobre a situação, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirmou que “vem envidando todos os esforços para proceder com a respectiva contratação de médicos infectologistas, sendo realizadas duas licitações com essa finalidade, que acabaram fracassadas”.

 

Dada a circusntância, a pasta acrescentou que está atuando, em conjunto com órgãos jurídicos, e analisando “novas formas de contratação a serem lançadas”.

 

Compõem a mobilização desta semana o Grupo de Pares do SAE Marymar Novaes, a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (RNP+ Brasil), o Grupo de Apoio ao Portador do Virus HTLV I e II (HTLVida), o GAPA Bahia, o coletivo Drags da Prevenção, o Grupo de Apoio ás Mulheres Positivas de Salvador (Motirô BA), a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/AIDS (RNAJVHA) e o Dois Terços.

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