Lava Jato: Em depoimento à justiça federal, Tacla Duran acusa ex-procurador de receber propina

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Réu acusado de lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato, o advogado Rodrigo Tacla Duran fez novas acusações em depoimento ao juiz federal Eduardo Appio, da 13ª Vara de Curitiba. Ele disse que o ex-procurador da República Carlos Fernando Santos Lima recebia uma espécie de mesada de advogados para evitar processos contra doleiros. As informações são da Folha de S.Paulo.

 

O relato por vídeo ocorreu na última terça-feira (9). Tacla Duran afirmou que se tratava de uma “taxa de proteção” e que soube disso por meio do comerciante chinês Wu-Yu Sheng, morto em 2020.

 

De acordo com o réu, Sheng enviou US$ 750 mil ao escritório do advogado Antonio Figueiredo Basto (ex-advogado do doleiro Alberto Youssef) para que o dinheiro, em espécie, fosse entregue a Santos Lima. “E de fato o Sheng nunca foi processado aqui em Curitiba. Depois ele disse que se sentiu traído porque foi processado no Rio de Janeiro”, disse o advogado sobre a suposta “taxa de proteção”.

 

Tacla Duran afirmou que soube de três pagamentos, no total de US$ 750 mil, feitos entre maio e junho de 2016: US$ 400 mil, US$ 230 mil e US$ 120 mil. “Era uma cobrança de taxa para a não persecução penal destas pessoas que participaram da mesada, entre eles o Sheng, que pagou este valor todo mês por muito tempo”, disse.

 

O depoimento ocorreu no bojo de uma petição protocolada pela defesa do ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas, que está sendo processado no país com base em delações de ex-funcionários da Odebrecht. O advogado de Glas, Leandro Ponzo, demonstrou interesse em saber o que Tacla Duran conhecia a respeito das negociações dos acordos de colaboração premiada da construtora.

 

À Folha, Carlos Fernando Santos Lima negou as acusações do advogado. “Mentira, como tudo que ele tem dito, sem qualquer prova e mudando as histórias e nomes, nos últimos cinco anos”, diz o ex-procurador da Lava Jato.

 

O advogado Figueiredo Basto afirmou que irá processar Tacla Duran por denunciação caluniosa. “Ele ouviu dizer da boca de uma pessoa que já morreu? Não sei quem é o tal Sheng, a existência dele fiquei sabendo agora. Cada dia ele traz uma mentira nova. Desafio ele a provar”, afirma. “Minha conta está declarada no Bancen e Receita Federal. Meus sigilos estão à disposição, como sempre fiz e farei. Não temo qualquer investigação”, acrescenta Basto.

 

O juiz Eduardo Appio decidiu encaminhar o relato de Tacla Duran para a Polícia Federal já na noite de terça-feira. “Diante da imensa gravidade dos fatos supostamente criminosos noticiados, encaminhe-se cópia da presente audiência para o Superintendente da Polícia Federal do Paraná para as providências que julgar cabíveis”, assina o magistrado, que assumiu os processos remanescentes da Lava Jato em Curitiba no começo do ano.

 

Tacla Duran trabalhou para a Odebrecht, no entanto não conseguiu fechar acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF). Em 2016 ele chegou a ser preso na Espanha, mas foi solto meses depois — um pedido de extradição foi rejeitado, já que ele possui também cidadania espanhola.

 

Ele tem sustentado que o MPF o persegue e que pessoas próximas ao ex-juiz federal, o senador Sergio Moro (União Brasil) tentaram extorqui-lo durante sua negociação com os procuradores. Moro nega e afirma que o advogado fala sem provas sobre assuntos já investigados e arquivados pela Procuradoria-Geral da República.

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