Javier Milei é radical e folclórico, mas direção de suas propostas é correta, avalia ex-diretor do BC

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Com a posse de Javier Milei como presidente da Argentina neste domingo, 10, todos os olhos se voltam para o país. Em especial, o mercado aguarda as repercussões das propostas do político para a economia, que incluem fechar o Banco Central do país e dolarizar a economia, como uma tentativa de tirar a nação de um extensa crise. As medidas receberam críticas de diversos especialistas na área, principalmente por serem consideradas radicais. Contudo, para o presidente do conselho de administração da Jive Investments e ex-diretor de política monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, a estratégia de Milei pode representar um passo na direção certa. Em entrevista ao site da Jovem Pan, o economista aponta que, apesar do político argentino se apresentar de maneira “folclórica”, suas ideias tÊm potencial de fazer com que a economia argentina dê uma guinada positiva.

“A economia argentina está em uma situação muito ruim. Eles não têm mais dólar como reserva, o câmbio desvalorizou brutalmente, a situação fiscal é muito ruim, o desemprego está altíssimo, com inflação altíssima e crescendo. Esse novo governo está vindo com uma agenda para reformar o Estado, reduzir muito o gasto público e melhorar a situação fiscal do país. Essa questão da dolarização tem a ver com uma falta total de credibilidade à moeda. Hoje, a Argentina tem 12 diferentes taxas de câmbio. Um país que tem 12 diferentes taxas de câmbio não pode estar indo bem. Então, essa agenda é positiva. Milei é meio maluquete, é radical, é um cara um pouco folclórico, mas a direção das suas propostas é a correta. É uma estratégia para que a situação do país fique mais normalizada. A Argentina está em um processo de ‘venezualização’ muito forte. Então, vai dar uma guinada pro lado positivo”, considera Luiz Fernando.

Ele pondera que ainda é preciso observar se o governo vai ter base no Congresso para conseguir aprovar ou não as medidas. Ele considera a agenda econômica proposta como dura e difícil, mas capaz de fazer a nação argentina sair do outro lado melhor. “Mas a travessia não é simples. Muita gente é cética em relação ao Milei mas, no mínimo, ele está indo para o lado certo. Indo para o lado certo ajuda o Brasil. Mas precisamos ver o que vai acontecer. Claro que discurso de campanha é sempre mais radical, mais enfático, mais libertário, como se diz, do que a prática. Quando a gente olha a própria equipe econômica, é uma equipe sólida. Vai ter dolarização? Não sabemos, porque a dolarização é o final do processo. A coisa mais importante e inicial é fazer um grande ajuste nas contas públicas. Essa eu diria que é a questão mais relevante e que vai dar ou não sustentabilidade do país para frente”, complementa.

Milei emergiu das eleições argentinas como um catalisador da frustração dos eleitores com a situação econômica. A Argentina, terceira maior economia da América Latina, atualmente enfrenta um cenário de crise aguda, com 40,1% de sua população na pobreza, inflação anual de três dígitos, taxa de desemprego de 6,2%, praticamente a mesma de uma década atrás. Entre 1961 e 2022, houve apenas seis anos com superávit fiscal, segundo o Instituto Argentino de Análise Fiscal. Desde 1958, o país assinou mais de 20 acordos de crédito com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o mais recente em 2018.

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