“PPK power”: como a depilação feminina evoluiu ao longo da história

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“PPK power”: A Evolução da Depilação Feminina ao Longo da História

“Pista de pouso, brazilian, arbusto natural”: os padrões de beleza na área pubiana vêm se alternando ao longo de séculos, também influenciados por questões religiosas e políticas. Mas e se considerássemos que “toda pelagem íntima é bonita”?

“Quem quer ser bela tem que sofrer” é um ditado que se aplica especialmente à área íntima, pois cuidar da sua estética nem sempre foi uma atividade indolor. A remoção – ou adição, quando necessário – dos pelos pubianos já era uma prática na Antiguidade.

No Egito e em Roma, as mulheres utilizavam conchas, pedras afiadas, sangue de morcego, urina de vitelo e banha de jumento na batalha contra os pelos pubianos, antes da existência de depiladores e outros métodos modernos.

Lâminas de bronze, pedra-pomes e cera de abelha faziam parte desse arsenal, e as mais destemidas arrancavam os cabelos pela raiz com fios ultrafinos, mesmo diante da alta toxicidade de substâncias como o auripigmento – um mineral dourado composto por arsênico.

É claro que a presença de pelos corporais nos seres humanos não é por acaso. Os cabelos têm uma função protetora, sendo uma barreira natural contra patógenos e evitando ferimentos, conforme confirma a especialista Mithu Sanyal.

Ela questiona a explicação de que a depilação íntima, especialmente em ambientes de escassez de água como desertos, teria razões puramente higiênicas, destacando ainda a exalação de feromônios pelos pelos pubianos, tornando as pessoas mais atraentes.

Mithu Sanyal observa que ao longo dos séculos, diferentes modas de estilos íntimos surgiram. Não se tratava apenas de remover os pelos pubianos, mas também de tratá-los de forma criativa.

A acadêmica alemã dedicou sua pesquisa de doutorado e publicou o livro “Vulva. Die Enthüllung des unsichtbaren Geschlechts” (Vulva: A Revelação do Sexo Invisível) abordando essas questões profundamente.A depilação púbica vem evoluindo ao longo dos anos, com diversas opções de estilos e designs. Desde a famosa “cera brasileira” até detalhes como corações, flores ou o corte de biquíni, onde apenas o que ficaria visível é removido, ou o estilo conhecido como “selinho”, deixando um pequeno retângulo. A criatividade dos designs não tem limites.

Em algumas regiões, como no Oriente Médio, a preferência é pela depilação total, considerando pelos pubianos como não civilizados. Algumas culturas na África e no Oceano Pacífico veem um arbusto púbico exuberante como um sinal de fertilidade. Em contrapartida, em países geneticamente predispostos a ter menos pelos, como Tailândia e Japão, ter uma pelagem completa torna-se desejável, refletindo a vontade pelo que não se tem.

Durante os séculos 16 e 18, a presença de pelos púbicos era associada à saúde, sendo utilizados adereços íntimos para sinalizar bem-estar. Por outro lado, prostitutas usavam perucas púbicas para evitar infestações de parasitas provenientes de clientes. A relação entre saúde e estética púbica sempre foi influenciada por normas culturais e ideais de beleza.

O surgimento da “cera brasileira” nos anos 1990, popularizada pela série de TV “Sex and the City”, levou a uma explosão na demanda por depilações do tipo. A mídia, incluindo a internet, cada vez mais expôs e promoveu um ideal globalizado de beleza das regiões íntimas, antes vistas como áreas privadas. Mesmo em locais como a Alemanha, onde até os anos 1980 os pelos pubianos podiam crescer livremente, ocorreram mudanças nos padrões estéticos.

Protagonistas da série americana “Sex and the City” desempenharam um papel fundamental na revolução cultural feminina ao abordar o tema da “cera brasileira”. O debate em torno da depilação púbica ganhou destaque, influenciando normas estéticas e comportamentais em larga escala. A exposição cada vez maior das partes íntimas na mídia moldou um padrão de beleza que atravessa fronteiras culturais e geográficas.A ativista francesa Florence Hervé (*1944) aponta distinções marcantes nas alemãs por meio de suas escolhas em relação à depilação, referindo-se a elas como tendo uma “selva germânica”. Mithu Saynal observa que no movimento feminista alemão, houve uma forte influência do retorno à natureza e do desejo de ser o mais natural possível, em contraste com um padrão mais rigoroso nos Estados Unidos, onde um simples pelo à mostra pode provocar comentários depreciativos.

Em diversas metrópoles ao redor do mundo, os salões de depilação se multiplicam para atender a clientela interessada em se livrar dos pelos indesejados, incluindo os das axilas. Atualmente, a rejeição pelos pelos corporais também se estende cada vez mais entre os homens mais jovens, com a utilização de métodos como a eletrólise, cera quente, laser e depiladores elétricos, tornando a depilação íntima algo comum e internacional.

A decisão de não seguir as normas estéticas predominantes pode acarretar críticas intensas, como o ocorrido com a cantora Madonna, que em 2014 publicou uma foto exibindo seus pelos nas axilas. Tal ato foi interpretado por Mithu Saynal como uma declaração com impacto político, devido à influência da artista como modelo para jovens.

A aversão cultural aos pelos corporais, apesar de ser algo natural, revela a importância de questionar e redefinir o que é considerado normal. Movimentos como o “the bush is back” já trouxeram debates sobre a aceitação e até mesmo a celebração da pilosidade natural.

Celebridades americanas como Lady Gaga, Doja Cat e Cameron Diaz publicamente desafiaram os padrões ao assumirem sua pilosidade íntima. Diaz, inclusive, questionou a pressão por manter certas partes do corpo sempre depiladas, destacando a beleza natural da diversidade corporal.

A atriz Christine Kaufmann (1945-2017) expressou em seu livro “Lebenslust” (Prazer de viver, em tradução livre) sua defesa da pelagem pubiana, enfatizando a importância de cuidar da região íntima sem excessos, ressaltando a beleza na naturalidade e na diversidade dos corpos.

A positividade corporal, integrada ao movimento da aceitação de si mesmo, preconiza que todos os corpos são belos, assim como a variedade de formas de expressão da beleza corporal. O julgamento e a vergonha associados à presença de pelos corporais não devem ser tolerados e, segundo Mithu Sanyal, a diversidade e a individualidade de cada pessoa deveriam ser celebradas, sem a imposição de padrões estéticos rígidos.

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