Imaginar uma sala de aula dentro de um presídio já pode atiçar a curiosidade de muitas pessoas. Questões como o contato direto entre professor e alunos, o medo dos professores e o funcionamento como numa escola normal surgem ao se pensar nessa situação. Essas dúvidas se multiplicam quando a professora é transgênero, a primeira a lecionar no sistema prisional. Edu Dias, 42 anos, é a realidade dessa situação. Ela é a única professora trans do sistema penitenciário do Distrito Federal.
Edu possui um doutorado em literatura, mestrado em linguística aplicada e está fazendo mestrado em políticas públicas para infância e juventude na Universidade de Brasília (UnB). Com 20 anos de experiência em sala de aula, sendo 16 deles no Centro Interescolar de Línguas (CIL) do DF, atualmente leciona no Centro Educacional (CED) 01 de Brasília, responsável pela educação no Sistema Penitenciário do DF, especificamente na Penitenciária do Distrito Federal (PDF) I, onde dá aulas de inglês.
A professora lida com cerca de 200 alunos, de 18 a 60 anos, divididos em 15 turmas e separados em cinco segmentos, além da Educação de Jovens e Adultos (EJA), simulando os três anos do ensino médio. Edu leciona de dentro de uma “gaiola”, com a presença obrigatória de um policial penal na sala de aula. Ela enfrentou discriminação e preconceito por sua identidade de gênero, principalmente vinda dos policiais, o que a fez evitar usar o banheiro na instituição.
Apesar dos desafios, Edu destaca a receptividade positiva dos custodiados, sendo considerados os melhores alunos de sua carreira. Sua atuação é elogiada pelas diretoras do CED 01, que exaltam seu compromisso, responsabilidade e zelo. A educação no sistema prisional visa a humanização dos detentos e a escola desempenha um papel fundamental nesse processo.
Desejando oferecer oportunidades para crianças e adolescentes trans, Edu segue estudando para compartilhar conhecimento e combater a invisibilidade e anulação que enfrentou ao longo de sua formação. Sua determinação e comprometimento são admirados tanto pelos alunos quanto pela equipe educacional e direção da instituição.
Comentários Facebook