Na manhã desta quinta-feira (27/2), a cacique Cristiane Bororo, de 32 anos, declarou enfaticamente: “Brasília também é terra indígena”. Sua afirmação surge após uma operação para abrir vias na região ocupada por povos originários no Noroeste. Segundo os indígenas, a ação aconteceu sem aviso prévio e resultou no uso de spray de pimenta por parte da polícia militar. A intervenção foi solicitada pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), alegando ocupação irregular de área pública. A Polícia Militar (PMDF) justificou o uso do gás como necessário, seguindo protocolos estabelecidos.
Cristiane, residente na região há 32 anos, foi pega de surpresa pela operação para abertura de vias na futura quadra 308, ocorrida por volta das 7h30. Posteriormente, policiais e tratores adentraram o local. Ela relata que a comunidade, composta por membros dos povos Bororo, Fulni-ô e Xucuru, distribuídos em cerca de 20 famílias, foi alvo de agressões durante a ação. Mulheres e idosos caíram, e todos foram atingidos pelo spray de pimenta. A cacique denuncia a falta de apresentação de documentos pelo governo que respaldassem a operação.
A concentração da comunidade próximo às casas foi desrespeitada pelos tratores, que avançaram sobre áreas de mata. Sem ter para onde ir, as famílias expressam indignação e tristeza. A Defensoria Pública da União (DPU) também se manifestou criticando a operação e afirmando não ter sido informada previamente.
Versão da PMDF
Segundo a Polícia Militar, moradores opuseram resistência no início da operação, complicando a passagem dos maquinários. Em meio a tensionamentos, alguns indivíduos avançaram em direção à linha de contenção da PMDF, chegando a empurrar o comandante da operação.
Diante da agressão, foi necessário o uso moderado de gás pimenta para evitar confrontos físicos diretos. A PMDF assegura que a utilização do gás foi proporcional e estritamente necessária para garantir a segurança de todos os envolvidos e a continuidade da operação.
A desocupação da comunidade indígena no Noroeste, coordenada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSPDF) sob o nome de “Ações Integradas no Noroeste”, continua em andamento.
A Terracap afirma que a limpeza da área possibilitará o início das obras de infraestrutura na quadra em questão. A companhia também destaca que ocupantes irregulares da quadra 308, muitos se autodeclarando indígenas, foram alvo de ações similares recentemente, ameaçando funcionários da Terracap. A empresa salienta que nenhum deles foi contemplado na decisão da Ação Civil Pública (ACP) resultante de um acordo com a Comunidade Indígena Santuário Sagrado dos Pajés.
A Funai, em manifesto, argumenta que a área disputada não se enquadra na Ação Civil Pública, pedindo o julgamento improcedente dos pedidos formulados pelos ocupantes irregulares por falta de amparo jurídico. Na decisão liminar, o Juízo negou o pedido de manutenção de posse.
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