O desaparecimento de duas jovens de uma clínica de reabilitação em Brazlândia, no Distrito Federal, acendeu um alerta sobre as condições de tratamento oferecidas pelo local, conhecido como Clínica Recanto e Instituto de Psiquiatria e Orientação Psicossocial, duas entidades distintas operando sob o mesmo teto.
Com um custo mensal que ultrapassa R$ 19 mil, a clínica oferece um pacote que inclui desde assistência psicológica até cuidados médicos. Contudo, a realidade enfrentada pelos pacientes e familiares é radicalmente diferente da imagem projetada em seu site, que promete um ambiente acolhedor e uma equipe especializada.
Matheus, um ex-paciente, compartilha relatos perturbadores sobre o uso abusivo de medicações, que eram administradas sem consentimento, em uma abordagem que ele descreve como “cultura manicomial”. Ele alerta sobre as condições desumanas em que os internos são forçados a aceitar tratamentos agressivos, que frequentemente resultam em convulsões devido a combinações perigosas de medicamentos.
“Se houver resistência, os funcionários usam força. Todos os pacientes recebem a mesma medicação de contenção, geralmente uma mistura de Hadol e Fernergan. Isso é devastador”, confessa Matheus.
Uma das táticas de controle utilizadas pela clínica, segundo Matheus, é um procedimento chamado “acolhimento”, que na verdade funciona como punição, relegando os pacientes a salas pequenas, isoladas e sob vigilância constante. A falta de atividades e a negação de cuidados básicos, como se servir de comida, geram um estado de ociosidade insuportável.
“Você se sente esquecido. O psicólogo responsável ignora sua existência. É um ambiente que consome sua dignidade”, acrescenta.
Os motivos que levam um paciente ao “acolhimento” muitas vezes são trivializados, resultando em abusos e intimidações por parte da equipe. Fabiana, mãe de um ex-interno, relata um caso em que um funcionário ameaçou agredir seu filho, revelando a atmosfera hostil que permeia o lugar.
“Um funcionário se aproximou do meu filho e disse que não tinha medo de ninguém. Isso gera um estresse imenso, o que deveria ser um ambiente de cura se torna um lugar de opressão”, desabafa Fabiana.
Além das histórias de supostos maus-tratos, consultas a registros no Tribunal de Justiça do Distrito Federal revelam casos de indenizações por agressões dentro da clínica. Um ex-paciente, por exemplo, registrou que foi amarrado e agredido por funcionários, mostrando a gravidade da situação.
Os relatos de pacientes que conseguiram escapar e as avaliações negativas acumuladas nas redes sociais enfatizam uma cultura marcada pela negligência e violência. A classificação de apenas 2,2 no Google é um indicativo do impacto negativo que a clínica tem na vida dos que ali buscam ajuda.

Por fim, a negligência também se estende à falta de monitoramento na clínica, a ausência de vigilância adequada e a facilidade de entrada de drogas no local, esboçando um quadro alarmante de descaso. Lídia, que já teve um familiar internado, salienta a falta de segurança realmente efetiva.
“Nos disseram que havia plantonistas e vigilância 24 horas, mas isso é uma farsa. Não existe segurança”, afirma Lídia.
Apesar das tentativas de contato com a clínica para comentários sobre as denúncias, não houve resposta. Esse silêncio reforça a necessidade de uma maior transparência e responsabilidade no tratamento de pessoas em busca de ajuda. Você já conhecia essa realidade? Compartilhe sua opinião nos comentários!
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