Como o Brasil já usou palco da ONU para exercer o soft power

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Em 2003, a Assembleia Geral das Nações Unidas se transformou em um palco inesquecível com a apresentação do então ministro da Cultura, Gilberto Gil. Esse evento foi mais do que uma performance; foi uma demonstração do que chamamos de soft power, onde o Brasil buscou mostrar sua cultura e criatividade ao mundo.

Intitulado de Show da Paz, o concerto contou com a participação de Kofi Annan, então secretário-geral da ONU, que se juntou a Gil na percussão. A apresentação prestou homenagem a vítimas de um atentado em Bagdá, incluindo o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello.

Esse momento simbólico destacou a pluralidade e a relevância cultural do Brasil. De acordo com a economista Cristina Helena Pinto de Mello, o show não foi apenas um espetáculo musical. Ele representou uma afirmação política e uma estratégia de posicionamento do Brasil no cenário global.

Para Mello, ao levar a música para a Assembleia da ONU, o Brasil mostrou sua capacidade de dialogar com o mundo de forma universal. Isso é a essência do soft power: conquistar respeito e influência através da cultura. O evento solidificou a ideia do Brasil como uma nação moderna e democrática.

Gilberto Gil: um ícone cultural

Gilberto Gil, já reconhecido internacionalmente, aceitou o convite de Luiz Inácio Lula da Silva para ser ministro, consolidando um projeto voltado para o desenvolvimento e a diversidade cultural. Antes do show, ele havia sido nomeado pela ONU como embaixador na luta contra a fome.

O sociólogo Rogério Baptistini explica que Gil não apenas reforçou a imagem do governo, mas também trouxe prestígio à pasta da Cultura. Para ele, Gil simbolizou um Brasil que se afirma no mundo por meio de sua diversidade e criatividade.

A apresentação trouxe um ar de otimismo e posicionou o Brasil como pronto para um espaço de reconhecimento internacional.

Um marco: Dilma Rousseff na ONU

Outro momento marcante ocorreu em 2011, quando Dilma Rousseff fez história como a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU. Em seu discurso, abordou importantes questões como a crise econômica mundial e a questão palestina.

Segundo a historiadora Bruna Gomes dos Reis, esse discurso foi significativo tanto para o Brasil quanto para a ONU. Rousseff usou um tom forte e inclusivo, mencionando mulheres 16 vezes e destacando a importância da participação feminina na política.

Esse gesto simbolizou um país à frente na representatividade política, reforçando a imagem do Brasil como uma nação moderna, o que pode beneficiar sua diplomacia e atrair investimentos.

A arte e a mensagem da cultura

Historiadores lembram que esses eventos marcam uma conexão do Brasil com a cena mundial. Desde 1957, a sede da ONU abriga os murais Guerra e Paz, de Cândido Portinari, que representam os desafios e as alternativas que o Brasil enfrenta.

Curiosamente, Portinari não pôde comparecer à inauguração da sua obra por questões políticas, um exemplo de como a cultura tem o poder de transmitir mensagens tão impactantes quanto discursos formais.

Esses momentos lembram como a arte e a cultura podem servir como instrumentos valiosos na diplomacia e no fortalecimento da identidade de uma nação. E você, o que acha da importância da cultura na imagem do Brasil no cenário global? Compartilhe sua opinião.

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