Maternidade da UFRJ é referência no acolhimento ao luto gestacional

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Uma maternidade pública na zona sul do Rio de Janeiro tem se tornado um modelo no atendimento a famílias que enfrentam a perda de um bebê durante a gestação, no parto ou nos primeiros dias de vida. Neste outubro, que marca a pauta do luto gestacional, neonatal e infantil no Brasil, a Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) abriu suas portas para mostrar como acolhe seus pacientes há pelo menos 15 anos, mesmo diante das dificuldades.

Em agosto deste ano, entrou em vigor uma nova política que humaniza o luto materno e parental, garantindo um atendimento respeitoso e que promove a recuperação dos enlutados. Esta política assegura que as famílias tenham a oportunidade de passar um último momento com os bebês, tirar fotos e receber registros como as digitais dos pezinhos, além de poder escolher como se despedir, incluindo o registro do nome na certidão de óbito.

Momentos de despedida

Na maternidade da UFRJ, a despedida acontece em um espaço especial chamado “morge”, que é reservado para garantir privacidade e serenidade nesse momento difícil. A psicóloga Paula Zanuto conta que as despedidas ali são emocionantes e repletas de carinho. Ela lembra um caso em que um pai e uma avó se mostraram comovidos ao vestir o bebê e cuidar dele com delicadeza durante a despedida.

“O pai vestiu a roupinha e a avó estava atenta, demonstrando amor e cuidado, mesmo sabendo que o bebê havia falecido. A cena foi tocante, todos nós seguramos as lágrimas”, relata.

A maternidade é equipada com mantinhas, roupinhas e outros itens para ajudar as famílias nesses momentos. Daniela Porto Faus, chefe da Unidade de Atenção Psicossocial, explica que as lembranças são importantes para as famílias que enfrentam essas perdas.

“Nós doamos um coração de pano, uma parte fica com a família e a outra com o bebê. Isso ajuda a simbolizar o vínculo que existe”, explica Daniela.

A maternidade, com a nova política, busca melhorar ainda mais a estrutura do espaço. Atualmente, a área do morge é pequena para que toda a família possa se reunir na despedida.

Apesar das limitações físicas, as mães têm tempo para se despedir, seja na enfermaria ou na UTI. Uma tela de privacidade é utilizada para proteger esses momentos.

“Elas expressam muita gratidão por esse acolhimento. É fundamental para o processo de luto”, complementa Andrea Marinho Barbosa, chefe da Divisão de Gestão do Cuidado.

Utilizar nomes para os bebês na certidão de óbito também se tornou comum, e muitas mães agora optam por essa opção. Há 15 anos, a maternidade implementou várias iniciativas para oferecer mais respeito e acolhimento para as famílias que vivenciam essa dor.

Uma das iniciativas importantes foi criar a Enfermaria da Finitude, um espaço especial para as mães que perderam seus bebês, com o objetivo de evitar o sofrimento psicológico causado pela convivência com outras mães de recém-nascidos.

Muitas unidades de saúde lidam com a superlotação, mas a nova política garante que estas mudanças sejam obrigatórias. A Lei 15.139 assegura que as mulheres que enfrentaram perdas gestacionais tenham acesso a investigações sobre as causas do óbito e a acompanhamento em novas gestações.

Além do suporte psicológico na maternidade, é motivado um trabalho de parceria com outras unidades de saúde e organizações do terceiro setor para melhorar o acompanhamento das mães após a alta.

Inovações no suporte emocional

Outro aspecto importante da nova política é a inclusão de musicoterapia, que visa ajudar tanto as famílias quanto a equipe de saúde a lidarem com o peso do luto. Andrea enfatiza que essa ação é benéfica para todos os envolvidos.

A maternidade da UFRJ é referência no atendimento a casos de alta complexidade, realizando pré-natal para grávidas de alto risco e oferecendo suporte em casos de doenças específicas que podem evoluir para o câncer de placenta, além de atender partos de emergência.

É sempre importante lembrar que a dor da perda pode ser mais leve com o acolhimento adequado. Como as experiências vividas na maternidade da UFRJ mostram, um espaço sensível e respeitoso faz toda a diferença na trajetória de luto. Você já ouviu ou vivenciou alguma situação semelhante? Compartilhe sua visão nos comentários.

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