Nos primeiros seis meses de 2025, 55 mulheres no Distrito Federal quase perderam suas vidas por motivos de gênero. Desses casos, cerca de 47,3% já haviam buscado ajuda, registrando ocorrências contra seus agressores. Um estudo da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) revela que, em média, cada vítima fez três denúncias de violência doméstica antes de enfrentar uma tentativa de feminicídio.
Entre as vítimas, 25 mulheres totalizaram 67 ocorrências de violência doméstica anteriores, sendo que uma delas chegou a denunciar seu agressor em oito ocasiões.
O estudo aponta que 96,2% das vítimas que registraram ocorrências solicitaram medidas protetivas de urgência, mas, no momento do crime, apenas 61% delas estavam em vigor. Dos casos analisados, 60% das vítimas que não tinham registros anteriores também sofreram violência doméstica.
A pesquisa revela que em 36% dos casos, as tentativas de feminicídio não foram consumadas por intervenção de terceiros. Em 24% das situações, a agilidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi fundamental.
Tatyane Mendes, especialista em gênero e saúde mental das mulheres, explica que a estrutura estatal enfrenta desafios como burocracia e falta de articulação entre os serviços. Segundo ela, as denúncias ainda são muitas vezes tratadas como conflitos domésticos, não como crimes sérios de controle e violência.
“O Estado perpetua a ideia de que ‘em briga de marido e mulher, não se mete a colher’”, critica.
Tatyane também destaca a falta de integração entre as autoridades, o que pode levar à revitimização e à perda de informações essenciais para prevenir o agravamento dos casos. Ela defende a importância da educação em gênero nas escolas e a autonomia econômica das mulheres como medidas necessárias.
“No Distrito Federal e no país, a violência de gênero expõe as contradições de um Estado que formalmente reconhece direitos femininos, mas não os torna reais, deixando lacunas entre a lei e a vida cotidiana. Para mudar isso, é preciso uma transformação cultural e institucional que priorize a vida das mulheres nas políticas públicas”, conclui.
Relação entre vítimas e agressores
A pesquisa revelou que em 85,2% dos casos, a vítima e o autor tinham ou já tiveram um relacionamento amoroso. Dentre os agressores, 35 eram ex-companheiros das vítimas. A maioria dos crimes (70%) ocorreu durante processos de separação, e 57% das tentativas foram motivadas por ciúmes ou resistência ao término.
Ainda segundo o estudo, 72% dos agressores que responderam ao processo estavam presos.
Casos recentes de feminicídio tentado
Um homem de 27 anos foi preso em Santa Maria após tentar esfaquear sua companheira. Ele foi detido pela Polícia Militar depois que a vítima chegou ao hospital com ferimentos. Embora tenha alegado que ela se feriu com uma garrafa, acabou confessando o ataque.
Outro caso chocante envolveu Nilton Imaculado Ribeiro, de 42 anos, que foi preso por espancar sua companheira até deixá-la desfigurada e por divulgar vídeos íntimos dela nas redes sociais após a agressão.
Em Sobradinho II, Agnaldo Nunes da Mota foi preso por agredir sua parceira com uma picareta na cabeça e após tentar esconder o corpo. Ele já tinha um histórico de violência, incluindo uma tentativa anterior de homicídio contra a mesma vítima.
Esses casos ressaltam a urgência de enfrentarmos a violência de gênero em nossa sociedade. Qual a sua opinião sobre as medidas atuais para proteger as vítimas? Deixe seu comentário.

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