Neste dia 5 de novembro de 2025, o desastre de Mariana, em Minas Gerais, completa uma década, mas a dor e o sofrimento dos moradores ficam evidentes. A tragédia, que resultou na morte de 19 pessoas e deixou mais de 600 desabrigadas, ainda ecoa nas memórias da região.

Mônica Santos, uma moradora do distrito de Bento Rodrigues, relata como sua vida mudou naquele dia fatídico. Desempregada atualmente, ela saiu de casa para trabalhar, sem imaginar que veria sua casa coberta de lama apenas 24 horas depois. Para Mônica, as lembranças são tão vívidas que parece que a tragédia aconteceu ontem. “É como se estivesse tudo acontecendo agora”, afirma.

No dia do desastre, a barragem do Fundão, operada pela Samarco, rompeu-se, liberando cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Esta catástrofe impactou comunidades vizinhas, como Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Pedras, Águas Claras e Campinas. Mônica recorda ter recebido uma ligação da prima às pressas, e, ao tentar retornar para casa, passou a noite na estrada. Ao chegar, a visão da lama cobrindo sua casa foi o momento em que a realidade se impôs: “Eu não tinha mais nada.”

Casa coberta por lama

Mônica viveu apenas com a mãe em sua antiga residência. Ela lembra que a empresa sempre garantia que a barragem era segura e monitorada constantemente. A tragédia a fez perder cinco amigos próximos, um peso que ela carrega até hoje.

Hoje, Mônica está instalada no reassentamento de Novo Bento Rodrigues, que fica a cerca de 13 quilômetros do antigo local. Apesar de ter um novo lar, ela ainda enfrenta problemas com a estrutura de sua casa. “Não foi entregue 100%. Há moradores desabrigados que nem projeto de casa têm”, diz.

Ela persevera na luta por justiça, desejando ver sua vizinhança reassentada e devidamente indenizada. “Enquanto eu tiver força, vou lutar para que as pessoas sejam de fato indenizadas e restituídas”, ressalta Mônica.

Questionando as práticas da mineração

Márcio Zonta, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, afirma que o desastre é um reflexo das decisões de mineração que ignoram a população. Para ele, a falta de reparação efetiva e um planejamento nacional de mineração são preocupantes. “Desastres como esse ainda podem ocorrer”, adverte, mencionando o colapso do sistema de mineração que a Vale operou.

Indenizações e consequências

Desde 2015, a Samarco informou ter destinado R$ 68,4 bilhões para ações de reparação e compensação, com R$ 32,1 bilhões já pagos em acordos de indenização. A empresa argumenta que esses recursos têm melhorado a economia local, mas o agricultor Francisco de Paula Felipe diz que a vida desde o desastre ainda é um desafio. “Não foi fácil viver esses dez anos”, compartilha.

Francisco agora vive em uma nova moradia e espera que as coisas melhorem. “Quero ver minhas filhas estudando e tomando seu rumo na vida”, conclui.