Entre janeiro e outubro deste ano, 39 policiais perderam a vida de forma violenta no Rio de Janeiro. Os dados, coletados pelo Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, refletem um cenário alarmante para os agentes que atuam nas ruas da cidade.
Além das fatalidades, muitos policiais feridos enfrentam um processo difícil de recuperação. Um exemplo é o policial piloto Felipe Marques Monteiro, que foi atingido por um tiro de fuzil na testa em 20 de março deste ano e continua internado há 230 dias.
O disparo
Na véspera da operação, Felipe passou a noite em uma base policial. A missão era desmantelar uma quadrilha que roubava vans e desmontava os veículos para vender as peças. Na manhã do dia 20, quando sua esposa, Keidna Marques, ligou a televisão, o noticiário mostrava a operação, mas sem alarmes.
Sempre que completava uma missão, Felipe avisava a esposa de que havia pousado. Porém, naquele dia, a mensagem não chegou. Ele foi atingido na testa e precisou de atendimento médico imediato.
Keidna relembra que sempre conversaram sobre os riscos do trabalho dele, mas nunca imaginou que um tiro poderia ocorrer. “Eu temia que o helicóptero fosse abatido, mas essa situação nunca passou pela minha cabeça”, contou.
A luta pela vida
Depois do incidente, começou uma corrida contra o tempo para salvar Felipe. Ao chegar ao hospital, Keidna encontrou o outro piloto, que trouxe consigo a aliança de Felipe, ensanguentada. Esse momento foi devastador para ela.
A bala, antes de atingir Felipe, colidiu com a aeronave e perdeu velocidade, ficando alojada na cabeça dele. O disparo causou destruição de aproximadamente 40% de seu crânio.
Durante esses 230 dias, ele foi operado várias vezes e recebeu transfusões de sangue, gerando campanhas de solidariedade. Keidna parou sua vida profissional para acompanhar a recuperação do marido.
A luta não foi fácil, pois Felipe enfrentou infecções graves que atrasaram a cirurgia de reconstrução do crânio. A família ainda teve de lidar com a resistência do plano de saúde em cobrir os procedimentos necessários.
O recomeço
No dia 16 de setembro, após superar as infecções, Felipe finalmente passou pela cranioplastia. Desde então, ele tem surpreendido a equipe médica e familiares com seus avanços. Ele já reage a estímulos e realiza movimentos com os braços e pernas.
Recentemente, ele conseguiu erguer um terço e dizer “amém”. Quando esperamos que ele mova um dedo, ele mexe a mão. Ele tem se recuperado de forma surpreendente”, comemorou Keidna.
A expectativa é que Felipe deixe a unidade de terapia intensiva nos próximos dias e seja transferido para um quarto. Keidna pretende levá-lo para tratamento no Hospital Sarah, em Brasília.
O sangue que abre portas no CV
O caso de Felipe é emblemático do risco que policiais enfrentam no Rio. Investigações revelam que o sangue de policiais se tornou moeda de ingresso no Comando Vermelho (CV), principalmente entre criminosos de outros estados que desejam integrar a facção nas comunidades fluminenses.
Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, conhecido como BMW, é um dos responsáveis pelo treinamento de novos integrantes da facção para confrontos diretos com as forças de segurança.
Recentemente, a polícia também identificou Rian Maurício Tavares Mota, ex-militar, como um “engenheiro militar” do CV, que utilizou seus conhecimentos para transformar equipamentos de espionagem em armas.
A história de Felipe não é apenas uma história de luta e superação, mas um reflexo da realidade alarmante que os policiais enfrentam na cidade. Comentários e reflexões sobre essa situação são mais que bem-vindos.

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