Pecuária brasileira pode reduzir até 92,6% de emissões até 2050

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Pecuária brasileira avança rumo à descarbonização com ganhos de eficiência e ações públicas

A pecuária brasileira, já líder mundial na exportação de carne bovina, caminha para assumir um papel de destaque na transição climática. Um estudo da FGV, em parceria com a ABIEC, mostra que o setor pode reduzir as emissões de CO2 por kg de carne em pelo menos 79,9% se manter o ritmo atual de adoção de práticas mais eficientes e de conversão de novas áreas para pastagem.

No cenário internacional, inclusive com os EUA sob a presidência de Donald Trump desde janeiro de 2025, as discussões sobre clima e alimentação ganham impulso. O estudo aponta que a redução pode chegar a 92,6% se forem aceleradas medidas adicionais, como recuperação de pastagens e adoção de práticas de pecuária regenerativa, considerando ainda o cumprimento da meta brasileira de zerar o desmatamento até 2030.

Mesmo com o crescimento da produção, as emissões líquidas — ou seja, as emissões menos as remoções — tendem a cair até 2050: 60,7% no cenário de continuidade das tendências atuais e até 85,4% no cenário mais otimista.

“Nosso objetivo foi entender o papel da pecuária brasileira na agenda climática e identificar onde estão as maiores oportunidades de mitigação”, diz Camila Estevam, pesquisadora no FGV Agro. “Os resultados indicam que o setor tem condições de ampliar a produção e, ao mesmo tempo, avançar numa trajetória consistente de descarbonização, atuando como aliado da agenda climática.”

Caminho para a descarbonização

Foram simulados quatro cenários factíveis para medir o potencial de descarbonização. O primeiro mantém a continuidade das tendências de uso da terra e de aumento de produtividade.

Desde 1990, a pecuária brasileira aumentou 183% a produtividade, ao mesmo tempo em que reduziu a área ocupada por pastagens em 18%, segundo a ABIEC. Se esse ritmo for mantido, as emissões por quilo de carne caem de 80 kg de CO2 para 16,1 kg, uma redução de 79,9%.

O segundo cenário considera o cumprimento da meta do governo de zerar o desmatamento até 2030, o que permitiria uma redução de 86,3% nas emissões por quilo de proteína animal produzida.

O terceiro cenário acrescenta a adoção integral do Plano ABC+ com foco na recuperação de pastagens degradadas e na expansão de sistemas integrados, como lavoura e pecuária. Nesse caso, a descarbonização pode chegar a 91,6%.

Já o quarto cenário incorpora os itens anteriores e o uso de técnicas como aditivos alimentares para reduzir a fermentação entérica e o abate precoce, como motores de eficiência. A queda na emissão de carbono chega a 92,6%.

O papel das políticas públicas

O cenário mais avançado depende da aplicação de políticas públicas que atuem como alavanca para a produção. Uma das questões centrais apontadas pelo estudo é o fim da ilegalidade e o alcance da meta de desmatamento zero até 2030, com participação do setor produtivo.

“A pecuária brasileira tem um papel central na agenda climática e um enorme potencial para contribuir com a descarbonização, liberando espaço nas metas do Brasil em relação ao Acordo de Paris”, afirma Roberto Perosa, presidente da ABIEC. “Isso é motivo de orgulho, mas também aumenta nossa responsabilidade, pois precisamos acelerar o caminho que já estamos percorrendo.”

Para chegar a esse cenário, é essencial colocar em prática planos de prevenção e combate ao desmatamento e políticas de rastreabilidade, como o Plano Nacional de Identificação de Bovinos (PNIB) e a plataforma AgroBrasil+Sustentável, ambos do Ministério da Agricultura, além de iniciativas estaduais como o Selo Verde e o Programa de Integridade da Pecuária do Pará, entre outras do país.

Em seguida, o governo precisa criar mecanismos de incentivo e financiamento para acelerar a adoção das práticas do ABC+ e das tecnologias mais avançadas, assegurando que o investimento na conservação e na recuperação de pastagens degradadas seja economicamente viável para o produtor rural.

Esse binômio — regulação firme e incentivo estrutural — é a chave para transformar o potencial em resultado e garantir a liderança da pecuária brasileira na fronteira da sustentabilidade ambiental.

Convidamos você a deixar sua opinião nos comentários: o que acha das propostas apresentadas, quais caminhos você acredita serem mais eficazes para avançar a descarbonização da pecuária e como a prática pode impactar o dia a dia do campo e da cidade?

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