Cristãos sírios: redução histórica, redes de apoio e educação diante do exílio e do conflito
Resumo: a presença cristã na Síria, com raízes de dois milênios, sofreu uma queda drástica desde 2011. Estima-se que 80% da população cristã tenha desaparecido, deixando entre 300 mil e 400 mil pessoas, em grande parte idosos. A redução sinaliza o risco de desaparecer de uma região considerada berço do cristianismo e patrimônio cultural milenar.
A violência pública atingiu toda a população, mas a comunidade cristã foi especialmente vulnerável. Bairros cristãos como Midan, em Aleppo, na linha de frente, sofreram ataques de grupos extremistas. Em Raqqa, a organização de obras humanitárias relata prisões arbitrárias, tortura e outras violações, incluindo o sequestro de 230 civis em 2015, entre eles cerca de 60 cristãos siríacos, 45 mulheres e 19 crianças, em Al-Qaryatayn. Locais de culto também foram danificados ou alvo direto de ataques.
O êxodo teve um peso enorme: guerras civis, perseguições religiosas, sanções internacionais, serviço militar obrigatório e o terremoto de 2023 contribuíram para que a situação se agrave. Em Deir Ezzor, por exemplo, apenas quatro cristãos permanecem, frente aos cerca de 7 mil antes de 2011. Ao todo, o conflito já deixou mais de 520 mil mortos, gerou 7 milhões de refugiados e deslocou 6 milhões de pessoas, com dezenas de milhares ainda desaparecidos.
Apesar da gravidade, surge uma rede de apoio coordenada por associações cristãs. Segundo dados coletados pela própria rede, cerca de 2 milhões de pessoas são beneficiadas. Em termos de assistência humanitária, a Oeuvre d’Orient, em parceria com o Hope Center Syria, aponta que cerca de 117 mil sírios de diferentes religiões recebem atendimento anual em quatro hospitais cristãos em Damasco e Aleppo, considerados entre os melhores do país pela qualidade do serviço.
A educação foi uma prioridade importante. As igrejas administram 57 escolas, que atendem cerca de 30 mil alunos em todo o país. Crianças de várias religiões são matriculadas, promovendo valores de paz e tolerância. Existem negociações para recuperar 30 das 67 escolas confiscadas pelo Partido Baath, em especial em áreas devastadas pela guerra como Deir Ezzor e Suwayda, onde a reabertura escolar seria crucial para reacender a atividade missionária e restabelecer vínculos entre os cristãos locais e o restante da população. Observa-se, porém, sinais de islamização de materiais escolares e a necessidade de mecanismos de proteção da diversidade religiosa, com apoio financeiro internacional.
O relatório também descreve um declínio econômico e demográfico brutal. Atualmente, 90% da população síria vive abaixo da linha da pobreza, e os cristãos enfrentam esse peso de forma acentuada. Mesmo entre os que permanecem, a comunidade cristã na região é majoritariamente idosa: mais de 50% têm mais de 50 anos. A pirâmide etária invertida evidencia a ausência de jovens, agravando o futuro demográfico da localidade.
Ataques às igrejas e tensões entre as autoridades também marcaram o período recente. Embora haja uma retomada econômica com o fim de algumas sanções, velhas divisões ressurgiram, com violência comunitária no litoral contra alauítas e, em junho, contra cristãos na igreja de Mar Elias. O relato reforça que, embora haja esforços de diálogo, a confiança entre as Igrejas e o governo de Damasco varia, com encontros periódicos entre patriarcas, bispos e autoridades para discutir o que funciona e o que não funciona.
A situação permanece sensível: a redução da presença cristã, o êxodo de moradores, a fragilidade econômica e a necessidade de proteger a diversidade religiosa exigem atenção internacional. As estimativas de perda de propriedade, território e condições sociais destacam a urgência de políticas de proteção, apoio humanitário e educação que promovam convivência e oportunidades para toda a população da região.
Como leitor, você pode contribuir com suas opiniões e perguntas sobre o tema. Compartilhe nos comentários suas perspectivas sobre o futuro das comunidades cristãs na Síria, os desafios de reconciliação e as ações que podem fazer a diferença no cotidiano das pessoas atingidas pelo conflito.

Facebook Comments