Como o grupo San Sebastian transformou eventos LGBTQIA+ em produto de exportação

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José Augusto Vasconcelos e André Gagliano são fundadores e sócios do Grupo San Sebastian

Cinco mil pessoas ocupando mais de 80 hotéis e pousadas durante três dias de festa em uma praia paradisíaca do Nordeste. Cerca de 500 empregos diretos gerados e uma movimentação financeira de R$ 10 milhões, aquecendo o comércio e o serviço local. Se apenas um evento é capaz de mostrar porque a comunidade LGBTQIA+ vem se tornando um segmento de milhões �?? ou melhor, de bilhões �?? imagine, o que esse poder de consumo pode comprar. 

Nem mesmo todas as restrições impostas pela pandemia impediram esse consumidor de gastar (e muito). Só para se ter uma ideia, segundo uma pesquisa recente realizada NielsenIQ, empresa de informação global, esse público já movimenta mais de R$ 10,9 bilhões por ano no Brasil. E se tem um setor que sabe conquistar seu lugar nesse mercado que atende ao consumidor gay, bissexual, transexual, travesti, queer, intersexo e assexual é o de entretenimento. Coisa que, cá entre nós, o baiano além de saber fazer muito bem, vende melhor ainda, inclusive, para fora de Salvador.   

Prova disso é o Grupo San Sebastian, que nasceu como uma boate no Rio Vermelho há 13 anos e hoje já leva djs do seu portfólio para Xlsior Mykonos, na Grécia, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo. No último mês, a San Island Pool Party, inclusive, também fez parte da programação.

�??Somos a principal produtora de eventos voltados, mas não exclusivos, para o público LGBTQIA+ no Brasil. No final do ano passado, levamos pela primeira vez, o San Island Weekend para o Ceará e fizemos o Réveillon em Natal. Além disso, em junho desse ano, foram três dias de Micareta São Paulo, onde atraímos de 10 a 15 mil pessoas por dia, sem contar com duas edições do Blow Out com Cláudia Leitte, em Brasília e no Rio de Janeiro�?�, destaca o sócio da San, José Augusto Vasconcelos. 

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A Micareta São Paulo atraiu cerca de 15 mil foliões por dia
(Foto: Igor do �?/ Divulgação)

Uma comunidade com alto poder aquisitivo e sem limites para se divertir e consumir. Ainda segundo os dados do estudo Rainbow Homes, da NielsenIQ, as famílias arco-íris, ou seja, com pelo menos um integrante da comunidade LGBTQIA+ , representam 5,5% no consumo brasileiro com um gasto 14% maior do que os demais lares. Destes, 30% se mostram dispostos a gastar mais com marcas que conversam com a diversidade. 

E a San entendeu cada movimento desse mercado promissor. Seja micareta, festa ou bloco de Carnaval �?? não necessariamente nessa mesma ordem �?? ainda que cada evento tenha o seu formato, o grupo consegue mobilizar público de todo o Brasil, o que vem consolidando a referência que se tornou para o setor, como complementa o outro sócio do grupo, André Gagliano. Desde o início, o grupo esteve à frente de mais de 100 eventos, uma média de 10 por ano, somando as festas locais, nacionais e internacionais, que alcançam um público aproximado de 10 mil pessoas em cada uma delas. 

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Pelo segundo ano, a San vai realizar também mais uma edição do Réveillon Santé, em Natal (RN)
(Foto: Igor do �?/ Divulgação)

�??Ainda em 2022, temos mais uma edição confirmada do Réveillon Santé em Natal e a Micareta Salvador, em novembro. São, pelo menos, mais dois eventos de grande magnitude inseridos no nosso calendário mesmo com a pandemia. Como consumimos o que �??vendemos�??, entendemos o público, sabemos das exigências, o que agrada e o que desagrada. Sem dúvida, entender onde estávamos pisando foi permitindo que o público, que ainda tinha poucas opções, fosse abraçando a gente e nos vendo como referências�?�. 

Público vip 
A conquista desse mercado não aconteceu por um acaso. Tanto José Augusto Vasconcelos, quanto André Gagliano já tinham desde cedo algum envolvimento com eventos. José Augusto, começou no grêmio da escola.

�??Tudo nasceu de forma muito natural para gente. Já gostava de produzir eventos desde a época do colégio e, mesmo formado em Direito, anos depois, seguia sentindo falta de opções exclusivas para este público em Salvador, numa época em que pessoas LGBTQIA+ ainda sofriam com a segregação e não se sentiam à vontade para frequentar com tranquilidade espaços que não fossem declaradamente amigáveis�?�, conta. 

No caso de André, o fato de ser filho de Luiz Gagliano, fundador de dois tradicionais blocos do carnaval  de Salvador – o Internacionais e o Me Abraça – não levou a outro caminho a não ser o do entretenimento.

�??Quem até deu nome ao Me Abraça fui eu, em 1997. Da Boate San Sebastian para cá, fomos ganhando a confiança do mercado e do público, o que nos permitiu não nos prendermos apenas ao espaço onde tudo nasceu, mas abrir o leque, inclusive para blocos de carnaval e eventos em todo o país. Sempre tivemos os pés no chão e nunca esquecemos de onde viemos. Estamos em um momento muito bom, mas que também demanda muita responsabilidade�?�, afirma.  

Para José Augusto Vasconcelos, fidelizar o público LGBTQIA+ exige um evento muito melhor que o outro a cada edição. �??Assim como o público heterossexual, o público LGBTQIA+ não é homogêneo. A gente atua num nicho específico, de festas mais comerciais, com grandes nomes da cena eletrônica mundial e da música Pop e do Axé. Mas, de maneira geral, é um público muito exigente, que está sempre atrás de novidades. Então, ter isso em mente, entregar eventos de qualidade, que se superem a cada edição é o maior desafio�?�. 

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Para José Augusto e André Gagliano, público é diversificado e exige um evento melhor que o outro a cada edição 
(Foto: Igor do �?/ Divulgação)

Outra estratégia para se fortalecer nesse segmento foi arriscar, conforme reforça André Gagliano. Quando começaram a fazer eventos nos aniversários da boate, ganharam mais notoriedade e expertise e, com isso, a San Sebastian enxergou aí uma oportunidade de expandir e apostar no formato para além da casa noturna.   

�??A gente está sempre conversando com amigos do mundo todo, de olho no que se produz fora e dentro do Brasil. A gente pensa grande, não tem medo de arriscar e o mercado valoriza isso. Temos a confiança do público, mas sabemos que essa confiança precisa ser preservada ano a ano, evento a evento�?�, afirma Gagliano. 

Festas, baladas, micaretas e o carnaval – não necessariamente nessa mesma ordem – se tornaram produtos de exportação de entretenimento baiano, quando José Augusto Vasconcelos e André Gagliano foram ganhando expertise na produção e promoção de eventos LGBTQIA+. �??Hoje, eu diria que não deixamos a desejar em nada pra festas dentro e fora do Brasil. O que pode mudar é mais referente ao público, mas não à qualidade de estrutura. Atualmente, conseguimos excelentes fornecedores em diversas cidades brasileiras, que atendem minimamente os padrões que estabelecemos em diversos aspectos, como som, iluminação e estrutura�?�. 

Sem fronteiras 
Apesar da velocidade na retomada dos eventos, a San Sebastian, no entanto, não ficou imune aos impactos causados pelos dois anos de pausa que o segmento de entretenimento teve que enfrentar devido à pandemia. Ainda que a recuperação seja positiva, o maior receio na retomada era exatamente qual seria o comportamento do seu público. 

�??Não sabíamos se ele voltaria na velocidade que esperávamos, se sentiria seguro nos eventos. Fomos nos preparando dentro das diretrizes estabelecidas pelos órgãos competentes na época e a coisa foi fluindo. O público estava realmente carente das festas, da interação com amigos, de estar em grandes plateias e ficamos felizes com esse retorno positivo�?�, pontua José Augusto Vasconcelos. 

O desafio foi talvez dos maiores, já que o setor de eventos foi o único que, realmente, ficou impossibilitado de operar em grandes proporções. �??Fizemos lives com alguns djs nossos, muito mais para manter a chama acesa no coração do público mesmo, sempre buscando doações para o elo mais fraco do mercado, que são os prestadores de serviço. Tivemos que enxugar equipe, mantivemos o corpo de funcionários que foi possível, porque ficamos 100% parados por um bom tempo. Foi preciso manter a cabeça fria, num momento muito difícil de incertezas�?�. 

A fórmula, continua dando certo: �??Acima de tudo, somos grandes apoiadores dos nomes que a Bahia produz. Ajudamos e estimulamos a formação de muitos djs locais, que hoje são até internacionais. E assim que expandimos, fomos abrindo espaço para as cantoras de Axé, antes mesmo de conquistarmos as cantoras pop. Tudo isso contribuiu muito para sempre nos superarmos e mantermos o nível dos eventos para que tudo isso pudesse trazer a San até aqui�?�, completa Vasconcelos. 

Alto verão 
Em novembro, a San realiza mais uma edição da Micareta Salvador que deve contar com atrações como Claudia Leitte, Pabllo Vittar, Luísa Sonza, Ludmilla, Daniela Mercury, Alinne Rosa além de Ivete Sangalo, Glória Groove e Babado Novo. De acordo André Gagliano, as vendas já alcançaram um volume bem significativo. O acesso custa R$ 330/dia ou R$ 900/pacote (circuito) e R$ 85/dia ou R$ 220/pacote (Lounge PopLine).

�??�? um projeto que deu super certo e que atrai um público muito legal para Salvador, entre os dias 4 e 6 de novembro�?�. 

Outra aposta do grupo para a alta estação é o Réveillon Santé, em Natal, que acontece de 27 de dezembro a 1 de janeiro. �??Teremos Daniela Mercury e Ludmilla na noite da virada, mas muitos outros shows ao longo dos dias, como Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Alinne Rosa, Luísa Sonza, Pabllo Vittar, Gloria Groove e Duda Beat. Acreditamos que seja o maior Réveillon fechado do Brasil�?�, ressalta. 

Já para o Carnaval, as vendas de abadás já estão abertas na plataforma San Folia. Lá, estão sendo comercializadas as fantasias para os blocos Blow Out e Largadinho com  Cláudia Leitte, o Coruja de Ivete Sangalo, o Crocodilo com Daniela Mercury e mais O Vale com Alinne Rosa e o UAU! Com a banda Babado Novo.

�??Estamos bem confiantes para essa temporada de Verão. A expectativa é do melhor Carnaval dos últimos tempos, sem dúvida. São dois anos de expectativa, algo inédito neste sentido, enquanto Rio e São Paulo, mesmo que não na dimensão de sempre, já realizaram o deles esse ano�?�, finaliza o sócio da San.   
 

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