Ao longo dos 57 de carreira, Gal Costa usou sua voz para afrontar os caretas e retrógrados. A artista, que morreu nesta quarta-feira (9/11), aos 77 anos, deixa em sua discografia um legado de combate à misoginia, homofobia, falso moralismo e luta pela democracia.
“Atenção para a estrofe e para o refrão†que o Metrópoles remonta parte da história da MPB com cinco momentos em que a “divina e maravilhosa†Gal Costa contestou padrões com apresentações épicas e hinos atemporais.
“Atenção para o sangue sobre o chão†Ao lançar o homônimo e primeiro LP individual, em 1969, Gal Costa mostrou a sua versatilidade e ironizou o avanço do processo de institucionalização da ditadura promovida pelo então governo do general Costa e Silva (1967-1969).â€Ã‰ preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte/(…)Atenção para o sangue sobre o chãoâ€, alertou Gal, em sua fase psicodélica.
Ãndia censurada Gal experimentou a censura do regime militar pouco tempo depois, em 1973, ao ter a capa do disco Ãndia censurada. Produzido por Gilberto Gil, o LP trazia a intérprete só de biquÃni e o foco em sua região Ãntima. Após o veto, o álbum passou a ser vendido em um plástico azul para esconder as imagens sensuais. Na época “musa dos hippies†e representante da contracultura, a artista subia ao palco sozinha, munida de uma flor nos cabelos, um violão nas mãos, pouca roupa e muita coragem.
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Gal Costa nua Nos anos que se seguiram à censura de Ãndia, Gal seguiu desafiando os padrões morais e conservadores e posou nua, em 1985, para a revista Status. Os registros feitos pela fotógrafa Marisa Alvarez Lima foram acompanhados de um texto do amigo tropicalista, Caetano Veloso.
“Gal só me surpreendeu uma vez: quando a conheci e a ouvi cantar. Foi uma surpresa tão grande e tão profunda que ainda hoje vivo sob o seu impacto. Na hora eu pensei: ‘A maior cantora do Brasil.’ Daà em diante foi só acompanhar os modos com que essa constatação procurou se confirmar.â€
As palavras elogiosas do cantor baiano não impediram, contudo, que Gal passasse ilesa pelo falso moralismo e a fama de “vulgarâ€.
“Arma polÃtica†Um dos momentos mais emblemáticos protagonizados por Gal Costa aconteceu em 1994, durante show no teatro Imperador, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ao interpretar Brasil, de Cazuza, a artista apareceu com uma blusa aberta e deixou os seios à mostra para o público. Entre os fãs de Gal na plateia, estavam nomes famosos como Alcione, Betty Faria, Caetano Veloso, Djavan, Elba Ramalho, Fernanda Torres, Ney Matogrosso e Sandra de Sá.
Gal Costa não se deixou abater pelos aplausos tÃmidos, e, no dia seguinte ao show, explicou a razão de sua performance no palco em entrevista ao O Globo. “Estou adorando ser atriz. Mostrar meus seios foi uma postura polÃtica. Como uma arma!â€, afirmou.
Vá se benzer! Madrinha de Preta Gil, Gal Costa se uniu a filha de Gilberto para tratar da onda de ódio que já tomava conta da internet em 2017. Em feat na música Vá se Benzer, a veterana exalta a a diversidade de cores, corpos e credos no refrão.
“Vá se benzer/ Não banque o santo, eu não pareço com você/Não acredito no que vejo na TV/Meu sangue é forte, de origem nobre/Negro, branco, Ãndio, eu sou eu/ Quem é você?â€, questiona Gal.
Combater os discursos violentos foi um dos propósitos de Gal até o fim de sua vida, em especial nos últimos quatro anos. Em entrevista ao Metrópoles em 2019, ela afirmou nadar na direção contrária e usar a voz para exaltar o bem. “O amor é que move o mundo. Nesta fase tão violenta, falar de amor é revolucionário, e é dever de toda pessoa públicaâ€, conclui.
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