Atiradores de ataques em massa compram armas até um ano antes do ataque, diz estudo

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ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pessoa responsável pelo ataque a tiros que matou seis vítimas em uma escola em Nashville comprou sete armas legalmente nos meses que antecederam o episódio. A motivação do crime ainda não está clara, mas autoridades acreditam que esteja relacionada a um ressentimento contra a instituição.

Para especialistas, a tentativa de obter armas nos meses anteriores e o histórico de violência são padrões frequentemente observados em autores de ataques a escolas.

Elizabeth Tomsich, pesquisadora do Programa de Pesquisa em Prevenção de Violência da Universidade Davis da Califórnia, afirma ser importante observar os padrões de tentativa de compra de armas para conseguir prevenir um episódio como o de Nashville.

Ela é autora de uma pesquisa publicada no periódico especializado Journal of Criminal Justice que analisou os registros de compras de armas no estado da Califórnia por 22 indivíduos que adquiriram os equipamentos de forma legal. Eles têm idade média de 38 anos e realizaram ataques de 1996 a 2018.
O estudo aponta probabilidade 458% maior de ataque em massa quando a compra foi feita no ano anterior ao ataque, e 2.243% maior quando o indivíduo teve histórico de negativas na autorização para obter armamentos. “Tais registros, em combinação com dados sobre os chamados estressores e comportamentos individuais, podem ajudar autoridades a identificar possíveis ameaças”, diz Tomsich.

Além disso, uma segunda análise comparando os ataques em massa ocorridos no estado de 1985 a 2018 apontou maior ocorrência de uso de armas longas (como fuzis), como o utilizado na escola em Nashville, assim como de armas obtidas em outros estados até um mês antes.

Nos EUA, só neste ano foram registrados ao menos 130 ataques em massa, a maioria em escolas. A arma de fogo já é a principal causa de morte de pessoas de 1 a 19 anos no país.

No mesmo dia em que houve um ataque em Nashville, um adolescente de 13 anos matou uma professora a facadas e feriu outras cinco pessoas na escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo. Embora o cenário brasileiro seja diferente do americano no que diz respeito ao acesso a armas, o jovem disse em depoimento que buscou armas de fogo para seu plano, mas não conseguiu comprá-las pela internet.

Especialistas brasileiros costumam dizer que, quando há a possibilidade de acessar uma arma de fogo, a letalidade dos ataques, que se tornaram mais frequentes de 2022 para cá, é ainda maior.

“Este de São Paulo foi feito com uma faca, e ainda assim ele conseguiu matar uma pessoa e ferir outras, mas se tivesse uma arma de fogo, como ocorreu em episódios que tivemos no passado, certamente teria provocado mais vítimas letais”, afirma Roberto Uchôa, policial federal e conselheiro sobre armas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Uma política mais eficaz de controle e regulamentação de armas ajudaria a evitar ataques, diz Uchôa, que também é mestre em sociologia política pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor do livro “Armas para Quem? A Busca por Armas de Fogo”.
Nos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, a política de liberação de compra de armas de fogo por meio dos registros de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) possibilitou aumentar a circulação de armas e munições no Brasil, inclusive de fuzis.

Segundo Uchôa, a maior oferta de armas do tipo na mão de civis só contribui para o aumento da violência. “Os ataques em massa nos EUA com maior número de mortes são os que utilizam diferentes armas”, avalia.

Para Rodrigo Bressan, psiquiatra e coordenador do projeto Ame Sua Mente em escolas de SP, apenas a fiscalização não é suficiente para reduzir a violência no ambiente escolar. “A escola é feita para mediar conflitos, não para estimular. A forma de agir frente a casos de violência e agressão é chave para os alunos entenderem como devem tratar um colega.”

Dados do Brasil são escassos, mas relatório produzido recentemente no país aponta para uma piora da saúde mental de jovens e crianças.

“Quando vemos ocorrências como essas, dizemos que é a ponta do iceberg, porque na base há muitos e muitos casos de agressão, bullying, falta de cuidados. Por isso precisamos cuidar embaixo, antes que aconteçam as tragédias”, conclui Bressan.

ATENÇÃO AO COMPORTAMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
SINAIS QUE PODEM INDICAR PROBLEMAS
Isolamento
Sentimento de exclusão
Poucos relacionamentos
Não fazer parte dos círculos dos demais colegas
Agressividade
Postagens de ódio em redes sociais
Bullying (comete ou sofre)
Depressão

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