Desde 23 de fevereiro eu me tornei pai de uma menina. Marina, a minha primogênita. Com ela vieram novas responsabilidades e atribuições, afinal, a vida muda mesmo e você é exigido a fazer escolhas pensando nela, a sua prioridade 01, e não necessariamente no seu bem-estar, na rotina que não lhe pertence mais.
Definitivamente era o que eu queria e estou radiante com a paternidade. Mas, para o meu espanto em algum momento, o dia seguiu tendo 24 horas. É assim para todos, inclusive para Fernando Diniz, o novo treinador da seleção brasileira.
Diniz foi anunciado como interino por um ano para realizar a transição até que o italiano Carlo Ancelotti assuma, com data prevista para a Copa América de 2024. Ao mesmo tempo, houve um acordo geral para que continuasse à frente do Fluminense, ainda vivo na Libertadores, o seu sonho máximo.
Será um relacionamento aberto, para seguir na linha das analogias. Durante a Data Fifa, Diniz trocará de uniforme, e o Fluminense não viu problema nisso. O combinado não sai caro, dizem. Até que se prove o contrário…
Eu sei que faz parte do senso comum criticar a CBF, mas nessa ela acertou. Não havia como continuar com Ramon Menezes, alçado ao posto de treinador da seleção principal por urgência do momento e consequência da escolha de esperar por Ancelotti. Ramon comandou a seleção em três amistosos, perdeu dois, e isso já foi suficiente para perceber que ainda não estava preparado para a missão.
CBF se resguarda com Fernando Diniz
Fernando Diniz já é mais experiente. Fez bons trabalhos no São Paulo e agora no Fluminense e, ainda que o seu primeiro e único título tenha sido o Campeonato Carioca neste ano, não haverá troféu em disputa até a Copa América para que este seja um argumento razoável contra.
Dentre os brasileiros alcançáveis, a CBF fez a sua escolha para minimizar as chances de constrangimento nas 6 primeiras rodadas das eliminatórias. A seleção ainda poderá perder para Uruguai, Colômbia, Argentina, mas é menos provável com um treinador de Série A à frente. E vai para a Copa de uma maneira ou outra.
+ Seleção: o que Fernando Diniz terá pela frente até a chegada de Ancelotti
Para Diniz, a oportunidade não poderia ser deixada de lado. Primeiro pela instabilidade do universo dos clubes. Se em 1 mês o Fluminense não voltasse a apresentar o futebol que o credenciou, não seria exagero imaginar uma demissão. Especialmente em caso de eliminação nas oitavas de final da Libertadores.
Depois, pois o futebol é dinâmico. O acordo de Ancelotti com a CBF é, até onde sabemos, na palavra. E se o Real Madrid oferecer uma renovação a ele na virada do ano? E se o próprio Diniz superar todas as expectativas neste curto período? E se ele receber um convite para permanecer na comissão e assumir a seleção na Olimpíada? É apostar no próprio trabalho. Vale o risco.
Desfecho não é bom para o Fluminense
Mas não vejo como a decisão possa ser benéfica para o Fluminense. Serão três Datas Fifa até o fim do ano, sempre com paralisação de 10 dias. Estamos falando, portanto, de um mês sem Diniz e dois de seus auxiliares no dia a dia do clube em épocas em que todos os seus rivais estarão treinando.
Além disso, há o inevitável trabalho de acompanhamento de atletas. Para convocar, Diniz precisará dedicar boa parte do seu tempo fora da Data Fifa à seleção. Como ele fará para não afetar a rotina do Fluminense, que corresponde a realizar treinos, estudar adversários, preparar o plano de jogo, entre tantas outras funções?
Fora as convocações. Mesmo que Diniz seja 100% profissional (o que eu acredito que seja), chamar um jogador de Palmeiras ou Flamengo poderá significar uma coisa. Convocar algum atleta do Fluminense, também. E se não convocar, como ficará o clima no retorno?
É bom lembrar que o calendário da CBF não respeita integralmente as Datas Fifa, já que há rodadas do Brasileirão marcadas para o dia seguinte das eliminatórias.
Como o torcedor tricolor confiará que o clube não sairá prejudicado dessa relação?
O dia segue tendo 24 horas para todos.
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