CNJ contraria tribunais para afastar juízes bolsonaristas

Publicado em

Tempo estimado de leitura: 2 minutos

São Paulo — Ao afastar dois juízes em razão da participação em manifestações políticas a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante as eleições de 2022, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contrariou tribunais de origem dos magistrados. As corregedorias de ambas as cortes arquivaram os processos sem aplicar qualquer punição aos juízes. Uma delas apenas fez uma recomendação ao magistrado.

Cabe ao CNJ revisar atos das corregedorias dos tribunais em julgamentos disciplinares ou mesmo na confecção de atos normativos. Em ambos os casos, o plenário do CNJ determinou a abertura de processos disciplinares que podem levar à aposentadoria compulsória dos juízes e o afastarem preventivamente de suas funções.

Um dos juízes afastados foi Marlos Melek, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 9ª Região, que participava do grupo de WhatsApp de empresários bolsonaristas que compartilhavam constantemente manifestos golpistas e ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

À época, o TRT-9 afirmou à Folha de S. Paulo que não havia motivos para abrir uma investigação. No sistema processual da Corregedoria, há apenas procedimentos arquivados sobre o magistrado.

Milícias digitais Eles acabaram sendo alvo de buscas e apreensões no inquérito das milícias digitais, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. Melek afirmou que entrou no grupo apenas para compartilhar uma apresentação que fez ao lado do ex-ministro do STF Marco Aurélio Melo em um evento em homenagem ao jurista Ives Gandra.

O corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, afirmou que a quantidade de vezes em que Melek se manifestou no grupo é “de menor importância”. “A importância reside no fato de nele ter permanecido e ainda fazer comentários em reportagem com referência à política, à políticos, à ideologia política, e tudo de forma expressa”.

“O grupo de WhatsApp no qual se manteve o reclamado passava muito distante de discussões acadêmicas, cotidianas ou corriqueiras. Muito ao contrário, os participantes do grupo, segundo consta e foi noticiado, tramaram contra a República e contra a Democracia, incitando e estimulando condutas antidemocráticas”, anotou.

Evento político O outro juiz afastado é Edson Sossai, da Vara Eleitoral de Nanuque, cidade de 35 mil habitantes em Minas Gerais. Após o primeiro turno de 2022, ele foi a um evento de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) na sede de uma destilaria de álcool. A empresa que recepcionou o evento chegou a ser denunciada ao Ministério Público do Trabalho por assédio eleitoral.

O juiz afirmou que foi a um evento social, e não pretendia fazer campanha. A Corregedoria do TRE de Minas Gerais engoliu a versão e arquivou o procedimento. Em seu voto, Salomão afirmou que a situação “traz contornos de maior gravidade aos fatos aqui verificados”.

“A investidura em função eleitoral, aliada à presença de indícios de violação ao dever funcional de prudência decorrente da participação de evento político-partidário nas dependências de empresa investigada por assédio eleitoral e, em especial, entre dois turnos de período de eleições, acaba por representar possível incompatibilidade ao próprio exercício da função eleitoral à qual fora designado o magistrado”, anotou.

Que você achou desse assunto?

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

- Publicidade -

ASSUNTOS RELACIONADOS

Família associada ao PCC usa prefeitura para lavar dinheiro do tráfico

São Paulo — O patriarca da família Jácome investia sua energia no contrabando de “muambas” antes da chegada do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Rio Grande do Norte, no inicio da década passada, segundo investigação do Ministério Público potiguar (MPRN). Para negociar mercadoria, Laete Jácome de Oliveira (foto em destaque), de 67 anos, deslocava-se

Homem é morto a tiros no bairro de Itapuã; baleado teria tentado assaltar motociclista, apontam testemunhas

Um homem morreu após ser baleado na manhã deste sábado (27), no bairro de Itapuã, em Salvador. Segundo informações da Polícia Civil, testemunhas relataram que ele foi ferido durante uma tentativa de assalto a um motociclista, que estaria armado no momento e reagiu.   O homem baleado chegou a ser socorrido para uma Unidade de

A 4 meses de fechar, ala psiquiátrica da Colmeia ainda tem 139 presos

A quatro meses de deixar de existir, a Ala de Tratamento Psiquiátrico, localizada na Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF), a Colmeia, conta ainda com 139 custodiados. Em novembro do ano passado, a ala tinha 145 presos em tratamento. Desde fevereiro deste ano, a Vara de Execuções Penais (VEP-DF) interditou parcialmente a Ala de Tratamento