Cia teatral brasiliense Setor de Áreas Isoladas encanta mundo afora

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Criada em 2008, na capital do país, a partir da estreia do espetáculo Vialenta: Estudos sobre a violência, a cia teatral Setor de Áreas Isoladas transparece o DNA brasiliense ainda mesmo no nome de batismo. O projeto foi fundado pelos artistas Ada Luana, Camila Meskell, Diego Bresani, Rodrigo Fischer e Taís Felippe, todos egressos do curso de Artes Cênicas da Universidade de Brasília (UnB).

A escolha da alcunha veio de uma forma inesperada: “Eu e o Diego passamos de carro por uma placa e descobrimos que existia um setor de áreas isoladas em Brasília. Sabemos que uma das principais características urbanísticas da cidade é sua divisão em setores, como o setor de diversões, setor comercial, setor hospitalar, setor hoteleiro, etc… E assim achamos muito engraçado — e um pouco absurdo — que o planejamento urbanístico de Brasília pudesse setorizar até mesmo as áreas isoladas, uma espécie de ‘cúmulo da ordem”, conta Ada Luana.

Diante disso, a dupla considerou que esse nome representaria bem a identidade da capital, “conhecida pelo seu cartesianismo, por habitantes considerados pessoas um tanto frias — que se isolam em pequenos grupos —, as chamadas ‘panelinhas brasilienses”, conforme explica à Coluna Claudia Meireles.

“Às vezes, chamamos a nossa cidade de ‘Brasilha’, brincando com seu caráter isolado do restante do país, no quadradinho geográfico do Distrito Federal”, diz Luana. “Brincamos, também, com a ideia de ‘ilha da fantasia’, um lugar que surgiu de tantas utopias, como a de se constituir uma cidade-parque, com suas superquadras auto-suficientes”, continua.

Por fim, Setor de Áreas Isoladas é uma denominação que, além de representar a capital, diz respeito à própria cia teatral. “Afinal, um grupo de teatro não deixa de ser também uma panelinha e a nossa seria essa, ambígua, um coletivo de isolados”, pontua.

Aplausos em estreia em Moscou Apresentação em Moscou Espetáculos memoráveis No rol de apresentações mais marcantes da história da cia teatral, está a estreia ovacionada de Qualquer coisa eu como um ovo, no Espaço Cena, em Brasília, no ano de 2012. O espetáculo foi considerado uma “espécie de despedida da companhia”, em um momento em que o quinteto decidiu fazer uma pausa sem saber quando voltaria. “Fizemos o espetáculo quase sem nenhum recurso e não esperávamos de forma alguma o sucesso de público e crítica que foi”, contam.

A peça Encerramento do Amor, apresentada em Recife, no ano de 2017, também marcou a trajetória do grupo. “Nesse espetáculo, eu atuo e Diego Bresani dirige. Na ocasião, nós estávamos ‘grávidos’ de quase 8 meses (somos casados e temos uma filha de 4 anos hoje)”, fala Luana.

O roteiro aborda uma discussão devastadora do final de um casamento, onde o homem (interpretado pelo ator convidado João Campos) é extremamente agressivo e cruel com a esposa. “Além de toda uma sensibilidade bastante aflorada de toda a equipe para realizar esta apresentação, o João teve que tomar cuidado na saída da peça para não ser linchado pelas mulheres da plateia”, brinca a atriz, diretora e dramaturga.

Equipe em Ekaterimburgo na Rússia Outra obra que se destacou na percepção do clã de artistas foi a estreia de A Moscou! Um palimpsesto, em Moscou, na Rússia. “Foi um dos momentos mais emocionantes e significativos que já vivemos coletivamente. Fomos ovacionados pela plateia moscovita ao longo de quase três minutos”, consideram. “Ter nosso trabalho reconhecido e respeitado lá foi um momento de muita realização e emoção para todos”, acrescentam.

De Brasília para Moscou No território nacional, a companhia Setor de Áreas Isoladas já esteve por Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. Fora do país, o grupo se apresentou em Nova York e, mais recentemente, nas cidades russas de Vladivostok, Moscou e Ekaterimburgo.

Sobre essa última experiência, Luana compartilha que, há aproximadamente um ano, o grupo recebeu um convite do Chekhov International Theatre Festival para integrar a edição de 2023 em Moscou. A peça A Moscou! Um palimpsesto é uma re-escrita da obra As três Irmãs, do grande escritor russo Anton Tchekhov. “Estreamos aqui em Brasília em 2017 e, depois de percorrer muitos festivais (sendo um deles, o On Women’s Festival, em Nova York), e circular por algumas cidades brasileiras, chegou esse convite maravilhoso da Rússia”, expõe.

Inicialmente, a proposta era a realização de três apresentações no Meyerhold Center, em Moscou. “Mas, algum tempo depois, ele se estendeu a dois espetáculos no The Puppet Theatre, na cidade de Ekaterimburgo, como parte do programa regional do The TChekhov International Theatre Festival; e mais dois no Mariinsky Theatre, na cidade de Vladivostok, com os parceiros do The International Pacific Theatre Festival”, afirma.

Recepção especial em Ekaterimburgo A equipe em Vladivostok “Foi uma maratona maravilhosa de 20 dias. Saímos do Brasil em 20 de setembro e chegamos em Vladivostok no dia 22, depois de mais ou menos 45 horas viajando (fizemos escalas em São Paulo, Doha e Moscou). Depois de dois dias de folga para nos adaptarmos a uma diferença de 13 horas de fuso horário, tivemos nossa tão sonhada estreia na Rússia em 26 de setembro e outra apresentação no dia 27”

Por lá, Ada Luana e Camila Meskell também ministraram uma oficina para estudantes e atores de teatro.

No dia 28, o clã voltou para Moscou (depois de oito horas de voo e com mudança de fuso de seis horas de diferença), onde ficaram por mais seis dias. A estreia ocorreu em 1º de outubro, já as outras apresentações nos dias 2 e 3.

Entrevista em Moscou Atrizes no coquetel de estreia em Vladivostok Autógrafos em Vladivostok Em 4 de outubro, a cia teatral partiu para Ekaterimburgo (depois de duas horas de voo e com mudança de fuso, também, de duas horas). “Lá nos apresentamos em 6 e 7 de outubro. No dia 8, já estávamos embarcando de volta para o Brasil, exaustos, mas extremamente felizes!”, celebram.

“Apresentar na Rússia uma re-escrita brasileira, feminina e feminista de uma peça do Tchekhov era, por si só, um baita desafio. Não sabia como o público de lá, que em geral conhece muito bem as obras de Tchekhov, ia receber essa nossa leitura. Também não sabia se iam se engajar em um espetáculo em outra língua e legendado. O resultado foi que, nas três cidades, fomos ovacionados. Os teatros sempre lotados de um público atento e engajado com a obra. Tivemos que nos acostumar com a forma de aplaudir de lá, tínhamos que sair e voltar porque não paravam de aplaudir durante 2 a 3 minutos… Ganhávamos flores do público e da produção, e algumas pessoas vinham pedir autógrafo. Eu dizia o tempo todo que íamos voltar mal acostumados ao Brasil”

Ada Luana, atriz, diretora, dramaturga e produtora executiva e administrativa Na concepção da equipe, como a plateia conhece tão bem o enredo do drama de Tchekhov, as personagens, etc… o “palimpsesto” se tornou mais evidente para eles do que para o público brasileiro. “E assim, os paralelos, comentários e associações que os expectadores faziam em relação às duas obras eram muito interessantes, vivos, inteligentes, instigantes…”, enfatizam.

Oficina em Vladivostok Atrizes no Kremlin Novos planos À coluna, o grupo de teatro antecipa os próximos planos. Isso inclui a estreia do segundo espetáculo dessa trilogia tchekhoviana que será criada a partir da obra A Gaivota. “Estamos em fase de captação de recursos para viabilizar a montagem que queremos estrear em 2024”, diz Luana. “Além disso, estou finalizando meu doutorado em Artes Cênicas na UnB e, associada à tese, estamos gestando um outro espetáculo ainda sem previsão de estreia”, complementa.

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