Jovem leva mata-leão de PMs em ônibus e MPDFT cobra investigação

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“Pensei que ia morrer sem ar, que não ia mais ver minha família, meu filho”, desabafou o auxiliar de serviços gerais Fabrício Ferreira da Silva, 26 anos, após levar um mata-leão de policiais militares, durante abordagem em um ônibus, em Planaltina. A cena foi gravada. A 3ª Promotoria de Justiça Militar requisitou à Corregedoria-Geral da Polícia Militar do DF (PMDF) a instauração de inquérito para apurar o caso.

Veja a cena:

Por volta das 17h, de terça-feira (7/11), Fabrício voltava do serviço para casa, no Arapoanga. O ônibus parou e policiais militares abordaram o veículo. Pediram para os passageiros descerem e na sequência se dirigiram para o auxiliar, e anunciaram a revista. “Eu perguntei o motivo da abordagem. Mas eles não quiseram falar. E vieram com ignorância para mim. Eu falei que ia, mas que queria saber o motivo. Não estava fazendo nada errado”, contou.

Segundo Fabrício, logo na sequência, os militares lhe aplicaram o mata-leão. “Um já segurou o meu braço. Outro segurou o outro. E o outro me enforcou. Saíram me arrastando do ônibus. Só lembro até quando passei do segundo degrau do ônibus. Aí, desmaiei. Acordei quando me jogaram no chão atrás da parada. Soltaram o meu pescoço. Voltou o ar e acordei”, detalhou.

Os militares fizeram perguntas e revistaram o jovem. “Depois de todo esse constrangimento, falaram que receberam uma denúncia de uma pessoa armada dentro do ônibus com as minhas características”, revelou. Os policiais não encontraram arma alguma. Fabrício ficou envergonhado e revoltado com episódio e decidiu denunciar o caso à 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa (CLDF).

Fabrício enfatizou que, apesar dos questionamentos, estava indo para a revista sem oferecer resistência. “Eu me senti bastante constrangido. Nunca aconteceu algo assim, ainda mais na frente de tanta gente. Nunca levei mata-leão de policial”, contou o pai do pequeno Arthur Ferreira da Silva, de apenas 3 meses de vida. Fabrício é casado com Andreza Sousa Ferreira, 28. A esposa chorou após saber o que aconteceu.

Justiça “Quero Justiça”, afirmou Fabrício. Para o auxiliar, houve preconceito na ação policial. “Me viram moreno, com tatuagem, com corrente de prata e pensaram: é um vagabundo. O trabalho correto da polícia não precisa da violência e da força. No meu caso, não mostrei resistência, não ameacei eles. Não fiz nada para eles me tratarem daquele jeito. Se eu tivesse resistido, xingado, mas não falava nada. Não fiz nada disso”, argumentou.

Na quinta-feira (9/11), a 3ª Promotoria de Justiça Militar requisitou à Corregedoria-Geral da PMDF a instalação de um inquérito policial militar para apurar a denúncia de abordagem policial truculenta. A Promotoria solicitou resposta no prazo de 10 dias.

70 denúncias Para o presidente da comissão de Direitos Humanos da CLDF, deputado distrital Fábio Felix (PSol), o episódio é inaceitável. “Não é um caso isolado. Só nesse ano, foram 70 denúncias de violência policial”, assinalou. A CLDF cobrou apuração da PMDF, do MPDFT. “Também são necessárias medidas preventivas, como as câmeras corporais. O projeto precisa andar. A Polícia Militar recentemente suspendeu a licitação”, comentou.

Segundo o parlamentar, outras medidas necessárias são o reforço do atendimento psicossocial para os policiais militares, mais rigidez nos protocolos de abordagem e uma reciclagem na PMDF.

PMDF justifica mata-leão Por nota, a PMDF negou qualquer irregularidade na abordagem policial. Segundo a corporação, rapaz teria levado a mão à cintura e por isso os militares precisaram imobilizá-lo. Também não informou se pretende atender à recomendação do MPDFT.

Leia a nota completa

A equipe de policiais militares realizavam patrulhamento quando foram acionados para uma ocorrência em que um homem estaria armado dentro do ônibus. No local, a equipe solicitou que os passageiros descessem do ônibus para que fosse realizada uma abordagem. Foi solicitado ao homem que saísse do ônibus para realizar a revista, porém, ele se recusou. Após um tempo, o homem se dirigiu na direção dos policiais e levou a mão à cintura. Momento em que a equipe conteve o homem dentro do ônibus para levá-lo para fora e realizar a abordagem. A pessoa deve colaborar com abordagem para facilitar o trabalho da polícia e evitar constrangimentos. Nada foi encontrado com o homem e a equipe explicou o motivo da abordagem.

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