Por descuido ou confusão mental, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) admitiu que seu pai tinha um esquema de informações paralelo à Agência Brasileira de Informações (Abin), Polícia Federal e demais órgãos encarregados de deixar o presidente da República a par do que acontece no país. Certamente ele não se referia ao esquema de Jacaré.
Amigo há mais de três décadas de Jair Bolsonaro, o ex-militar Waldir Ferraz, conhecido pela alcunha de Jacaré, gabava-se de telefonar a qualquer hora para o presidente contando o que apurava sua rede particular de arapongas. Os dois se afastaram depois que Ferraz pisou na bola e confirmou a história das rachadinhas nos gabinetes dos Bolsonaro.
De sua parte, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) também admitiu que guardava no seu gabinete da Câmara um laptop e um celular da época em que era diretor-geral da Abin. Disse que esqueceu de devolvê-los desde que deixou o cargo há quase dois anos, e que não via nada demais nisso. Porém, há quem veja, e muita coisa.
A Polícia Federal conferiu que o laptop permitia que Ramagem acessasse ou recebesse informações sigilosas da Abin, o que configura crime. Quando um servidor público pede demissão ou é demitido, ele é obrigado a devolver tudo o que o Estado pôs à sua disposição, até o botton de funcionário, quanto mais um laptop ativo.
Flávio e Ramagem estão envolvidos no escândalo que levou a Abin a espionar milhares de pessoas consideradas um perigo para o plano de Bolsonaro de manter-se no poder por um largo tempo. Sob o comando de Ramagem, a Abin ajudou Flávio a defender-se no caso da rachadinha. Ramagem, por ora, mas só por ora, é quem parece mais encrencado.
No futuro, por tudo o que a Polícia Federal já descobriu até aqui e só revelou um pedaço, o encrencado número um será o pai de Flávio, já inelegível por oito anos. Foi Bolsonaro quem pôs Ramagem à frente da Abin. Foi Bolsonaro que quis nomeá-lo diretor-geral da Polícia Federal e a Justiça impediu. Afinal, para quem a Abin de Ramagem espionava?
É por isso que grassa o pânico no meio e nas cercanias da ex-primeira família presidencial brasileira. Ela sabe muito bem o que fez, mandou que fosse feito e esconde a sete chaves. Ramagem foi apenas um serviçal fiel dos Bolsonaro que, como recompensa, ganhou um mandato de deputado. Se apenas perder o mandato, sairá no lucro.
A família, não. Terá muito a perder se o escândalo for totalmente desvendado. Quanto à Jacaré, respira aliviado com a frustração do seu sonho de disputar uma cadeira de deputado em 2022 pelo PTB do ex-deputado Roberto Jefferson. Bolsonaro não o apoiou. Às vésperas das eleições, Jefferson jogou granadas em agentes federais e está preso.
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