Eslováquia restringe direitos LGBT+ e desafia lei da União Europeia

Publicado:

compartilhe esse conteúdo

O Parlamento eslovaco aprovou recentemente uma emenda constitucional que impõe restrições aos direitos das pessoas LGBT+. A nova norma determina que a legislação nacional deve prevalecer sobre o direito europeu em várias questões. Esse texto limita os direitos de casais do mesmo sexo e dificulta a mudança de gênero para pessoas intersexo. A proposta obteve 90 votos a favor entre os 99 deputados presentes.

Embora a maioria da oposição tenha se abstido, nove de seus integrantes votaram a favor, o que possibilitou a aprovação da emenda. O voto, que estava previsto para quarta-feira, foi adiado e retomado na sexta-feira.

Michal Simecka, líder do Progresívne Slovensko, o principal partido de oposição, considerou a decisão um “voto vergonhoso”. Ele criticou a “traição” de colegas que contribuíram para a aprovação e alertou que isso “prejudicará o povo eslovaco” e poderá afetar a posição da Eslováquia na UE.

O primeiro-ministro Robert Fico, que lidera um governo nacionalista, defendeu a medida. Em janeiro, ele evocou “tradicionalismos e herança cultural” para justificar a criação de uma “barreira constitucional contra o progressismo”.

Limitações a direitos e soberania

A nova proposta estabelece que existem apenas dois sexos, masculino e feminino, definidos ao nascimento. Além disso, o texto restringe a adoção a casais casados, com exceções raras. A Constituição já definia o casamento como a união entre um homem e uma mulher desde 2014, durante um mandato anterior de Fico.

Outro ponto central da emenda afirma que a “soberania” da Eslováquia em questões culturais deve prevalecer sobre o direito europeu.

Alertas internacionais

A Eslováquia, membro da União Europeia desde 2004, comprometeu-se a respeitar os direitos fundamentais ao aderir ao bloco. A Comissão de Veneza, órgão consultivo do Conselho da Europa, emitiu um alerta, lembrando que os Estados não devem conflitar “questões culturais” com os tratados internacionais. Também ressaltou que a definição binária de sexo não deve justificar discriminação em legislações futuras.

Martin Macko, diretor da ONG Iniciativa Inakos?, criticou a emenda, afirmando que ela cria novos obstáculos para a transição de pessoas transgênero e inscreve desigualdades que afetam famílias de casais do mesmo sexo. Ele vê essa medida como um “primeiro passo concreto” rumo ao afastamento da UE e uma maneira de desviar a atenção da crise política atual.

Desde que voltou ao poder, Fico, considerado um dos poucos aliados do Kremlin na UE, enfrenta protestos frequentes. Seu governo intensificou o controle sobre a mídia, trocou lideranças em instituições culturais e anunciou a suspensão de subsídios a associações de defesa dos direitos LGBT+.

Esse debate sobre os direitos LGBT+ ocorre em um país que ainda se lembra do assassinato de dois homens em um bar gay em Bratislava, em 2022. O tema é delicado e polarizou a população.

Facebook Comments

Compartilhe esse artigo:

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Tempestade de neve deixa NY e Nova Jersey em estado de emergência

Em um dos fins de semana mais movimentados do fim de ano, a região nordeste dos Estados Unidos foi atingida por uma tempestade...

VÍDEO: Prefeito destaca a participação de 800 idosos em show de Roberto Carlos em Salvador

Durante a coletiva de imprensa do Festival Virada Salvador, realizada na Arena Canto da Cidade, no bairro da Boca do Rio, o prefeito...

Greve: mediação do TST entre Correios e trabalhadores acaba sem acordo

Os trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) vão manter a greve após negociação mediada pelo Centro Judiciário de Métodos Consensuais...