Sextorsão é uma forma de extorsão sexual na internet em que o agressor conquista a confiança da vítima, muitas vezes uma criança ou adolescente, para exigir conteúdos íntimos sob a ameaça de expor tudo online. O diálogo inicial costuma ser afetuoso, criando um vínculo virtual que facilita a manipulação ao longo do tempo.
Especialistas preferem usar o termo extorsão sexual para enfatizar o caráter de violência por meio de chantagem com fins de abuso e exploração. Segundo Juliana Cunha, da SaferNet Brasil, a prática envolve ameaças, chantagem e manipulação para explorar sexualmente a vítima.
As vítimas costumam ser meninas entre 7 e 16 anos, embora jovens do sexo masculino também possam ser atingidos. A delegada Lisandrea Salvariego, chefe do Noad (Núcleo de Observação e Análise Digital) da Polícia Civil de São Paulo, destaca que a idade favorece a cooptação, que pode se intensificar conforme a maturidade emocional avança.
O agressor é paciente e persiste. Um namoro virtual pode durar cerca de 10 meses até o pedido da primeira foto íntima; depois disso, as ameaças se intensificam, com a promessa de divulgar conteúdos privados para mãe, pai, escola e amigos próximos. A vítima, muitas vezes, é manipulada por conta de uma engenharia social habilidosa.
“A sextorsão envolve todo tipo de ameaça, chantagem ou mesmo manipulação para fins de abuso e exploração sexual”, explica Juliana Cunha, diretora de projetos especiais da SaferNet Brasil.
As vítimas acreditam nas intimidações porque dados vazados e o uso de bots ilegais em plataformas como o Telegram permitem fácil acesso a informações privadas, fortalecendo o medo de revelar o crime.
Com o tempo, a violência pode evoluir para situações de automutilação e estupro virtual, para evitar que as imagens sejam vazadas. Na semana passada, um jovem de 18 anos em Agrolândia, Santa Catarina, foi acusado de estimular jovens, por meio do Discord, a praticarem automutilação, com cerca de 30 vítimas entre 10 e 15 anos. Em um caso, ele mandou que uma jovem escrevesse o nome da delegada no corpo com uma navalha; as provas mostraram imagens de automutilação e símbolos de ódio, como a suástica.
Embora meninas sejam as vítimas mais frequentes, meninos também podem ser atingidos. Há relatos de um rapaz de 16 anos que acreditou estar namorando alguém que conheceu num jogo e acabou sendo extorquido. Além disso, jovens do sexo masculino costumam ser cooptados para disseminar valores misóginos em comunidades online, o que agrava o problema.
Os maiores desafios para as vítimas são falar sobre o ocorrido e buscar ajuda, e, em seguida, obter uma resposta adequada das autoridades. A delegada Juliana ressalta que muitos casos femininos envolvem auto-culpa, medo de retaliação e vergonha, fatores que dificultam o relato. Em várias famílias, a relação entre mãe e filha fica prejudicada, dificultando o acolhimento da vítima.
O caminho para enfrentar a sextorsão envolve orientação, apoio às vítimas e uma resposta firme das autoridades. O tema exige educação digital, diálogo entre familiares, escola e comunidade, para prevenir casos e oferecer amparo adequado às vítimas.
Se você conhece alguém em situação semelhante ou já passou por algo parecido, procure apoio imediato de serviços de proteção e compartilhe informações com pessoas de confiança. Conte nos comentários sua opinião ou experiência para fortalecermos caminhos de prevenção e apoio.

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