Seguindo a trilha de caos dos Sex Pistols

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Com todo o respeito ao grunge, mas foi o punk, criado no final dos anos 1970, o último movimento realmente relevante do rock??n??roll, virando referência para todo mundo que veio em seguida, inclusive para Kurt Cobain, o símbolo maior da cena de Seattle. Rebeldes com causa, as vozes do punk rock queriam gritar a plenos pulmões que não aceitavam mais os costumes tradicionais do estilo de vida britânico e, incentivados pela máxima do ??faça você mesmo?, começaram a criar em diversas frentes, sem nenhum compromisso com o cânone. 

O maior porta-voz do movimento foi a banda Sex Pistols, que tem sua história contada na ótima Pistol, minissérie recém-chegada ao catálogo da plataforma Star+. Com direção do cineasta britânico Danny Boyle, vencedor do Oscar por Quem Quer Ser Um Milionário (2008), a trama apresenta a saga do grupo desde sua primeira faísca até a explosão do punk num coquetel de atitude visceral. 

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A grupo lançou apenas um álbum, o antológico Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols, de 1977 (divulgação)

Com roteiro baseado no livro autobiográfico do guitarrista Steve Jones, Lonely Boy: Tales from a Sex Pistol, a série resgata momentos antológicos do grupo inventado pelo marqueteiro Malcolm McLaren, marido da estilista Vivienne Westwood, criadora da identidade visual da banda (e do símbolo da anarquia, tão caro ao movimento). McLaren andava de olho nos frequentadores da Sex, loja de Westwood, onde os desajustados costumavam bater ponto, e em um deles viu a fagulha perfeita para incendiar o conservadorismo vigente. Analfabeto funcional, Steve Jones não tinha nenhum talento musical mas sonhava em ser grande. De uma hora para outra, foi alçado a guitarrista dos Pistols, banda formada ainda por Johnny Rotten (voz), Paul Cook (bateria) e Sid Vicious (baixo). 

Veja o trailer de Pistol:

Danny Boyle conduz a história com a propriedade de quem viveu isso de perto ?? embora tenha sido fã do The Clash, estes, sim, musicalmente bem mais talentosos. “Eu não estaria aqui sem os Sex Pistols, tenho absoluta noção disso. Não tenho dúvidas de que essa revolução que eles criaram mudou o destino de muitas pessoas”, disse ele à Folha de S.Paulo, comparando os caras a um marco-zero para a juventude fazer o que tivesse vontade.  ??Eles literalmente derrubaram os portões do poder. Lembro muito claramente, havia um senso de: ‘Uau, somos mais livres do que antes’. Então, sim, foi algo que significou muito para mim”, completou o diretor de Trainspotting (1996).

Com várias cenas de época inseridas como hiperlinks, enquadramentos ágeis, fotografia muito bem cuidada e uma trilha sonora incrível, Pistol emula mesmo a sensação de anarquia se impondo. Até porque, para aquele pessoal, a música propriamente dita era o que menos importava (não à toa o punk mais cru se norteia por apenas três acordes), mas sim o barulho que ela provocava. Entenda-se aí que o punk era sobretudo um movimento político contra a estrutura social engessada da monarquia, pensado para soar desagradável mesmo. 

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Brodie-Sangster é Malcolm McLaren e Talulah Riley interpreta Vivienne Westwood (divulgação)

Boyle casa as questões político-culturais com a jornada humana dos personagens nos três anos em que os Sex Pistols estiveram juntos, período em que lançaram um único disco, o antológico Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols (1977). Focada na relação de Jones e McLaren, a história escrita por Craig Pearce (do recente Elvis) media as carências de quem estava na rabeira da cadeia alimentar, ou seja, a banda, com os delírios daqueles que tinham condições estruturais de peitar o sistema, o caso de McLaren e Westwood. Ou seja, o retrato da velha e boa luta de classes.

Outra coisa bacana de se ver nos seis episódios de Pistol é o entorno. Dá para perceber a cena reggae de Bob Marley chegando em Londres, e a presença seminal das cantoras Chrissie Hynde (do Pretenders) e Siouxsie (de Siouxsie & The Banshees) e da modelo Pamela Rooke, além da problemática groupie Nancy Spungen, que ficou mais conhecida como a namorada de Sid Vicious.
 

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