Durante muitos anos, os livros do autor britânico J.R.R. Tolkien foram considerados ??infilmáveis??. E olhe que, desde seu lançamento nos anos de 1950, houve foi gente cobiçando o projeto de recriar a Terra Média no audiovisual – dos Beatles a Stanley Kubrick. Até que, em 2001, o diretor neozelandês Peter Jackson conseguiu realizar o que muitos já tinham sonhado: resumir com brilhantismo a trama longa demais apresentada nos três livros que compõem O Senhor dos Anéis e filmar não apenas um, mas três longas em paralelo.
Com dimensão e bilheteria (quase US$ 3 bilhões ao redor do mundo) sem precedentes, o resultado só pode ser classificado como uma obra-prima. Estava definido o marco-zero para o que a fantasia épica produziria a partir dali no cinema ou na televisão. Da encantadora saga Harry Potter ao emaranhado Game of Thrones, tudo desde então descende da esmerada trilogia de Peter Jackson em produção, mitologia, efeitos especiais e até nos enquadramentos grandiloquentes, com andamentos de câmera inéditos para o gênero até ali.
Com a popularização das plataformas de streaming, a ideia de produzir uma série original inspirada na obra de Tolkien começou a ser discutida. Mas, nessas duas décadas, não houve quem conseguisse levar o projeto adiante. Peter Jackson, que poderia ser o herdeiro direto disso, transpôs O Hobbit para o cinema, mas em um trabalho ambicioso demais para o conteúdo singelo do livro homônimo.
Veja o trailer de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder
Em 2017, Jeff Bezos, dono da Amazon e fã declarado de Tolkien, resolveu bancar a proposta para rivalizar com GoT, da HBO. E eis que, lá e de volta outra vez, vamos agora para a Terra Média junto com a produção espetacular O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, que acabou de chegar ao Prime Video. Limites de escala? Não temos. A série dirigida pelo talentoso cineasta espanhol Juan Antonio Bayona (Jurassic World: Reino Ameaçado, O Orfanato, O Impossível) se configura como a mais cara da história, com US$ 60 milhões investidos em cada um dos oito episódios iniciais.
A incursão pela trama também cava mais fundo. Se passa milhares de anos antes da trilogia cinematográfica, no período conhecido como a Segunda Era da Terra Média, quando começam a se estabelecer bases para os eventos decisivos que veremos no curso das (já planejadas) cinco temporadas que virão. A saber: a ascensão de Sauron e a forja dos anéis que ele usou para dominar a Terra Média através da ambição dos líderes dos homens, magos, anões e elfos.
Pelos dois episódios, de uma hora cada, apresentados à imprensa, Os Anéis de Poder promete ampliar o encanto que Peter Jackson criou lá atrás. Seduz não só os fiéis iniciados na mitologia desenhada por Tolkien, como também deve cooptar um público novo, já imerso em conteúdos de fantasia ao longo dos últimas décadas. A trama passeia por diversos reinos ?? homens, elfos, anões e pés-peludos ?? com tanta riqueza de detalhe que assistir somente uma vez não dá conta. A visão desses mundos inteiros dentro do mundo que é a Terra Média poderia prejudicar o ritmo da narrativa, mas não o faz.
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Inspirada nos apêndices de SdA e no livro O Silmarillion, a trama segue a jovem elfa Galadriel (Morfydd Clark), interpretada na maturidade por Cate Blanchett no cinema. Em Os Anéis de Poder, vemos como ela entrou na luta contra Sauron, após ser afetada pela morte do irmão. Além de Galadriel, que se apresenta claramente como protagonista da história, outros personagens também começam a ganhar espaço para a grande batalha contra Sauron que dá início à Terceira Era (aquela apresentada por Jackson).
A esperta Nori (Markella Kavenagh) é uma pé-peludo comunidade encantadora que dá origem aos hobbits no futuro. Já o elfo Arondir (Ismael Cruz Córdova) transita pelo mundo dos homens, raça por que tem desprezo e fascínio. O carismático príncipe anão Durin (Owain Arthur) é o herdeiro das minas de Moria, onde Gandalf será derrotado pelo Balrog, e nos apresenta o reino de Khazad-Dûm no esplendor que apenas supomos em A Sociedade dos Anéis. O elfo Elrond (Robert Aramayo), vivido por Hugo Weaving no cinema, atua como diplomata e tem uma relação de profunda amizade com Galadriel.
Aos fãs preocupados com os rasgos naturais que uma obra tão grande pode provocar no original que a inspirou um recado: o espírito ??tolkeniano?? continua presente, sobretudo no texto. E os temas que são caros aos seus leitores, como o companheirismo, o heroísmo e, claro, as dicotomias bem/mal e finitude/eternidade, ainda estão lá, bem fincados.
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