Brasil deve crescer abaixo da média do mundo e de países em desenvolvimento, diz FMI

Publicado:

A economia do Brasil deve crescer neste ano abaixo da média global, da média da América Latina e da média de países em desenvolvimento, aponta relatório do Fundo Monetário Internacional divulgado nesta terça-feira (11).

Enquanto, segundo as projeções do FMI, o Brasil deve ver seu PIB (produto interno bruto) crescer 2,8% em 2022, o mundo deve registrar crescimento médio de 3,2%.

O dado é divulgado em um momento em que o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), propagandeia em sua campanha de reeleição que o Brasil foi o país que melhor se recuperou da crise mundial. Reportagem da Folha no mês passado mostrou que desde os governos Dilma Rousseff e Michel Temer (2011-2018) o Brasil tem crescimento abaixo da média global, e o relatório do FMI mostra que a tendência se repetirá com o atual presidente.

A América Latina também deve ver suas economias se expandirem acima da média do Brasil, com crescimento de 3,5% ao fim do ano -com aumentos maiores em países como Argentina (4%), Colômbia (7,6%), Bolívia (3,8%) e Uruguai (5,3%).

O Brasil faz parte do grupo de mercados emergentes e economias em desenvolvimento, que devem ter também um crescimento médio acima do brasileiro, com 3,7%. A Índia deve registrar crescimento de 6,8% no PIB, enquanto a China deve ver seu PIB crescer 3,2%. O índice chinês, no entanto, é baixo para os padrões do país pré-pandemia, e esse é um dos motivos que ajudam a explicar uma média global baixa, segundo o FMI. Na China, tem pesado o enfraquecimento do setor imobiliário, que representa um quinto da atividade econômica do país, e a continuidade das políticas de lockdown para conter o vírus.

Para o ano que vem, a perspectiva do Brasil é ainda pior, com o PIB crescendo apenas 1%, enquanto o mundo deve crescer 2,7% -o que já é considerado baixo pelos patamares do FMI. (Para o Brasil, o Banco Central prevê crescimento do PIB de 2,5% no ano que vem e 2,7% neste ano).

O relatório foi divulgado em meio às reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que ocorrem durante toda a semana na capital dos Estados Unidos, Washington, com políticos e economistas de todo o mundo. ?? a primeira vez que as reuniões acontecem de forma completamente presencial desde 2020, com eclosão da pandemia da Covid-19.

Viajaram à cidade o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Guedes se reuniu com ministros da economia e da agricultura dos países do G20 na manhã desta terça, e terá ao longo do dia encontros também com empresários e representantes do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Chama atenção, porém, o fato de que o Fundo revisou as projeções de crescimento do Brasil para cima -2 pontos a mais do que o previsto em abril deste ano-, enquanto a expectativa caiu em outras regiões. Os EUA, por exemplo, devem fechar o ano com crescimento 2,1 pontos percentuais abaixo do que o previsto pelo FMI no primeiro semestre.

O relatório aponta também que o Brasil deve fechar o ano com inflação de 9,4%, patamar alto, mas similar ao de outras economias da região como Colômbia (9,7%). Nos Estados Unidos, a inflação, em patamares históricos, deve fechar o ano em 8,1%, projeta o fundo.

Os casos mais graves no continente ocorrem na Venezuela (previsão de 210%) e na Argentina (72,4%). O fundo prevê, porém, que em 2023 esses dois países mantenham ou até aumentem a hiperinflação, enquanto o índice deve baixar no Brasil (para 4,7%), Estados Unidos (para 3,5%) e em quase todos os países da região.

A inflação persistente e desenfreada é a maior ameaça à economia global, aponta o FMI, e uma série de motivos explicam a alta dos preços. Na Europa, pesa sobretudo a crise energética, com redução de oferta de gás após o início da Guerra da Ucrânia. O conflito também pressionou o preço dos alimentos no mundo todo, com a dificuldade da exportação de grãos, afetando mais os países de renda mais baixa. Outro fator que influencia nos preços de forma global foi a alta do petróleo -e pode ser mais significativa agora, que a Opep+ aprovou um corte na produção de barris por dia.

Dados divulgados pelo IBGE nesta terça apontam deflação (queda de preços) de 0,29% em setembro, queda no IPCA pelo terceiro mês consecutivo.

O FMI defende que os bancos centrais respondam de forma firme à inflação, mas alerta que um aumento de taxas de juro mais alto do que o necessário pode empurrar as economias para uma recessão desnecessariamente severa. A taxa básica de juros no Brasil, hoje em 13,75%, está no patamar mais alto desde dezembro de 2016.

Facebook Comments

Compartilhe esse artigo:

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Academia em São Paulo aposta em treinos com hora marcada para evitar superlotação

Um novo modelo de academia está chamando atenção em São Paulo, oferecendo uma alternativa às salas de musculação lotadas. A rede Silva Gym,...

BNDES já liberou R$ 4 bilhões para empresas afetadas pelo tarifaço dos EUA

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou a liberação de R$ 4 bilhões em créditos para auxiliar empresas brasileiras que...

Dia das Crianças deve movimentar R$ 10 bilhões em vendas

O Dia das Crianças, com previsões de vendas que podem alcançar R$ 10 bilhões, se destaca como a terceira data mais importante para...