A corrida maluca (e perigosa) de Cid antes da viagem com Bolsonaro

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Depoimentos, mensagens, ofícios e outros documentos mostram que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro preso na quarta-feira pela Polícia Federal, dedicou suas últimas horas no cargo a uma corrida contra o tempo – e, ao que tudo indica, também contra a lei – para resolver controversas pendências do núcleo duro bolsonarista antes da decolagem coletiva para a Flórida, nos Estados Unidos, em 30 de dezembro de 2022.

Simultaneamente, ele atuou na operação de resgate das joias retidas no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e na suposta fraude do sistema nacional de vacinação, usando dados forjados de um posto de saúde de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro (veja galeria).

No depoimento que prestou à PF no dia 5 de abril sobre a tentativa de resgate das joias milionárias, Cid deixou clara sua proximidade com o então presidente. Afirmou que “tinha acesso direto” a Bolsonaro, com quem “falava diariamente”. E não escondeu o frenesi que viveu no período nem o clima de despedida pré-embarque para os Estados Unidos.

O tenente-coronel disse que as “as coisas estavam muito tumultuadas” porque “faltavam apenas quatro dias para o término do governo e o presidente, como o declarante (o próprio Cid), sairiam do Brasil dentro de dois dias”.

Documento falso e ofício da Receita Foram dias intensos – e repletos de movimentos para lá de polêmicos. Em 21 de dezembro, concretizando o plano do militar, sua filha Gabriela Cid embarcava para Miami, nos Estados Unidos, usando um certificado de vacinação “ideologicamente falso”. Para a PF, um caso de “crime de documento falso”.

Vencida a etapa, Cid se empenhou em outra frente, que hoje também é alvo da PF. Como ele mesmo contou, falou diretamente com o então secretário especial da Receita federal, Júlio Cesar Vieira Gomes, para buscar formas de liberar as joias que haviam sido retidas em Guarulhos, o que investigadores veem como uma atuação indevida do ex-comandante da Receita – e um sinal de que a Presidência cogitava levar os supostos presentes na bagagem.

Cid disse que falou “sobre o assunto” com Júlio César, “por telefone”, quando recebeu orientações de “como deveria ser feito o documento para solicitar a retirada” dos itens. No dia 28 de dezembro, o ajudante de ordens de Bolsonaro assinou o ofício, endereçado ao próprio Júlio, registrando a vontade do Planalto de recuperar os bens. O documento, com o brasão da Presidência da República, é tratado na investigação como um ato de ofício que expõe a dupla – o presidente e seu ajudante de ordens – na tentativa de resgate.

Preparando o desembarque No dia seguinte, em 29 de dezembro, Cid mandou um subordinado despencar de Brasília até o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, com o tal ofício em mãos. Naquele dia, ainda segundo o depoimento que prestou à PF, o ajudante de ordens de Bolsonaro fez ligações para o então chefe da Receita para pedir ajuda, já que o emissário enfrentava dificuldades para cumprir a missão no aeroporto — os funcionários da Receita no local se recusavam a entregar as joias.

Vinte e quatro horas depois, com o mesmo telefone, Cid voltava a cuidar da documentação para atestar, com base em dados falsos, que ele, Bolsonaro e outros integrantes do núcleo duro do então presidente estavam vacinados contra a Covid-19 — um requisito básico para entrar nos Estados Unidos. Segundo a investigação da PF, Cid usou seu próprio aparelho de telefone celular para emitir, usando o acesso de Jair Bolsonaro, um certificado de vacinação gerado com informações previamente falsificadas.

Mais evidências à vista O tenente-coronel foi o braço-direito (e esquerdo) de Bolsonaro em dois dos mais rumorosos escândalos recentes da era Bolsonaro. Para além disso, também está encrencado em outras histórias, como aquela em que é investigado por disseminar informações falsas sobre a Covid-19 e por vazar documentos sigilosos para desacreditar o sistema eleitoral.

Nas investigações mais recentes, o militar pode ser peça fundamental para que a PF avance ainda mais na direção de Bolsonaro — nos dispositivos eletrônicos apreendidos com ele, o celular em especial, os investigadores poderão encontrar mais provas capazes de comprometer o presidente nessas e em outras frentes. Cid e Bolsonaro continuam abraçados, só que agora de uma forma nada confortável — nem para um, nem para outro.

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