Juan Paiva fala sobre injustiça sofrida em série: ‘Nunca passei por algo tão duro e cruel’

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VITOR MORENO
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – “Todos nós já vivemos algum tipo de injustiça”, diz Juan Paiva, 26, ao ser perguntado sobre onde busca o sentimento de seu personagem, Balthazar, em “Justiça 2”. Na série, disponível no Globoplay e com novos episódios chegando na plataforma todas as quintas-feiras, o rapaz é um motoboy que acaba preso por um reconhecimento facial errôneo feito por uma vítima de assalto à polícia.

“O que acontece com o Balthazar é muito sério, nunca passei por algo tão duro e cruel”, conta o ator. “Espero não passar, e que nenhum dos meus amigos ou pessoas que eu amo passe, sacou? Mas, na vida, todo mundo já viveu alguma situação em que se sentiu injustiçado, seja na família, na roda de amigos. Às vezes, são coisas pequenas que a gente não dá tanta relevância.”

Além da série, o carioca também tem recebido elogios pelo papel de João Pedro, o filho caçula do coronel do cacau José Inocêncio (Marcos Palmeira) em “Renascer”, novela das nove da Globo. O rapaz é enjeitado pela família desde que a mãe morreu no parto dele. Para Paiva, os dois personagens podem até ter alguma semelhança, mas muitas mais diferenças.

“Balthazar é um personagem totalmente diferente de João Pedro”, avalia. “O Balthazar sofre no lugar da injustiça. É um jovem trabalhador, que é criado pela avó para ser um guerreiro da vida. E, com toda a personalidade, a dignidade, o caráter e a humildade dele, ele vai tentando ganhar a vida dessa forma.”

“João Pedro é um personagem que sofre num lugar diferente”, compara. “Sofre pela culpa que carrega da mãe ter morrido no parto dele. É um rapaz que mais se parece com o pai, mas também não tem esse amor recíproco, sabe? Ele tenta resgatar isso durante a própria trajetória. Mas tem um lugar de independência, de força, de não abaixar a cabeça para as dificuldades da vida… Eu acho que é aí que eles conversam.”

Fato é que são dois personagens sofridos, e que o ator dá conta do recado quando é preciso evocar essa emoção em cena. “Ultimamente eu venho fazendo uns personagens a quem a vida vai oferecendo essa consequência negativa”, admite. “Mas eu tento levar para eles um pouco mais de leveza e carisma. Por mais que a história às vezes dê uma pesada.”

Paiva até tem vontade de experimentar lugares diferentes dentro da atuação, mas acha que ainda tem muita lenha para queimar sem ficar marcado por um único tipo. “Acho que são muitas possibilidades para eu me fechar numa coisa só”, comenta. “Mas enquanto tiver personagem para sofrer, nós vamos estar sofrendo (risos).”

Para compor Balthazar, o ator diz que não teve tempo de conversar com nenhum motoboy, mas que conhece vários jovens parecidos com ele. “O Brasil tem vários personagens assim, que sofrem esse tipo de injustiça”, lembra. E os exemplos, de fato, estão na ponta da língua.

“Enquanto eu estava gravando em Brasília [a série foi ambientada na cidade satélite de Ceilândia, no DF], eu vi uma matéria sobre um garoto que estava saindo da cadeia depois de um mês tentando provar sua inocência”, conta. “Aqui no Rio acabou de sair da cadeia também um conhecido que passou uns dois anos na cadeia por algo que ele não fez.”

“Também achei bizarro o que aconteceu com o Michael B. Jordan há um tempo”, diz, lembrando-se de um caso ocorrido em 2022. Na época, a Polícia Civil do Ceará incluiu uma foto do astro americano de filmes como “Pantera Negra” (2018) em um catálogo de reconhecimento de suspeitos.
“Tipo, a galera não sabe nem o que tá falando, não sabe nem o que tá acusando, sabe?”, reclama. “Sou muito grato de poder dar a voz às pessoas que não têm voz nesse tipo de situação. Eu entendi como uma grande responsabilidade mesmo.”

Ele lembra que isso ocorre mais com pessoas pretas e que não dá para esquecer o viés racial quando estamos falando desse tipo de situação. “Quando você é um preto, um favelado, você é minoria”, afirma. “É difícil você combater algo que é maior que você e que vem acontecendo na nossa realidade, em todo o Brasil.”

Mesmo assim, diz torcer para que o público crie uma sensibilidade diferente sobre o assunto após acompanhar a trajetória do personagem e ver o outro lado dessa moeda. “Espero que mude o conceito de algumas pessoas, dessas que apontam o dedo e que acusam sem saber se algo é verdade”, afirma.

Sobre as cenas em que aparece andando de moto, Juan Paiva diz que não teve problemas de fazer porque é habilitado para dirigir esse tipo de veículo desde 2018. “Tirei carteira de moto e carro justamente por causa do trabalho, para não ter dublê”, conta. “Quero ser um artista que se arrisca em lugares. Então, dirigir, fazer cenas de ação, me colocar ali, eu acho que me conecta na história e traz uma memória emotiva que facilita quando a gente vai fazer qualquer tipo de cena.”

Até porque convites não têm faltado. Menos de uma década depois de sua estreia na televisão, em “Totalmente Demais” (2015), ele se destacou em quase todos os trabalhos que fez no audiovisual, de “Malhação – Viva a Diferença” (2017-2018) a “Um Lugar ao Sol” (2021), passando pelo filme “Nosso Sonho: A História de Claudinho e Buchecha” (2023), em que viveu o funkeiro de sucesso que perdeu o parceiro.

“É algo pelo qual eu venho lutando desde 8 anos de idade: que as pessoas possam assistir ao meu trabalho, à minha arte, de certa forma”, comemora. “E isso está acontecendo, então, acho que a palavra é gratidão mesmo. Estou muito feliz com tudo.”

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